MAIS

    Sem base, governo não consegue sequer pautar fim da escala 6X1

    Por

    No discurso do governo, o projeto do fim da escala 6×1 já é uma realidade. Porém, na prática, não avançou um milímetro no Congresso.

    Sem base de apoio, o texto não recebeu sequer um relator — primeiro passo para começar a ser analisado pelos deputados.

    Leia também

    A proposta foi protocolada em 25 de fevereiro deste ano e só é lembrada nos palanques.

    O texto, de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), estabelece a jornada de trabalho de quatro dias por semana. Pesquisa Genial/Quaest mostrou que esse é o projeto mais conhecido dos brasileiros em relação ao governo Lula. Seis em cada dez entrevistados disseram apoiar a medida.

    Outras propostas que contam com maior esforço do governo para aprovação são menos conhecidas do que essa, como a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a ampliação do Vale Gás e a isenção da conta de luz para a população de baixa renda. Em comum, nenhuma delas foi aprovada até agora.

    Em abril, o presidente Lula afirmou que seu governo iria “aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho vigente no país, em que o trabalhador e a trabalhadora passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso”.

    imagem colorida de Hugo Motta, na Câmara dos DeputadosPresidente da Câmara, Hugo Motta, conversa com líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE), no plenário da Câmara

    O discurso continuou: “Está na hora de o Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras.”

    Governo apoiou Hugo Motta para presidência da Câmara

    Para que o fim da escala 6X1 comece a ser analisado na Câmara, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), precisa indicar um deputado responsável por analisar o texto e apresentar um parecer recomendando sua aprovação ou rejeição, para que os demais votem. A proposta foi apresentada em fevereiro e, cinco meses depois, nada.

    Parlamentares que, à época da eleição para o comando da Câmara, defenderam que o PT não apoiasse um nome do centrão, agora dizem que não adianta reclamar de Motta.

    Até então diplomático, a relação do governo com Motta esfriou após ele pautar a derrubada do decreto que aumentava o IOF da noite para o dia. Seus interlocutores dizem que essa foi apenas a primeira de uma série de derrotas que o governo deve sofrer daqui em diante.

    O ano pré-eleitoral, os interesses contrariados dos parlamentares e a pressão do empresariado e setor financeiro explicam esse movimento — assim como a falta de interlocução do governo com o Congresso. Como mostrou a coluna, a ministra Gleisi Hoffmann, da articulação política, privilegia deputados do PT e não do centro, que tem maioria no parlamento.

    Hilton diz que caso dos maquiadores é tentativa de barrar revisão do 6×1

    A autora da proposta também não tem interlocução com os colegas da Câmara, o que ajudaria a deslanchar a votação.

    Como revelou o Metrópoles, a deputada nomeou seus dois maquiadores para o gabinete. Ela admite que eles a maquiam de vez em quando, mas nega que tenham sido contratados com esse objetivo.

    Nos vídeos gravados para contestar a reportagem, afirmou que enxergou nos ataques uma tentativa de impedir o avanço do fim da escala 6×1.

    A oposição entrou em massa com pedidos de investigação da deputada por desvio de função dos assessores parlamentares, conta-se nos dedos os deputados que saíram em sua defesa, o que mede sua (im)popularidade na casa.