Nove cavalos criados no haras Dia de Sol, na zona rural de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, morreram nos últimos dois meses após consumo de rações da empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda. De acordo com o proprietário da chácara, Marcos Barbosa, duas aconteceram nessa terça-feira (1º/7).
No local, o pesadelo começou em maio. “Meu haras tinha cerca de 30 animais, mas nove morreram e estou com mais oito em tratamento em casa, e cinco que estão em CTE [Centro de Treinamento e Estudos]”, detalha Barbosa. “Minha filha tem 15 anos e ela competia com a égua, que a gente tinha desde novinha”, lamenta.
Material cedido ao Metrópoles
Nove animais morreram no haras Dia de Sol, na zona rural de Guarulhos
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Os cavalos têm mudanças de comportamento e podem apresentar agressividade súbita
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Entre os sintomas observados no bichos, estão: desorientação, alterações de comportamento e mudanças na locomoção. “O primeiro é o apetite, eles perdem. Na sequência, eles começam a querer ficar prostrados, encostam a cabeça na parede, daqui a pouco eles começam a bater mesmo a cabeça na parede, morder”, detalha Marcos Barbosa.
“No primeiro caso, ninguém estava falando sobre a ração, pelo menos aqui na nossa cidade. A minha primeira égua morreu no dia 16, ela ficou ruim no dia 10, e os sintomas dela pareciam ser raiva, sendo que são todos vacinados, tudo certinho… acompanhados por veterinário”, explica.
O dono do haras disse que um representante da Nutratta foi ao local e chegou a confiscar 110 sacos da ração. De acordo com o comerciante, o próprio funcionário chegou a falar que se tratava de uma situação “criminal”.
“No dia em que ela [a primeira égua] morreu, começou a sair em grupos falando sobre a ração, aí eu liguei para o distribuidor”, conta Barbosa. “Pediu uma foto do lote da minha ração. Quando eu mandei, ele falou ‘é… suspende, porque é uma ração que está suspeita. Então, a indignação maior é isso: saber que eles sabiam… A gente está vendo relatos agora do mês 4”, indigna-se.
Logo no dia 16 de maio, o haras suspendeu o uso da ração de todos os cavalos. Os animais também passaram por exame de sangue e tomaram medicação necessária. “Alguns que não tinham sintomas nenhum, e os exames estavam bem, mas começaram a apresentar [sintomas] agora”, compartilha. “Todo o possível estamos fazendo, mas pedindo somente a Deus que nos livre desse sofrimento.”
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Dados alarmantes
No Brasil, já foram contabilizadas 650 mortes de cavalos depois de terem comido ração contaminada. Além disso, há 367 animais em tratamento intensivo e 212 sob observação clínica. Os dados são de um levantamento organizado pela advogada Maria Alessandra Agarussi, que representa centenas de criadores afetados.
Em São Paulo, o número atual é de 290 mortes e cerca de 250 em tratamento. A maioria dos casos foi registro no interior, em cidades como Campinas, Sorocaba, Itu, Jundiaí, Jarinu e Indaiatuba.
Em 17 de junho, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determinou o recolhimento de todos os produtos destinados a equídeos, fabricados a partir de 21 novembro de 2024. A pasta iniciou uma investigação para apurar as mortes. No dia 25 via ofício, comunicou a constatação da presença de substâncias tóxicas em rações para cavalos.
Ao Metrópoles, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que, até o momento, não há apurações policiais em andamento sobre o assunto.
Ração que matou cavalos
- Em 4 de junho, o Ministério da Agricultura havia suspendido a comercialização das rações fabricadas a partir de 8 de março deste ano. Na época, o número total de cavalos mortos era 63.
- As apurações foram iniciadas em 26 de maio.
- As mortes de cavalos após consumo de ração contaminada vem ocorrendo desde abril.
- A empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda. está sob investigação.
- A comercialização dos produtos foi suspensa por risco à saúde animal.
Segundo o Mapa, de acordo com a legislação vigente, o fabricante fica responsável, de imediato, a adotar medidas de autocorreção, com inclusive o recolhimento dos lotes afetados.
Procurada pelo Metrópoles via e-mail, WhatsApp e ligações, a empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda. não se manifestou sobre as mortes dos cavalos devido ao consumo de ração contaminada, até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para pronunciamentos.