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Cúpula de calor (por Mariana Caminha)

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Cúpula de calor (por Mariana Caminha)

A obsessão dos britânicos com o tempo provavelmente antecede em muito as discussões sobre mudanças climáticas — é quase um passatempo nacional. Ao longo dos anos trabalhando com eles, percebi que falar sobre o clima funciona como um “aquecimento” antes de qualquer reunião.

Mas o que antes era apenas small talk virou assunto sério no verão de 2022, quando o Reino Unido registrou, pela primeira vez, temperaturas acima de 40 °C. Agora, em 2025, o país se prepara para reviver o drama.

A nova onda de calor chegou não só à Inglaterra, mas também à Europa Ocidental e aos Estados Unidos, onde cerca de 150 milhões de pessoas enfrentam temperaturas extremas neste momento.

Na Itália, cidades como Nápoles e Palermo se preparam para temperaturas de até 39 °C. Na Sicília, foram impostas restrições ao trabalho ao ar livre nos horários mais quentes do dia, devido ao risco à saúde.

Tudo indica que, entre os eventos climáticos extremos, as ondas de calor são os que os cientistas conseguem relacionar de forma mais consistente às mudanças climáticas causadas pela queima de combustíveis fósseis. À medida que o planeta aquece, a probabilidade de ocorrências de calor extremo cresce de maneira significativa.

Hoje, essas ondas de calor já acontecem em um cenário de aquecimento global de 1,2 °C, com a perspectiva de eventos ainda mais severos nas próximas décadas, à medida que as médias globais continuam subindo. O prognóstico sombrio tem sido pauta constante na mídia internacional.

Fredi Otto, climatologista que lidera o projeto World Weather Attribution, não hesita ao classificar as ondas de calor como verdadeiras “assassinas silenciosas”. Segundo dados do Programa Copernicus, a mortalidade relacionada ao calor aumentou 30% nos últimos 20 anos na Europa.

Vale lembrar que em julho de 2023, a Organização Mundial da Saúde declarou, pela primeira vez na história, a crise climática e os eventos extremos como emergências de saúde pública.

A argentina Celeste Saulo, secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial, afirmou ontem: “Precisamos aprender a viver com o calor extremo.” Ela sabe, assim como os cientistas, que a tendência é de piora se as mudanças climáticas não forem contidas. E a mensagem é clara: a única forma real de frear o aquecimento global é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Provavelmente, o maior desafio que humanidade já enfrentou.

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