Enquanto cobram do governo o corte de despesas em nome do equilíbrio das contas públicas, deputados federais e senadores aumentam os gastos destinados a beneficiá-los. Atuam, portanto, em causa própria. Querem exemplo maior de pouca-vergonha?
Uma vez que dizem se preocupar com o déficit fiscal, eles deveriam ser os primeiros a dar o bom exemplo, mas não. Só neste ano, as emendas parlamentares ao Orçamento da União somam R$ 50 bilhões a serem aplicados a critério deles, deputados e senadores.
Para onde todo esse dinheiro irá? Em grande parte, para a construção de pequenas obras nos redutos eleitorais deles. Uma fatia menor irá para regiões que nada têm a ver com os tais redutos. E por quê? Sabe-se lá. Alguns intuem.
Tudo ou quase tudo que envolve o chamado Orçamento Secreto administrado pelo Congresso prima essencialmente pela falta de transparência. Sabe-se disso há muito tempo. Não é sem motivo que cerca de 200 parlamentares estão sendo investigados.
Há 20 anos, o mensalão do PT (propina paga a deputados para que votassem como o governo queria) foi apresentado como o maior escândalo da história recente do país, um exagero. Fez-se o mesmo, depois, com o escândalo do Petrolão, esse de grande porte.
Se desvendado em toda a sua extensão, o escândalo do Orçamento Secreto baterá todos os que conhecemos até aqui. Quem poderia falar a respeito com maior autoridade seria o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal. Mas, por ora, ele não fala.
Deputados e senadores não parecem assombrados com o risco que correm. Seu apetite por dinheiro supera de longe o medo de serem denunciados e até presos. Ou então é a certeza da impunidade que os impele a seguir em frente. Temos uma tradição de impunidade.
Soou o apito de cachorro, desta vez soprado pelo presidente do Senado, David Alcolumbre (União-AP). Deputados e senadores querem a garantia do governo de que as emendas parlamentares ao Orçamento serão pagas antes da disputa eleitoral de 2026.
É o que interessa a eles. Ouvi, outro dia, de um deles, sob a condição de não revelar sua identidade: com o dinheiro das emendas, e mais o dinheiro dos fundos partidário e eleitoral, nem é preciso fazer campanha de verdade. Basta saber como aplicar bem o dinheiro.
Aplicar de modo a que sobre algum para encher-lhes os bolsos. A política virou um negócio estupendo.