Líderes do Senado avaliam que o posicionamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) está isolando a oposição aliada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dentro do Congresso. O filho “03” do ex-chefe do Executivo subiu o tom contra os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e disse que ambos poderiam ter seus vistos cassados pelo governo de Donald Trump.
Na ala próxima a Bolsonaro, o sentimento é de preocupação. Líderes bolsonaristas, ouvidos sob cautela pelo Metrópoles, avaliam que a recente operação contra Bolsonaro, a proibição de contato entre pai e filho, o uso de tornozeleira eletrônica e o congelamento de contas bancárias “radicalizaram” o deputado que está nos EUA ainda mais.
Na sexta-feira (25/7), Eduardo anunciou que Alcolumbre e Motta poderão sofrer sanções dos EUA caso não pautem o PL da anistia e o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. Um líder próximo ao ex-presidente chamou a condição de Eduardo de “absurda”. Um líder próximo ao ex-presidente chamou a condição de Eduardo de “absurda”.
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O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
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Deputado Eduardo Bolsonaro
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Eduardo Bolsonaro disse que Moraes quer prender Bolsonaro ainda em 2025
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O deputado federal Eduardo Bolsonaro comemorou ataque de Lula
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Caciques partidários salientam que a postura do deputado federal vai dificultar a articulação por projetos prioritários para a direita dentro do Congresso na volta do recesso parlamentar em 4 de agosto. A possibilidade é encarada até mesmo pelas pessoas mais próximas a Eduardo, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
“Eu acho que pode atrapalhar dependendo de como vai ser a reação do presidente Davi […] Eu sou sempre do diálogo de construir, de conversar. Mas quando há uma intransigência e nada mais pode ser feito, eu só enfatizo de novo. É uma possibilidade que pode ser que esteja lá na mesa do Trump, mas a gente não tem nenhum controle sobre isso”, disse ao Metrópoles na quarta-feira (22/7).
O próprio Bolsonaro tem demonstrado preocupação com a conduta de Eduardo a aliados. Em conversas nos últimos dias, o ex-presidente tem cobrado firmeza na defesa de sua inocência e contra as medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, mas “sem apelar”.
Há uma ala do PL que tenta se afastar do tarifaço e enfatizar a suposta perseguição do Judiciário contra Bolsonaro para justificar as suas ações. Durante uma coletiva de imprensa da oposição na Câmara, na terça-feira (22/7), por exemplo, um grupo de deputados estendeu uma bandeira de Trump e foi desautorizado pelo líder da bancada, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
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Governistas esperam efeito rebote
Líderes ligados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticam duramente as propostas defendidas por Eduardo Bolsonaro. A leitura é que o deputado federal quer “vingança” por ações da Justiça contra o pai a qualquer custo. Um líder chamou a conduta do deputado de “autodestruição política”.
A pesquisa Quaest divulgada no início do mês aponta que 72% dos brasileiros discordam da atitude do presidente dos EUA, Donald Trump, em impor tarifaço por acreditar em perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Outros 57% acreditam que ele não tem direito de criticar o processo no qual o ex-presidente é réu, no Supremo Tribunal Federal (STF), pela suposta trama golpista.
Pesquisas divulgadas nos dias que seguiram o tarifaço de Trump mostraram que o bolsonarismo foi impactado pela defesa da taxação nas redes sociais. O governo Lula começou a retomar a popularidade e voltou a liderar os cenários de 1º turno do ano que vem– cenário que anima os governistas.
Já nomes do chamado centrão satirizam a escalada de Eduardo e afirmam que a movimentação “jogou o Hugo e o Davi no colo do Lula”, em referência a uma eventual aproximação na relação que ficou estremecida depois do impasse sobre o aumento do IOF.
Apesar do PL ter a maior bancada na Câmara e a 2ª maior no Senado, líderes de centro avaliam que eles não teriam força para avançar com a anistia e o impeachment de Moraes, pois as pautas ficaram desidratadas por causa do tarifaço.
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O deputado Eduardo Bolsonaro comemorou restrições dos EUA a Moraes
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Eduardo Bolsonaro apresentou projeto na Câmara para regulamentar influenciadores que divulgam apostas
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados3 de 3
Eduardo Bolsonaro segura foto do delegado Fábio Shor durante pronunciamento na Câmara
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Alcolumbre em silêncio e Motta cauteloso
A operação contra Bolsonaro e a consequente subida de tom adotada por Eduardo se deram durante o recesso parlamentar. Desde o início das “férias” o presidente Davi Alcolumbre tem aparecido pouco, mas foi depois que a PF entrou na casa de Bolsonaro que o presidente do Congresso deixou de atender ao telefone.
Um líder bolsonarista disse à reportagem que ligou para Alcolumbre depois da operação, na tentativa de sensibilizar o presidente sobre a situação. Não foi atendido. Outro líder, dessa vez do centrão, mandou mensagem para ele ainda na sexta-feira depois das ameaças de Eduardo. A mensagem sequer foi entregue pelo aplicativo de mensagens Whatsapp.
Motta também tem se mantido fora do radar, mas ao ser provocado por Sóstenes depois de proibir as comissões de se reunirem no recesso, Motta disse à CNN que tomou a decisão por zelar pela pluralidade dos integrantes dos grupos que não estavam em Brasília por causa do recesso.