A experiência de amar diferentes pessoas simultaneamente é mais comum do que parece. É o que explica a psicóloga Izabelle Santos. Para ela, o afeto múltiplo, como denomina, não é um sinal definitivo do poliamor, que corresponde a uma relação afetiva e/ou sexual que envolve mais de duas pessoas ao mesmo tempo, independendo de gênero e orientação afetivo-sexual. Ele pode acontecer de forma espontânea e até mesmo causar sofrimentos.
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De acordo com a especialista, partindo do ponto de vista biológico, o amor romântico não é um sentimento único e fechado. Isso porque o conjunto de processos neuroquímicos afetivos, que chamamos de amor, é composto por homônios como a dopamina, a ocitocina e a vasopressina — ligados ao prazer, ao apego e ao vínculo. “Nada no funcionamento do nosso cérebro determina que esses sentimentos só possam ser direcionados a uma única pessoa”, pontua.
Ao contrário do que possa parecer, sentir que está apaixonado por mais de um indivíduo e ser monogâmico é possível, conforme explica Santos. “Isso não significa, automaticamente, que alguém seja poliamoroso”, afirma.
Como saber diferenciar?
O poliamor não é caracterizado apenas pelo sentimento direcionado a múltiplas pessoas. A prática está mais ligada a uma identidade relacional. A terapeuta explica que o formato é uma escolha consciente, ética e consensual de se envolver com mais de uma pessoa — com transparência, respeito mútuo e maturidade emocional.
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Em contraponto, o afeto múltiplo pode acontecer de forma espontânea, inesperada e, muitas vezes, causar grande sofrimento. “Especialmente, quando se está em uma relação monogâmica e comprometida”, descreve Santos.
Para a profissional, os acordos são os responsáveis por diferenciar esses comportamentos. Enquanto na prática poliamorosa, é necessário vivenciar a experiência com responsabilidade afetiva e regras bem definidas entre os envolvidos, o afeto múltiplo se restringe a um movimento interno de emoções. “Que pode gerar culpa, dúvidas e conflitos com os próprios valores”, explica.
Amo mais de uma pessoa, mas sou monogâmico, e agora?
De acordo com a psicóloga, quando alguém que se identifica como monogâmico está preso em uma dinâmica na qual gosta de mais de uma pessoa ao mesmo tempo, é preciso se acolher e se escutar, indo além de uma possível percepção moral, sem julgar o sentimento, mas compreendendo-o com honestidade.
“O sentimento em si não é uma falha moral, mas o que fazemos com ele requer responsabilidade emocional“, adverte a especialista.
Santos finaliza adicionando que o caminho do autoconhecimento é indispensável para entender de onde vem o sentimento, seja ele uma carência emocional, um desejo de liberdade, ou mesmo um rompimento entre desejo e compromisso.