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    EUA: taxas de Trump aceleram inflação e pesam no bolso do americano

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    Os primeiros sinais concretos da chamada “guerra comercial” iniciada pelo presidente Donald Trump já aparecem nos dados econômicos dos EUA. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 2,7% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado — a maior alta desde fevereiro. Esse aumento ficou acima do esperado e representa um avanço em relação aos 2,4% registrados em maio.

    Os setores mais afetados são justamente aqueles expostos às tarifas aplicadas pelo governo americano contra seus principais parceiros comerciais.

    Produtos como eletrodomésticos, roupas e móveis registraram aumentos expressivos: os eletrodomésticos, por exemplo, subiram 1,9% só em junho, ante 0,8% no mês anterior. Já móveis tiveram alta de 1%, e roupas aumentaram 0,4%, revertendo meses seguidos de queda nos preços.

    A inflação “núcleo” — que exclui alimentos e energia por sua volatilidade — também subiu 2,9% em relação ao ano anterior, com alta de 0,2% só no mês de junho. Esses dados indicam que a guerra tarifária já está pressionando diretamente o custo de vida dos americanos, com impactos que podem se espalhar para outros setores e influenciar o ritmo da economia.

    Impacto sobre produtos brasileiros

    Um dos capítulos mais recentes dessa guerra comercial envolve o Brasil. O governo Trump ameaçou impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir do próximo mês, incluindo itens que são pilares da pauta exportadora brasileira, como café, carne bovina e suco de laranja.

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    No caso do café, o impacto pode ser ainda mais severo. Além da tarifa, o produto já enfrenta uma alta global devido a condições climáticas desfavoráveis — como as secas recentes que reduziram a produção no Brasil e no Vietnã, dois dos maiores exportadores para os EUA.

    Segundo dados do Bureau of Labor Statistics, o preço médio de 450 gramas de café moído nos supermercados americanos já subiu de US$ 5,99 no ano passado para US$ 7,93 em maio deste ano.

    Com a tarifa de 50%, o preço do café deve ficar ainda mais caro para o consumidor americano, o que deve afetar também o consumo em cafeterias e restaurantes. Para o Brasil, essa medida pode significar queda nas exportações e prejuízos para o agronegócio, num momento em que o setor já enfrenta desafios climáticos e econômicos.

    Economistas alertam que, se Trump mantiver as novas tarifas previstas para entrar em vigor no dia 1º de agosto — que também atingirão União Europeia, Canadá, México, Japão, Coreia do Sul e Tailândia — a alta dos preços poderá se generalizar ainda mais, reduzindo o consumo e elevando o risco de recessão nos Estados Unidos.

    Demissões em massa

    Além dos efeitos da inflação, os americanos terão que lidar com as consequências do enxugamento dos departamentos federais de saúde e educação. Nesta semana, o Departamento de Saúde dos EUA formalizou a demissão de milhares de funcionários, após a Suprema Corte suspender uma liminar que impedia esses cortes.

    A agência havia anunciado anteriormente o desligamento de 10 mil servidores, com outros 10 mil saindo voluntariamente. Com a decisão judicial, as demissões foram efetivadas, representando cerca de 25% da força de trabalho do setor.

    No Departamento de Educação, a Suprema Corte também autorizou a demissão de aproximadamente 1.400 funcionários, derrubando uma decisão de um tribunal inferior que bloqueava os cortes.

    Essas demissões fazem parte de uma estratégia mais ampla do governo para reduzir o tamanho da máquina pública, alinhada à agenda de descentralização do controle federal, especialmente sobre a educação.

    Embora o principal objetivo dessas demissões seja reduzir os gastos federais, elas podem afetar negativamente a capacidade do governo de prestar serviços essenciais em áreas fundamentais, justamente num momento em que o país enfrenta alta do custo de vida e incertezas econômicas.

    Além disso, a redução do quadro de funcionários públicos pode diminuir a renda disponível dessas famílias, reduzindo o consumo e contribuindo para a desaceleração da economia americana.