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    “Terreno movediço”: o que gestão Tarcísio previa sobre tarifas dos EUA

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    Meses antes de se ver como um dos principais prejudicados pelas tarifas anunciadas pelos EUA sobre exportações brasileiras, o governo de São Paulo já avaliava que a política tarifária do presidente americano Donald Trump gerava “alta volatilidade” e “incertezas” no cenário global, o que poderia impactar a economia do estado.

    Embora o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tenha celebrado a eleição do republicano e até vestido o boné com o slogan trumpista “Make America Great Again (MAGA)”, sua gestão na área econômica afirmava, em abril deste ano, que a política de tarifas que começava a ser aplicada pelos EUA contra alguns países, aliada aos conflitos e tensões em outras regiões, gerava um “terreno movediço da geopolítica e da economia mundial”.

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    “A visão atual é de menor atividade global, maior protecionismo e mudanças nos fluxos de mercadorias. Esse terreno movediço da geopolítica e da economia mundial produz um ambiente de elevada volatilidade e incertezas que cobram o seu preço nos custos de produção, transporte e, consequentemente, na inflação, além de inibir um crescimento mais sustentado da economia global”, avaliou a Secretaria da Fazenda de São Paulo (Sefaz) no projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026.

    O texto foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no começo de julho. De acordo com a análise presente no documento, “flutuações adversas na economia mundial são transmissíveis com intensidade cada vez maior à economia paulista, e, em especial, a sua base industrial”.

    “As flutuações da atividade na economia do resto do mundo estão intimamente associadas ao nível de crescimento do PIB paulista e, por conseguinte, do ICMS, seja diretamente via importações e exportações, seja indiretamente via movimentação das cadeias produtivas ou ainda via indução do consumo e do investimento decorrente das flutuações da massa salarial e dos lucros”, diz o governo paulista no documento.

    Ainda segundo a gestão Tarcísio, embora o ICMS, principal fonte de arrecadação estadual, não incida nas vendas para o exterior, a atividade exportadora movimenta toda a cadeia de suprimentos, além de gerar o aumento da massa salarial e de lucros advindas da atividade exportadora.

    “Também é crescente a utilização de insumos importados pela indústria e, portanto, a dinâmica de preços industriais está cada vez mais associada ao mercado externo”, afirma a Sefaz.

    Tarcísio e o tarifaço

    Mudança no discurso

    Na sequência, Tarcísio foi à Brasília se encontrar com Bolsonaro, modulou o discurso e passou a pregar união e negociação com os EUA para reverter a crise. O mandatário paulista chegou a ser reunir com o encarregado de negócios da embaixada americana para expor os impactos do tarifaço na economia de São Paulo.

    “A diplomacia brasileira, ao longo dos anos, sempre se saiu muito bem. A gente, obviamente, está tentando nutrir a embaixada dos Estados Unidos de mais informações”, disse Tarcísio em agenda no interior nesse sábado (12/7).

    A reunião de Tarcísio com o representante da embaixada dos EUA irritou parte dos bolsonaristas que defendem que a anistia ao ex-presidente e seus apoiadores deve ser colocada como a base de negociação pelo fim do tarifaço.

    Questionado, o governador afirmou que isso é “uma questão de ponto de vista” e que ele deve “olhar o estado de São Paulo”.

    “Eu sou governador do estado, existem interesses que precisam ser preservados, interesses das nossas empresas, dos nossos produtores, e é isso que a gente tem que botar em primeiro lugar. Eu estou falando de empregos, estou falando de pais de família. Então, neste momento, é a defesa que eu estou fazendo”, justificou.

    Após ter culpado a diplomacia do governo Lula pela decisão de Trump, Tarcísio pregou união e afirmou que é preciso “deixar a política de lado” para resolver o problema.

    “O momento demanda união de esforços e sinergia, porque é algo complicado para o Brasil e para alguns segmentos da nossa indústria, do nosso agronegócio. A gente precisa estar de mãos dadas agora para resolver. Deixar a questão política de lado e vamos tentar resolver essa questão”, afirmou.