Não há, na história recente, ataque semelhante ao que vem impondo ao Brasil o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. De forma descarada, ele se dá ao direito de chantagear um país soberano porque um afeto dele, Jair Bolsonaro, está sendo submetido aos rigores da lei. Desde quando uma nação soberana, uma das maiores democracias do mundo, tem de dar satisfações a um dirigente de outro país porque o seu Judiciário está cumprindo a lei?
Trump, que, como já disse o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, está se colocando como “imperador do mundo”, diz que Bolsonaro está sendo submetido a uma “caça às bruxas”. Como assim? O ex-presidente brasileiro tentou, por diversas vezes, subverter a ordem e dar um golpe de Estado no Brasil para se perpetuar no poder. Ele próprio confessou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que teve em suas mãos uma minuta de golpe.
Bolsonaro, como deve ser em uma democracia, está tendo todos os direitos respeitados. Todos os prazos dos processos nos quais ele é réu estão sendo cumpridos. Há um amplo direito de defesa. Em nenhum momento ele foi proibido de se manifestar nos autos. Muitos dos aliados dele, por sinal, falam que o Brasil vive, atualmente, uma ditadura. Realmente, quem diz uma barbaridade como essa não sabe o que é uma ditadura, onde os direitos mínimos — que dirá, a ampla defesa — são surrupiados.
Certo de que será condenado pelos crimes que cometeu e que continuará inelegível, Bolsonaro escalou o filho 03, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, para ir aos Estados Unidos e, por meio de representantes da direita populista radical, convencer Trump — líder desse movimento — a impor sanções ao Brasil. As punições só seriam abolidas caso a Justiça brasileira desse anistia ao ex-presidente. Como assim?
Primeiro, o presidente dos Estados Unidos impôs tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros que são exportados para aquele país. Trump, inclusive, estabeleceu um prazo para que o Judiciário brasileiro peça arrego: 1º de agosto. O líder da extrema-direita norte-americana usou um instrumento econômico para chantagear um país soberano com o intuito de favorecer um acusado de atentar contra o Estado Democrático de Direito.
Como o Brasil se manteve altivo e não se curvou “às ordens” de Trump, que disse poder tudo, e o Supremo Tribunal Federal atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para colocar uma tornozeleira eletrônica em Bolsonaro a fim de evitar que ele fuja do país, agora, os Estados Unidos decidiram proibir a entrada, em seu território, dos ministros da mais Alta Corte brasileira. O alvo principal dessa medida é o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelos processos contra Bolsonaro.
Trump acredita que, radicalizando, dobrará o Brasil a fazer o que querem Bolsonaro e família. O filho 03, que está nos Estados Unidos, alardeia pelas redes sociais que “não haverá recuo”. Na insignificância dele, acredita que realmente os brasileiros vão abrir mão da soberania do país para salvar alguém acusado de crimes seríssimos? O Brasil é muito maior do que a família Bolsonaro, que, ao longo de anos, se especializou em sugar o sistema público.
A democracia brasileira é tão sólida e os Poderes constituídos, independentes, que, se estivesse no Brasil, Donald Trump estaria sendo julgado e, muito provavelmente, seria condenado pelo ataque de 6 de janeiro de 2021, quando incentivou uma horda de malucos a invadir o Capitólio para impedir a posse de Joe Biden e permanecer no poder. Trump, com a cretinice que lhe é característica, deve apreender de vez que o Brasil não é uma República das Bananas.
(Transcrito do PÚBLICO-Brasil)