Quem assistiu à cinebiografia Homem com H talvez se lembre de que Ney Matogrosso passou parte da juventude em Brasília. O que poucos sabem é que, nos anos 1970, ele chegou a ser proibido de pisar na capital federal por dois anos.
A revelação foi feita pelo próprio cantor em entrevista recente ao Canal Brasil. “Oficialmente, tinha uma relação de pessoas vetadas, que não podiam ir a Brasília”, contou ele, ao lembrar da perseguição que sofreu durante a ditadura militar.
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Ney incomodava não só pelas músicas com o grupo Secos & Molhados, mas também pela postura transgressora e pelo visual andrógino, que desafiava os padrões da época. Mesmo após o veto ser suspenso, o artista continuou sofrendo com restrições.
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“Quando eu fiz o show do meu primeiro disco solo, eles não me deixaram ir para teatro nenhum. Eu fui parar no ginásio de uma escola Dom Bosco, onde nunca tinha acontecido show nenhum”, relatou. O álbum, Água do Pássaro, foi lançado em 1975.
Situação parecida se repetiu com o show do disco Bandido, lançado no ano seguinte. “Eles também me proibiram de todos os lugares. Me liberaram lá no Iate Clube. Aí sim, eu tinha um número de plateia. Quando eu desci na plateia, todos de terno me olhando feio. E eu passava por eles requebrando”, disse Ney, em tom de deboche.
Mesmo ciente dos perigos e das atrocidades cometidas pelo regime, Ney afirma que não sentia medo. “Nenhum medo. Eu tinha tanto ódio deles”, declarou.
Segundo o cantor, ele sabia que a repressão não era apenas simbólica. “Eu sabia que eles jogavam gente viva dos aviões na Restinga da Marambaia. Sabia de tudo. Sabia da Operação Condor. A gente sabia de tudo.”