O senador Cid Gomes (PSB-CE) disse à coluna que na “boca miúda” políticos citam a existência de um esquema de cobrança por parlamentares para indicar emendas parlamentares para municípios brasileiros.
A fala do senador se dá após o seu aliado, o deputado federal Júnior Mano (PSB-CE) ser alvo de uma operação da Polícia Federal sobre suposto desvio de emendas.
Cid Gomes não especifica nenhum político ou cidade onde tenha ocorrido a cobrança de uma porcentagem para a liberação de emendas, mas disse ter ouvido que a cobrança é de até 15% do valor a ser enviado para os municípios.
À coluna, ele se limitou a citar que os comentários existem e circulam no meio político.
“E assim, na boca miúda, você ouve muitas conversas. Na boca miúda -eu não vou entrar nessa polêmica, eu não tenho elementos de prova -mas na boca miúda não falta pessoas que digam, e dizem isso em rodas, etc, etc, que fulano de tal cobra uma comissão de 12%, fulano de tal cobra uma comissão de 15% para destinar emendas”, relatou à coluna.
Padrinho político de Júnior Mano, o senador deu uma entrevista coletiva na última semana, depois de o deputado ser alvo da operação da PF. Além de sair em defesa de Mano, o senador também criticou o fato de a tese investigativa se basear em depoimentos de outros políticos.
De acordo com Cid, o caso de Júnior Mano, que a PF aponta ter cobrado uma porcentagem para liberar as emendas, é diferente do que é dito na tal “boca miúda”.
Cid argumenta que Mano tem apoio real de ao menos 29 prefeitos no estado, que teriam um compromisso de votar com Mano por “gratidão e reconhecimento” à destinação de recursos para suas respectivas cidade.
Nesse caso, para o senador, o envio de verbas públicas estaria atrelado diretamente ao apoio político, fazendo com que a suspeita de que o deputado teria enviado dinheiro na expectativa de receber alguma porcentagem em troca caia por terra.
O deputado federal Júnior Mano (PSB-CE)
Por outro lado, Cid destaca que haveria, sim, alguma suspeita em casos – não especificados por ele -em que um parlamentar destina grande parte de sua verba para um reduto que não lhe reverte votos.
“Agora, muita gente destina dinheiro e não tem voto. Então, isso leva, repito, a que se possa fazer uma indicação, uma suspeita, de que essas pessoas que indicam e não têm voto… Você vê lá, fulano de tal indicou R$ 3 milhões para cidade X. Aí você vai ver quantos votos a pessoa teve na cidade, vai ver que foi uma votação ridícula, 17 votos. Então, é razoável que você possa desconfiar”, afirmou.
Operação contra Júnior Mano
Como mostrou a coluna, o deputado foi alvo de uma operação da Polícia Federal no início de julho, quando agentes vasculharam endereços ligados a ele e gastaram horas em seu gabinete na Câmara dos Deputados durante a busca e apreensão.
O deputado é investigado em uma apuração de desvios de recursos públicos e fraudes em licitação no Ceará. Segundo a decisão de 1ª instância que enviou o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), Mano teria um “papel central” nos desvios.
O então juiz do caso citou, por exemplo, a participação do deputado na “manipulação dos pleitos eleitorais, tanto por meio da compra de votos, quanto pelo direcionamento de recursos públicos desviados de empresas controladas pelo grupo criminoso”.
“Ainda segundo o magistrado, naquele momento da investigação, a Polícia Federal havia juntado indícios de que Júnior Mano estava envolvido “no desvio de recursos oriundos de emendas parlamentares, utilizados para alimentar o esquema e consolidar sua base de apoio político”.