Amada, estudiosa e trabalhadora. É assim que a família de Carmen de Oliveira Alves, de 25 anos, descreve a estudante universitária. Ela está desaparecida há um mês, desde 12 de junho, quando foi vista pela última vez saindo do campus Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no interior de São Paulo. A suspeita é que a jovem tenha sido vítima de feminicídio.
Carmen cursava Zootecnia na Unesp e era muito querida pela comunidade universitária, que realizou diversas manifestações e mobilizações cobrando respostas do poder público sobre o desaparecimento.
Um perfil no Instagram foi criado para divulgar informações sobre o caso. Lá, diversos amigos e familiares da estudante compartilham a angústia de não ter respostas sobre o paradeiro de Carmen, que teria sido morta pelo namorado após exigir que ele assumisse a relação.
Sem respostas por quase 29 dias, amigos e familiares de Carmen iniciaram movimentos de buscas nas redes sociais
Arquivo Pessoal
A jovem desapareceu após fazer uma prova do curso de zootecnia, no dia 12 de junho, quando foi vista pela última vez, na saída do Campus Ilha Solteira da Unesp
Arquivo Pessoal
Carmen era uma pessoa alegre e bem vista na comunidade, que não apresentava nenhum indício de tristeza antes do desaparecimento
Arquivo Pessoal
Entenda o caso
- Carmen foi vista pela última vez em 12 de junho, por volta das 10h, na Rua 15 de Novembro, em Ilha Solteira, vestindo calça jeans e uma blusa verde. Ela estava em uma bicicleta elétrica.
- A Polícia Civil passou a investigar o caso, realizando buscas pela estudante com auxílio de amigos e familiares da jovem.
- Com o avanço das investigações, dois suspeitos foram presos temporariamente, nessa quinta (10/7): Marcos Yuri Amorim, namorado de Carmen, e Roberto Carlos Oliveira, policial militar ambiental da reserva.
- Segundo o delegado Miguel Rocha, responsável pela investigação do caso, os homens estavam envolvidos em uma relação amorosa e teriam trabalhado em conjunto para matar a estudante e ocultar o corpo.
- A investigação apontou ainda que Marcos Yuri matou Carmen porque não queria assumir a relação.
- Buscas no notebook da estudante mostraram que ela tinha um dossiê contra o rapaz, com provas de roubos e furtos que ele teria cometido em Ilha Solteira.
- A jovem teria usado o dossiê para pressionar o namorado a assumir a relação. A pressão, no entanto, teria contribuído para a motivação do crime.
- O corpo de Carmen ainda não foi encontrado, mas a polícia trabalha com a hipótese de feminicídio.
- Buscas estão sendo feitas no local onde o sinal de celular da jovem foi captado pela última vez, em um assentamento chamado Estrela da Ilha, onde morava Marcos Yuri.
- A Guarda Municipal, o Canil da Polícia Militar e a Marinha do Brasil foram acionados para auxiliar nas buscas. Um drone também ajuda na varredura.
- Além disso, foram realizadas perícias nas casas e veículos dos suspeitos. O objetivo é localizar possíveis vestígios de sangue que possam explicar o que aconteceu com Carmen.
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Família e universidade lamentam desaparecimento
Em nota publicada no Instagram, a família da estudante demonstrou a angústia sentida pelo caso.
“Desde o início dessa jornada, há praticamente um mês atrás, nossas vidas foram brutalmente abaladas e, a partir de então, todos os dias nós buscamos, procuramos, manifestamos por respostas e sofremos com a angústia dos dias irem passando e as respostas não aparecerem”, diz o texto.
Conforme a família, a universitária é “uma mulher amada, estudiosa, trabalhadora e muito querida”. Os familiares também a descrevem como uma pessoa alegre, divertida e com muitos sonhos e metas para realizar. “Uma menina que sempre foi sensível, e que sempre utilizou a arte como forma de expressão”, afirma a publicação da noite dessa sexta.
Os parentes disseram ainda que a notícia de prisão dos suspeitos “foi como um presságio de uma batalha longa que teremos pela frente”.
Eles destacaram a sensibilidade do caso por envolver uma mulher trans e negra. “Sabemos que a Justiça brasileira caminha de forma muito lenta principalmente quando não se tem a materialidade do fato e por se tratar de uma mulher trans e preta, onde infelizmente as leis de defesa das pessoas da comunidade LGBTQIAP+ são falhas”.
“Queremos reiterar que o nosso luto só será vivido quando obtermos a resposta da pergunta que que gritamos a um mês: Onde está a Carmen?”, finalizou a nota.
Também em publicação nas redes sociais, a Unesp, onde Carmen estudava zootecnia, lamentou a suspeita de feminicídio e prestou solidariedade à família da vítima.
“A prisão temporária de dois suspeitos e a hipótese de feminicídio reforçam a gravidade da situação e mantêm toda a comunidade universitária na expectativa de que os fatos sejam plenamente esclarecidos. Reiteramos nosso repúdio a toda forma de violência e nosso respeito à diversidade. A Universidade reafirma seu compromisso com a defesa da vida e da dignidade humana”, diz a nota.
A universidade não se manifestou sobre uma possível expulsão de Marcos Yuri, que também é aluno da instituição.
Em entrevista ao Metrópoles, Lucas de Oliveira Alves, irmão de Carmen, contou que a irmã sempre foi uma pessoa querida na cidade, trabalhava em restaurantes e era conhecida pela educação. Ele disse ainda que a jovem era uma pessoa alegre e bem vista na comunidade e que não apresentava nenhum indício de tristeza antes do desaparecimento.