A data marcada para que as tarifas impostas ao Brasil pelo presidente norte-americano, Donald Trump, está se aproximando e o governo brasileiro ainda aguarda uma resposta da Casa Branca. De acordo com documento publicado por Trump, as medidas devem começar a valer a partir do dia 1º de agosto.
Na quarta-feira (23/7), em evento em Washington, Trump disse que definiu taxas mínimas de 15% para países com os quais os Estados Unidos têm boas relações e taxa de 50% para aqueles com quem os norte-americanos “não têm se dado bem”. No caso, o único país com taxa anunciada de 50% até agora foi o Brasil.
Segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSB), o governo brasileiro enviou uma carta na última terça-feira (15/7) endereçada ao secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, para tentar rever as tarifas. Uma outra carta já havia sido enviada ao governo americano em 16 de maio. No entanto, a mensagem ainda não foi respondida.
Geraldo Alckimin fala sobre como reverter tarifas impostas pelos EUA
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Geraldo Alckmin conversa com o setor industrial norte-americano para envolvê-los nas negociações
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Geraldo Alckmin, vice presidente da República em coletiva de imprensa
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Geraldo Alckmin fala sobre como reverter situação do tarifaço
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O vice-presidente Geraldo Alckmin participou de uma reunião com a Amcham, Câmara de Comércio Americana
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O texto diz que o governo “permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral”.
É importante destacar que ainda não foi emitida uma ordem executiva pelo governo dos EUA, ou seja, não existe nenhuma documentação oficial sobre o chamado “tarifaço” de Trump.
Alckmin está realizando uma série de reuniões com representantes dos setores produtivos para entender as demandas de cada empresa (seja indústria ou agro) e buscar alternativas às tarifas unilaterais.
Como explicou o vice-presidente, o Brasil está aberto ao diálogo e acredita na derrubada da sobretaxa. “O governo vai trabalhar para resolver e avançar nos próximos dias”, disse ele após uma das reuniões que teve com os setores.
Interlocutores afirmam que o governo está conversando com empresas brasileiras que tenham filiais nos EUA e empresas norte-americanas presentes no Brasil para se movimentar em torno do governo Trump.
O objetivo do governo é que a população dos EUA crie pressão contra o tarifaço quando observar que a medida afetará a economia do país, com alta dos preços dos alimentos, principalmente frutas, carnes e café, e um possível aumento da inflação.
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Crise com EUA
- Trump tem ameaçado o mundo com um tarifaço e dá atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil.
- A ofensiva se deu principalmente após o encontro de cúpula do Brics no Brasil, no início de julho, quando Lula defendeu moedas alternativas ao dólar e fez discursos pelo multilateralismo.
- O presidente norte-americano já ameaçou aplicar taxas de 100% aos países-membros do bloco que não se curvassem aos “interesses comerciais dos EUA”.
- Após sair em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre exportações brasileiras logo após o fim da reunião do Brics. De acordo com o líder norte-americano, o Brasil não está “sendo bom” para os EUA.
- Ao anunciar tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump indicou que pode rever a medida se o Brasil abrir seu mercado e remover barreiras comerciais.
- Setores nacionais se posicionaram contra o anúncio de tarifaço feito por Trump, somando-se aos discursos governistas nesse sentido. O vice-presidente Geraldo Alckmin tem sido o porta-voz do movimento de aproximação com os setores.
Na semana passada, o presidente da Câmara Americana de Comércio para Brasil (Amcham Brasil), Abrão Neto, afirmou que os fast foods que utilizam carne como matéria primária certamente ficariam mais caros nos EUA, exemplificando os problemas que as tarifas de 50% podem causar na economia norte-americana.
Após se reunir com Alckmin, na última quinta-feira (17/7), o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Jorge Viana, avaliou que a diplomacia tradicional não funciona com o chefe da Casa Branca e que esse é um momento de lidar com algo novo.
Segundo ele, Trump é um mandatário centralizador, o que dificulta conversas com secretários e diretores de seu governo.
Lei da Reciprocidade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou na segunda-feira (14/7) o decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica, que estabelece critérios para suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual, em resposta a medidas unilaterais adotadas por países ou blocos econômicos que impactem o Brasil.
O decreto também formaliza a criação do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, responsável por deliberar sobre a aplicação de contramedidas provisórias e acompanhar as negociações sobre as medidas unilaterais impostas contra o país. Integram o comitê os ministros do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que o presidirá, da Casa Civil da Presidência, da Fazenda e das Relações Exteriores.
Interlocutores dizem que o governo deve seguir os protocolos estabelecidos e pedir a revisão da tarifa. A ideia é seguir um roteiro com diálogo e negociação para que não seja necessário utilizar a Lei de Reciprocidade.