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    Não chore por Bolsonaro, Brasil. Deixe ele chorar sozinho

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    Se ainda restasse a Jair Bolsonaro um pingo de vergonha, ele não teria chorado ontem, ou simulado chorar, ao ouvir a pregadora evangélica Michelle, sua mulher, dizer em uma cerimônia religiosa que o amava, e defendê-lo com palavras tocantes. Algemado a uma tornozeleira eletrônica, Bolsonaro sente-se humilhado e parece estar mais sensível do que de costume.

    Bolsonaro, sim, deveria ter chorado ao ficar sabendo, dali a horas, que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal o condenou a pagar R$ 150 mil e a se abster de “empregar conotação sexual a quaisquer situações envolvendo crianças e adolescentes, mediante palavras, gestos ou ações que as estigmatizam, as exponham ou as submetam a associação com práticas sexuais”.

    Suprema vergonha é isso, e não portar uma tornozeleira para que não fuja do país diante do risco de ser condenado e preso por cometer meia dúzia de crimes, entre eles, o de tentativa de golpe. Da sentença do tribunal do Distrito Federal, ele ainda pode recorrer. De uma eventual condenação pelo Supremo Tribunal Federal, ele não terá a quem recorrer. Fim de jogo.

    Ouvido por um podcast em outubro de 2022, Bolsonaro contou a visita que fez a uma casa em São Sebastião, lugar próximo ao Palácio da Alvorada, onde havia crianças e adolescentes venezuelanas:

    “Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na tua casa?’ Entrei”.

    “Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado, para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora?”

    Repórteres do site UOL encontraram logo depois uma das venezuelanas. Ela explicou que, quando Bolsonaro visitou o local, estava sendo promovido um curso de estética para refugiadas. E, entre as adolescentes, estavam sua filha e sua sobrinha.

    Quer dizer: na entrevista ao podcast, Bolsonaro transformou um projeto social em uma casa de aliciamento de meninas. E para quê? Para reforçar seu discurso moralista e atacar a Venezuela, um dos seus alvos favoritos. Poderia ter dito que se condoeu da situação das refugiadas. Mas, não. Confessou que, de sua parte, “pintou um clima”. Clima de quê? Não disse. Ato falho.

    Agradeça, Bolsonaro, ao ministro Alexandre de Moraes, o fato de continuar solto mesmo depois de ter desobedecido às medidas cautelares que ele lhe impôs. Você sabe o que pode ou não fazer, o que pode ou não dizer. Não peça novos esclarecimentos porque não terá. A Justiça posa de cega, mas isso é tudo o que ela não é.

     

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