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    Sob suspeita no Dnit, empresa recebeu R$ 418 milhões de emendas

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    A empresa LCM Construção, alvo da Polícia Federal (PF) em uma investigação sobre desvios no Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) no Amapá, já recebeu cerca de R$ 418 milhões de emendas parlamentares desde 2016.

    Parte deste montante, cerca de R$ 71 milhões, foram provenientes de emendas de relator, conhecidas popularmente como “orçamento secreto”, devido à pouca transparência dos repasses.

    Os dados estão disponíveis no Portal da Transparência e o período de abrangência é de dezembro de 2016 a maio de 2025.

    O maior montante enviado à empreiteira foi via emendas de bancada, proposta coletivamente por bancadas estaduais ou regionais de parlamentares para investimentos localizados nos redutos do parlamentares. Foram destinados R$ 276 milhões nessa modalidade por bancadas de diversos estados como a de Roraima, da Paraíba, Rondônia, Paraná e Amapá.

    A empresa também recebeu outros R$ 69 milhões via emendas de comissão.

    A maioria dos repasses, com exceção de seis deles, tiveram como unidade orçamentária de destino o Dnit. Em sua maioria, quando há especificação do objetivo da verba, o dinheiro foi destinado para obras de manutenção ou adequação de trechos rodoviários.

    Empreiteiro Luiz Otávio Fontes JunqueiraO empreiteiro Luiz Otávio Fontes Junqueira, presidente da LCM

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    A LCM entrou na mira dos investigadores por causa de uma obra de melhoramento e pavimentação da rodovia federal BR 156, no Amapá.

    A empresa é investigada por ter obtido suposto favorecimento em pregões no estado que totalizam R$ 60 milhões.

    Segundo a decisão da Justiça Federal que autorizou as ações da PF na terça-feira (22/7), laudos periciais “evidenciam a participação em pregões com vícios insanáveis e comportamento atípico, com propostas com desconto nulo ou acima do preço de referência, simulando competição que jamais existiu”.

    O presidente da empresa, Luiz Otávio Fontes Junqueira, foi alvo da operação. Segundo a decisão, ele teria “se beneficiado do direcionamento de licitações”, operando um suposto esquema de “lavagem de dinheiro por meio de saques fracionados e realizados por interpostas pessoas”.

    O montante desses saques, diz a apuração, seria de R$ 680 mil.

    A empresa vem ganhado destaque nos últimos anos pelas quantias volumosas que recebe do governo federal por meio de contratos. Como mostrou a coluna, por exemplo, ela já arrecadou desde 2014 pelo menos R$ 10 bilhões de verba pública.

    Criada em 2014, a empresa surfou na onda pós-Lava Jato, quando as grandes empreiteiras brasileiras estavam envolvidas de alguma forma com a operação. Na época, e em anos seguintes, muitas quebraram ou ficaram impedidas de fechar contratos com a administração pública.

    Operação Route 156

    A operação da deflagrada na terça-feira (22) é uma parceria entre a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU), e investiga desvios no Dnit do Amapá.

    Além da LCM, também foram alvos o superintendente afastado do Dnit no estado e o empresário, Marcello Linhares, e o empresário Breno Chaves Pinto, 2º suplente do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

    Como mostrou a coluna, segundo a PF, Breno Chaves Pinto utilizava a influência do senador para liberar verbas. Ele é ligado à empresa LB Construções, uma das vencedoras da licitação da BR-156. Ele ainda tem contratos, por meio de outras empresas, com a Codevasf.

    O senador, contudo, não é investigado e as autoridades descartaram a possibilidade de seu envolvimento no caso.

    A ação cumpriu 11 mandados de busca para avançar na apuração sobre esquema criminoso de direcionamento de licitações e desvio de recursos públicos federais em contratos de manutenção e recuperação da rodovia BR-156, no Amapá.

    O valor total das licitações sob suspeita é de R$ 60 milhões.

    Segundo a PF, a investigação indica a “existência de uma organização criminosa estruturada no âmbito da Superintendência Regional do Dnit no Amapá que teria fraudado o caráter competitivo de pelo menos quatro pregões eletrônicos”..

    A apuração da PF indica que o grupo integrado pelo suplente e por Linhares simulava a concorrência em licitações com propostas fictícias e cláusulas restritivas nos editais.

    Defesa

    Em resposta à coluna, a LCM nega qualquer irregularidade nos procedimentos licitatórios que participou perante a Superintendência do Dnit do Amapá, bem como na execução dos contratos firmados com a referida autarquia.

    “A empresa e seu diretor estão à inteira disposição das autoridades, confiando que os fatos sob investigação serão prontamente esclarecidos”, afirmou.

    Em nota, a assessoria de comunicação de Alcolumbre afirmou que o senador não possui qualquer relação com as empresas citadas na operação desta terça-feira (22), nem com a atuação empresarial do seu segundo suplente.

    “Alcolumbre reitera seu respeito às instituições e entende que todos os envolvidos devem prestar os devidos esclarecimentos à Justiça, respeitado o devido processo legal”, diz a nota.

    Já o Dnit, também em nota, afirma o órgão colabora com a investigação, visando a completa elucidação dos fatos e diz repudiar “qualquer prática fraudulenta ou ato de corrupção e conta com uma Política Antifraude e Anticorrupção que, entre outros aspectos, deixa clara essa premissa”.

    “As instâncias de integridade da autarquia também estão apurando os fatos a fim de adotar as medidas administrativas que forem necessárias […] O DNIT está em permanente contato com os órgãos de controle e reafirma que pauta sua atuação dentro da legalidade e lisura, respeitando todos os princípios éticos da administração pública”, diz trecho da manifestação.

    A coluna entrou em contato com Luiz Junqueira, mas não obteve retorno.