Parece que alguns males realmente vêm para o bem. Recentemente, sandálias da coleção primavera/verão 2026 masculina da Prada (imagem em destaque) viralizaram após comparações com as Kolhapuri chappals indianas, gerando acusações de apropriação cultural. A grife italiana admitiu a inspiração posteriormente, mas a polêmica teve um “plot twist” ainda mais curioso: após o caso, as vendas dos artesãos locais aumentaram na Índia.
O mercado de Kolhapuris tem sofrido com o aumento da demanda por calçados mais sofisticados, mas a situação pode mudar agora. Vem saber os detalhes sobre os desdobramentos desta polêmica fashion!
Vendas impulsionadas
A atenção global em torno da suposta apropriação cultural, além de ter feito a Prada se posicionar sobre o assunto, ajudou a promover as versões vendidas pelos artesãos indianos, que fabricam as Kolhapuri há séculos. Segundo a Reuters, em poucos dias, os modelos originais chegaram a custar cinco vezes mais que a média do preço tradicional.
Na Índia, de acordo com a agência, há cerca de 7 mil artesãos que produzem as sandálias, tradicionalmente feitas de couro e costuradas à mão, principalmente em distritos dos estados de Maharashtra e Karnataka. O governo indiano disse, em 2021, que as exportações do calçado têm potencial para gerar US$ 1 bilhão por ano.
Alguns negócios locais, como as marcas Ira Soles e Niira, chegaram a usar o hype em torno da sandália para fazer anúncios nas redes sociais e oferecer descontos nas Kolhapuris autênticas. O design é reconhecido desde 2019 com o selo de Indicação Geográfica, que atribui a origem local a produtos e serviços.
Inspiração não creditada (até então)
A Prada, que não tem lojas na Índia, não tinha feito menção ao país na ocasião do desfile, realizado no Milão Fashion Week. Como resultado, pessoas usaram as redes sociais para criticar a inspiração sem os devidos créditos. A coleção, por Miuccia Prada e Raf Simons, carrega um conceito de “uma contribuição com algo genuíno e agradável”.
Após a polêmica, a grife atribuiu oficialmente a inspiração ao calçado centenário indiano e informou que fará reuniões com artesãos locais do país, que devem fabricar as sandálias para a grife, caso sejam disponibilizadas para venda. A colaboração pode ajudá-los a reviver a tradição e receber mais pelas peças, já que a marca trabalha com os altos preços do mercado de luxo.
Na galeria abaixo, veja as fotos da passarela:
Desfile masculino de primavera/verão 2026 da Prada, na Semana de Moda de Milão
Estrop/Getty Images2 de 7
Desfile masculino de primavera/verão 2026 da Prada, na Semana de Moda de Milão
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Giovanni Giannoni/WWD via Getty Images4 de 7
Desfile masculino de primavera/verão 2026 da Prada, na Semana de Moda de Milão
Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images5 de 7
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Desfile masculino de primavera/verão 2026 da Prada, na Semana de Moda de Milão
Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images7 de 7
Desfile masculino de primavera/verão 2026 da Prada, na Semana de Moda de Milão
Giovanni Giannoni/WWD via Getty Images
Posicionamento da Prada
Em posicionamento encaminhado para a Câmara de Comércio de Maharashtra, a Prada não deu certeza se haverá venda das sandálias, afirmando que elas estariam nos estágios iniciais de concepção. O texto foi uma resposta a um grupo comercial que reúne 3 mil artesãos produtores, cujo diretor se queixou sobre a referência não creditada.
“Reconhecemos que as sandálias são inspiradas no calçado artesanal tradicional indiano, com uma herança secular”, diz a carta assinada, citada pela Reuters. A marca, por meio de um porta-voz do Grupo Prada, também afirmou que “sempre celebrou o trabalho artesanal, o patrimônio e as tradições de design”.
Confiança em jogo
Na avaliação de Renee Lima, consultora de mercado de luxo, transformar um símbolo cultural em produto sem reconhecimento e diálogo com os criadores originais enfraquece a autoridade das marcas. Dessa forma, prejudica o prestígio, construído com base em valores como memória, significado e um fator fundamental: a confiança.
“Espera-se que marcas como a Prada assumam uma postura ativa na valorização das culturas que as inspiram, abrindo espaço para colaborações legítimas, trocas autênticas e reconhecimento efetivo”, comenta a especialista. “Quando isso não acontece, o que está em jogo não é apenas uma coleção ou uma temporada. É o lugar que a marca ocupa, ou deixa de ocupar, no imaginário de quem constrói o futuro do luxo.”