Os senadores democratas norte-americanos Jeanne Shaheen e Tim Kaine lideraram um grupo de congressistas que enviaram, nesta sexta-feira (25/7), uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressando “sérias preocupações com suas ameaças de iniciar uma guerra comercial com o Brasil”. Trump impôs tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros.
Segundo os congressistas de oposição, uma guerra comercial com o Brasil “aumentaria os custos para as famílias americanas”. O grupo destaca, ainda, que discorda da imposição de Trump que, para iniciar uma negociação com o Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) deveria encerrar o processo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Bolsonaro enfrenta acusações criminais por tentar liderar um golpe violento, semelhante ao de 6 de janeiro (invasão do Capitólio, nos EUA)”, afirmam os senadores.
Eles expuseram também, na carta, que os americanos importam mais de US$ 40 bilhões anualmente do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio entre EUA e o Brasil sustenta quase 130 mil empregos nos Estados Unidos.
“Uma guerra comercial com o Brasil tornaria a vida mais cara para os americanos, prejudicaria as economias americana e brasileira e aproximaria o Brasil da China — tudo, porque o presidente dos Estados Unidos quer corromper um processo judicial estrangeiro para ajudar seu amigo pessoal”, apontam.
Bolsonaro na decisão de Trump
Segundo os parlamentares, os EUA e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. “No entanto, a ameaça de tarifas por parte de sua Administração claramente não se dirige a isso. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral, visto que os EUA tiveram um superávit comercial de bens de US$ 7,4 bilhões com o Brasil em 2024, e não registram déficit desde 2007.”
Para os democratas, a ameaça de Trump de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e ordenar ao Representante de Comércio dos EUA que inicie uma investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio “têm como principal objetivo forçar o sistema judiciário independente do Brasil a interromper o processo judicial contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro”.
De acordo com eles, no entanto, “interferir no sistema jurídico de uma nação soberana estabelece um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas sob risco de retaliação”.
Segundo a carta, “utilizar o peso total da economia americana para interferir nesses processos em nome de um amigo representa um grave abuso de poder, enfraquece a influência americana no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região”.
Veja imagem da carta:
Leia também
-
Trump: tarifa de 50% é para países que “não têm se dado bem” com EUA
-
Tarifaço de Trump: entenda impacto econômico no Brasil da taxa de 50%
-
Após taxa de 50%, brasileiros invadem Instagram de Trump, que reage
-
Trump cumpre promessa e anuncia tarifa de 50% para produtos do Brasil
Aproximação forçosa com a China
Os congressistas afirmam que uma guerra comercial com o Brasil também empurrará o país para mais perto da República Popular da China (RPC), justamente
“em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina”.
“Empresas estatais e vinculadas ao Estado chinês estão investindo fortemente no Brasil, incluindo diversos projetos portuários em andamento. Recentemente, o China State Railway Group firmou um Memorando de Entendimento (MoU) para estudar um projeto ferroviário transcontinental”, apontam os senadores.
A carta enfatiza, ainda, que as “considerações não se aplicam apenas ao Brasil. Em toda a América Latina, a RPC está trabalhando para expandir sua influência por meio da Iniciativa Cinturão e Rota”.
“Estamos preocupados que suas ações para minar um sistema judiciário independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana na região e confiram maior credibilidade à agenda das autoridades e empresas estatais chinesas. A mesma tendência também ocorre no Leste e Sudeste Asiático”, reforçam os senadores.
Lista de senadores que assinam a carta:
- Tim Kaine
- Jeanne Shaheen
- Adam B. Schiff
- Richard J. Durbin
- Peter Welch
- Kirsten Gillibrand
- Mark R. Warner
- Catherine Cortez Masto
- Michael F. Bennet
- Jacky Rosen
- Raphael Warnock