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    Tarifaço: governo Lula teme que ganho de popularidade tenha vida curta

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    Uma ala do governo considera que o ganho de popularidade causado pelo tarifaço dos Estados Unidos será passageiro e pode prejudicar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na sua campanha de reeleição em 2026. Interlocutores do Planalto avaliam que, se o impacto da guerra comercial travada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, for expressivo, o eleitor brasileiro não vai querer saber de quem é a culpa e pode se voltar contra o petista.

    O tarifaço está previsto para começar em 1º de agosto. Se até lá não houver um acordo, os produtos brasileiros serão taxados em 50% ao entrarem nos Estados Unidos. Faltando apenas uma semana, o Planalto ainda não tem alternativas claras para evitar a taxação imposta por Trump, que, entre outros motivos, visa pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a interromper os inquéritos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

    Até o momento, a postura dos EUA tem colaborado para Lula recuperar popularidade. O PT já havia tido sucesso na disputa contra o Congresso com a pauta da “justiça tributária”, pressionando a opinião pública contra oposição e Centrão por causa da resistência desses grupos a taxar os mais ricos.

    Entenda o tarifaço de Trump:

    • Trump anunciou no dia 9/7 que taxaria os produtos brasileiros em 50%;
    • A decisão acontece após ele reclamar do que considera “ataques insidiosos” contra eleições livres no Brasil e criticar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de inquérito no STF por tentativa de golpe de Estado;
    • Trump tem adotado tarifas a diversos países como meio de pressionar por novos acordos comerciais. No caso do Brasil, o motivo ideológico se destaca;
    • Lula tem dito que responderá via Lei de Reciprocidade e se recusa a aceitar qualquer interferência estrangeira no funcionamento do Estado brasileiro, e tem repetido que o Poder Judiciário é independente do Executivo;
    • O governo brasileiro tem reclamado que não há interlocutores para negociar qualquer saída para o tarifaço.

    Nesse sentido, a taxação de Trump foi o trampolim para um governo que buscava meios de sair das cordas no quesito popularidade após sequenciais revezes com as crises do Pix e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Além de obrigar setores da economia historicamente reativos ao PT a dialogar com Lula, Trump ainda atacou o próprio Pix, dando de bandeja uma bandeira em comum para a Secom explorar.

    Tudo isso com o carimbo da família Bolsonaro, que tem o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos abertamente procurando sanções pelo que considera uma perseguição ao pai. O parlamentar argumentou que sempre procurou reações do governo Trump a autoridades brasileiras específicas, como o ministro do STF Alexandre de Moraes, e não ao Brasil como um todo.

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    A rodada da pesquisa Genial/Quaest divulgada no dia 16/7, na semana seguinte ao tarifaço, mostrou que a desaprovação ao governo Lula recuou para 53%, enquanto a aprovação subiu para 43%. O resultado indicou melhora em relação à pesquisa anterior (a pior desde o início do mandato), que registrava 57% de desaprovação e 40% de aprovação.

    A recuperação, segundo o levantamento, ocorreu especialmente fora das bases tradicionais de apoio do presidente. A grande maioria dos entrevistados se posicionou contra a postura do norte-americano: 72% consideram que Trump está errado ao impor tarifas ao Brasil, e 79% acreditam que esse chamado “tarifaço” vai prejudicar a vida dos brasileiros.

    Acordos já fechados

    Até o momento, alguns países conseguiram acordos com os EUA para evitar tarifaços semelhantes ao imposto ao Brasil. Até então, a Casa Branca diz já ter conseguido entendimentos com Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão. Além disso, ficou estabelecido um acordo preliminar com a China.

    As importações de pelo menos 25 países enfrentarão tarifas a partir de 1º de agosto, conforme o anunciado por Trump. No caso do Brasil, além de citar Bolsonaro, Trump afirmou que o país não estava sendo justo com os norte-americanos na balança comercial. A fala não encontra amparo na balança comercial, que é superavitária para os Estados Unidos.