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    Instituições sanguessugas e o Brasil (por Eduardo Fernandez Silva)

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    Por mais que os autodenominados sapiens queiram se diferenciar dos demais animais, as semelhanças entre eles são muitas. Por exemplo, as sanguessugas, cujo nome inicialmente gera certo pavor, têm, em comum com muitas das nossas instituições, alguma capacidade de fazer o bem.

    Os animais sanguessugas têm sido utilizadas na medicina há 3.500 anos! Na monetizada medicina ocidental caiu em desuso no século XX, embora não plenamente: como eles injetam nas vítimas das quais se alimentam uma substância anticoagulante e, ao chupar seu sangue, forçam a circulação em pontos exangues, ajudam a manter vivas as células e a restaurar o fluxo sanguíneo após, por exemplo, cirurgias reconstrutivas.

    A palavra sanguessuga descreve também o fato de tal animal sugar o sangue, a seiva da vida, dos animais dos quais se alimentam. Também este sentido se aplica a instituições brasileiras: aos clássicos três poderes e às demais forças que partilham o comando da Nação! Economista ganhador do Nobel identificou esse tipo de instituição – que chamou instituições extratoras – como causa da pobreza da maior parte da população mundial. Nos casos do Legislativo, Judiciário e Executivo brasileiros, além dos demais poderes, essa natureza perversa está presente há séculos e impede que se diga que o Legislativo represente os eleitores, o Judiciário garanta justiça, ou o executivo e as demais se pautem pelo bem comum.

    No Legislativo, as evidências da dissociação entre eleitos e eleitores são muitas. Citemos apenas três: primeiro, a renda de cada um dos seus membros, inclusive vereadores, é dezenas de vezes superior à da grande maioria dos ditos “representados”; segundo o patrimônio dos parlamentares é vezes maior que o dos eleitores; terceiro, os membros dos vários níveis do parlamento são réus em processos criminais em proporção bem maior que o restante da população.

    O “sanguissuguismo” das nossas instituições ficou claro com a crescente apropriação, pelos seus membros, do orçamento nacional, e pelo comportamento desavergonhado de seus membros ao se concederem vantagens exorbitantes: penduricalhos salariais e emendas cash-back, entre outras!

    Fará bem o presidente Lula se vetar o aumento do número de deputados federais e estaduais, como clama a população; fará ainda melhor se colocar o guizo no pescoço do gato e mostrar que temos não um problema de parlamentares em excesso, mas sim dois problemas: parlamentares com remuneração pornográfica, e parlamentares que, pelas razões citadas, não representam o conjunto dos brasileiros.

    Faria ainda melhor se, apesar dos riscos políticos decorrentes, defendesse que devemos restringir a remuneração dos parlamentares à média da população, e ampliar muitíssimo seu número, de forma a torná-los parecidos com e acessíveis aos eleitores.

    Seria um divisor de águas na história deste país, com potencial de renovar as instituições e retirar delas o caráter extrativo que impede rápidas melhorias na qualidade de vida da população!