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    Entenda os bastidores da crise diplomática entre Brasil e Israel

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    A crise diplomática entre Brasil e Israel ganhou um novo capítulo nesta semana. O governo brasileiro ingressou em uma ação judicial na Corte Internacional de Justiça (CIJ) que denúncia um possível genocídio de palestinos na Faixa de Gaza.

    Tensão entre Brasil e Israel

    A decisão do governo Lula, antecipada há alguns dias pelo ministro Mauro Vieira, provocou críticas, e até mesmo um posicionamento oficial do Ministério das Relações Exteriores de Israel.

    Em nota, a chancelaria, o governo israelense chamou de “falha moral” o apoio do Brasil ao processo judicial apresentado pela África do Sul na CIJ — também conhecido como Tribunal de Haia —, em que Israel é acusado de cometer crimes de guerra no enclave palestino.

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    Além de ingressar no processo internacional, Brasil também se retirou da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), onde participava como membro observador desde 2021.

    Fontes ligadas à diplomacia israelense afirmaram, ao Metrópoles, que o governo brasileiro não deu explicações sobre o que motivou a saída do Brasil da organização, criada na década de 1990 para combater o antissemitismo.

    4 imagensLula planeja sancionar projeto sobre exportaçãoBenjamin NetanyahuFechar modal.1 de 4

    Daniel Zonshine, embaixador de Israel no Brasil, durante audiência na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados

    Vinicius Loures/Câmara dos Deputados2 de 4

    Lula planeja sancionar projeto sobre exportação

    Ricardo Stuckert / PR3 de 4

    Benjamin Netanyahu

    Reprodução/Redes sociais4 de 4

    Vinícius Schmidt/Metrópoles

     

    Brasil barra embaixador

    O recente episódio envolvendo Brasil e Israel surge no momento em que a relação entre os dois países pode ser oficialmente rebaixada, em virtude da saída do atual embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, do cargo.

    No Brasil desde 2021, o diplomata está de malas prontas para deixar a representação diplomática, e se aposentar. Interlocutores afirmam que o embaixador, no Brasil desde 2021, deve deixar o país no próximo mês.

    Gali Dagan, que recentemente ocupou o cargo de embaixador de Israel na Colômbia, foi indicado pelo governo de Benjamin Netanyahu para assumir a missão diplomática israelense no Brasil. O Itamaraty, contudo, tem segurado o agrément — consentimento para um enviado assumir uma embaixada — desde o início do ano.

    Tecnicamente, caso o governo brasileiro não dê aval para Dagan assumir o posto, as relações entre Brasil e Israel serão automaticamente rebaixadas. Isso porque, no mundo diplomático, manter uma embaixada sem um embaixador é visto como um sinal de descontentamento de um país em relação a outro.

    Rebaixamento já acontecia nos bastidores

    O possível rebaixamento nas relações entre Brasília e Tel Aviv é uma medida defendida por alas pró-palestina, e em círculos dentro do próprio governo federal, como forma de pressionar Israel a cessar a violência contra palestinos em Gaza. Até o momento, o número de mortos na região gira em torno da casa dos 60 mil, em uma situação que se agrava, a cada dia, não só por conta das operações militares, como também da fome. 

    Em junho, o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, embaixador Celso Amorim, chegou a defender publicamente que o Brasil deveria manter relações mínimas com Israel. O que, na prática, já vinha acontecendo.

    Segundo o costume diplomático, o Itamaraty costuma enviar representantes em eventos nacionais promovidos por embaixadas em Brasília. Mas, em relação a Israel, o hábito protocolar foi deixado de lado desde o início do governo Lula III.

    Exemplo recente aconteceu durante festa promovida pela embaixada israelense em celebração ao 77º aniversário da Independência de Israel. No evento, nenhum nome ligado ao Itamaraty foi visto transitando entre convidados.

    Por isso, fontes ligadas à diplomacia israelense  ouvidas pelo Metrópoles consideram que o rebaixamento na relação entre os dois países, defendida por alguns, já acontecia nos bastidores.

    Um dos últimos intercâmbios diplomáticos entre Brasília e Tel Aviv aconteceu no Congresso Nacional, durante o Dia Nacional de Lembrança do Holocausto. Para o evento, a chancelaria brasileira enviou o embaixador Clelio Nivaldo Crippa Filho, diretor do departamento de Oriente Médio do Itamaraty.