Moscou identificou a França como o “seu principal adversário na Europa”, disse o chefe do Estado-Maior francês, Thierry Burkhard, nessa sexta-feira (11/7), citando o apoio de Paris à Ucrânia, invadida pela Rússia. Enquanto isso, em Kuala Lumpur, na Malásia, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, declarou ter exposto o posicionamento do presidente russo, Vladimir Putin, sobre a guerra na Ucrânia ao secretário de Estado americano, Marco Rubio.
Os dois se encontraram à margem de uma reunião da Asean, a Associação dos Estados da Ásia do Sudeste. Sem fornecer mais detalhes, Rubio disse que a Rússia propôs uma “nova ideia” que pode ser uma “saída potencial” para o conflito.
Um pouco antes Moscou anunciou ter interceptado 155 drones ucranianos na região de Lipetsk, no oeste do país, ataques que deixaram três mortos. Esta ofensiva ucraniana ocorre após uma série de ataques massivos de drones russos contra a Ucrânia, principalmente em Kiev, e em um momento em que Moscou está quebrando recordes semanais de número de drones disparados, fornecidos por uma indústria de defesa em plena capacidade.
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Nesta sexta-feira, bombardeios russos na Ucrânia feriram cerca de quinze pessoas e atingiram uma maternidade em Kharkiv.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia é acompanhada de perto pelos países europeus, em especial a França, considerada pelo líder russo como um adversário. “Foi [Vladimir] Putin quem disse isso”, enfatizou nesta sexta-feira o general Burkhard durante uma rara coletiva de imprensa do militar, dedicada a falar sobre as ameaças que a França enfrenta atualmente. “Isso não significa que ele [Putin] não esteja preocupado com outros países”, acrescentou.
A França, uma potência nuclear protegida por seu sistema de dissuasão, não está ameaçada por “um ataque direto e pesado ao seu território nacional”, mas a Rússia tem “muitas opções” por meio de ações híbridas, incluindo desinformação, ataques cibernéticos ou espionagem, argumentou o general francês. Como uma “potência perturbadora”, a Rússia “é parte interessada em todas as ameaças”, seja sabotagem de infraestrutura submarina, campanhas de desinformação na França ou na África, atos de espionagem ou mesmo no espaço, com “manobras de satélites russos para interromper trajetórias de nossos satélites, ou para bloqueá-los ou para espioná-los”, descreveu o militar sobre as possíveis ameaças.
Em relação às áreas marítimas, o oficial superior mencionou “submarinos de ataque nuclear russos que entram regularmente no Atlântico Norte e, às vezes, descem para o Mediterrâneo, obviamente buscando monitorar áreas que são importantes para nós, mas também para os britânicos”, outro grande apoiador da Ucrânia e um alvo importante para Moscou. “No ar, atritos e interações são frequentes”, enfatizou ele, com aeronaves russas no Mar Negro, “sobre a Síria”, no Mediterrâneo e “às vezes bem longe no Atlântico Norte”, apontou.
Em uma conversa por telefone no início de julho, depois de mais de dois anos sem dialogar, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ao líder russo, Vladimir Putin, que concordasse com um cessar-fogo na Ucrânia “o mais rápido possível”.
UE condena ataques russos
Nesta sexta-feira, a chefe de política externa da UE, Kaja Kallas, classificou os recentes ataques russos à Ucrânia como “inaceitáveis”, afirmando que Bruxelas considerava impor novas sanções contra Moscou.
Nos últimos dias, a Rússia realizou os maiores ataques com drones e mísseis contra o território ucraniano desde o lançamento de sua ofensiva, há mais de três anos. “A Rússia intensificou seus ataques contra civis para causar o máximo de sofrimento possível” e “isso é inaceitável”, disse Kallas, à margem da cúpula da Asean, em Kuala Lumpur.
Bruxelas considera uma 18ª rodada de sanções contra Moscou. “Também estamos negociando um teto para o preço do petróleo, o que privaria a Rússia dos meios para financiar esta guerra”, continuou a chefe de política externa da UE.
Questionada sobre as alegações de que Moscou planejava envolver militares do Laos para apoiar seus esforços na Ucrânia, Kallas disse ter recebido garantias de que o país asiático não tinha “nenhuma intenção ou disposição” de enviar ajuda militar à Rússia.
Reconstrução da Ucrânia
Enquanto isso, a 4ª Conferência Internacional de Doadores para a Reconstrução da Ucrânia entra em seu segundo dia em Roma. Na véspera, a União Europeia (UE) anunciou ter desbloqueado dois bilhões e € 300 milhões para ajudar Kiev a se reerguer.
Esta é a quarta vez que líderes internacionais se reúnem para discutir a reconstrução do país. O presidente ucraniano pediu que seus aliados invistam mais na defesa diante dos ataques russos.
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