Portal Estado do Acre Notícias

Quais impactos os acordos dos Brics trarão para o Brasil na prática

quais-impactos-os-acordos-dos-brics-trarao-para-o-brasil-na-pratica

Quais impactos os acordos dos Brics trarão para o Brasil na prática

A 17ª Cúpula de Líderes do Brics se encerrou nessa segunda-feira (7/7) após dois dias de discussões sobre conflitos geopolíticos, meio ambiente, entre outros temas de interesse internacional. Ao final do evento, os representantes dos países assinaram quatro comunicados, que tratam do financiamento para combate às mudanças do clima, inteligência artificial, cooperação em saúde, além da declaração final — esta última, envolta em polêmicas.

O que é o Brics?

Haroldo Ramanzini Junior, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), avalia que a participação do Brasil nos Brics é estratégica, uma vez que o país se alinha ao pleito por renovação de vozes nas instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU.

“A atuação na Presidência dos Brics fortaleceu a posição do Brasil como ator global com credenciais diplomáticas sólidas e que defende o multilateralismo, a paz, o desenvolvimento sustentável e as normas internacionais”, explica Ramanzini.

Leia também

O professor da UnB ainda destaca a cooperação científica para produção de vacinas e o combate a doenças socialmente determinadas. “São todas dimensões com potencial de impacto concreto na melhoria da vida das populações. Além disso, o Brasil se beneficia do fato de ser membro fundador e fazer parte do Novo Banco de Desenvolvimento, também chamado de Banco dos Brics, que já financiou (e financia) uma série de projetos no país.”

Distância?

Eduardo Galvão, professor de relações internacionais do Ibmec e diretor de Public Affairs da consultoria global Burson, destaca que apesar da declaração parecer distante da vida do cidadão comum, ela pode afetar de forma direta a saúde, economia e proteção do meio ambiente dos países envolvidos.

“O grupo quer garantir que países emergentes tenham acesso mais justo a financiamentos internacionais. Isso pode se traduzir, na prática, em empréstimos com juros mais baixos para infraestrutura, educação, saúde e inovação. Quando o dinheiro circula com menos amarras, os serviços públicos chegam com mais força”, destaca Eduardo Galvão.

Na mesma linha, Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), avalia que a defesa de reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), defendida na declaração, pode impactar na aquisição de crédito pela população geral.

“Pode ter um impacto na busca de maior representatividade e voz para os países em desenvolvimento na governança da instituição. Para as finanças dos países membros, eu diria que o acesso mais justo à linha de financiamento, com menor imposição de políticas que dificultam o desenvolvimento nacional”, enfatiza Pimentel.

“Uma maior previsibilidade e estabilidade nos fluxos financeiros internacionais, caso a reforma contemple mudanças na forma de alocação dos direitos especiais de saque – uma moeda que existe e que ajuda muito nessa governança internacional – também pode ser benéfica. E, dependendo das circunstâncias e das condições, uma redução da dependência de fontes externas com juros mais altos pode ocorrer, se ampliar a capacidade de resposta do FMI às crises nos países em desenvolvimento, com instrumentos mais eficazes para atender esses países”, finaliza Fernando Pimentel.

Divergências

O texto da cúpula chamou a atenção por condenar os ataques ao Irã, no último 13 de junho, sem mencionar os responsáveis pela ofensiva: Estados Unidos e Israel. O documento também sugere que a solução para o conflito na Faixa de Gaza passa pelo reconhecimento dos dois Estados, Israel e Palestina. O ponto gerou críticas do chanceler do Irã, que participava do encontro de líderes. “A solução de dois Estados, que vem sendo repetida há anos, não chegou a lugar nenhum”, disse.

Os Estados Unidos também foram poupados no trecho que tratou sobre o aumento das taxações no comércio internacional. O documento expressa preocupação com o “aumento indiscriminado de tarifas”, mas não cita as políticas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Apesar disso, após a divulgação do comunicado, o republicano ameaçou impor taxas de 10% a “qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas do Brics”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu, afirmando que os países têm direito de aplicar o princípio da reciprocidade.

Durante a cúpula, Lula defendeu, em diferentes momentos, o multilateralismo, com a participação dos países na discussão de medidas econômicas. Essa ação do petista tem se repetido em diferentes fóruns internacionais, diante da ascensão de Donald Trump e a defesa do protecionismo.

Eduardo Galvão salienta ainda que a rejeição ao protecionismo pode abrir novos mercados aos produtores brasileiros, com expectativa de redução de preço para o consumidor final. “Diplomacia pode parecer distante até o dia em que ela define o preço da energia, o remédio que chega ao posto de saúde ou o mercado que compra o café da sua região. O desafio agora é transformar promessas em políticas reais e garantir que o multilateralismo funcione não só entre governos, mas também para quem mais precisa dele: o cidadão comum.”

Sair da versão mobile