É preciso admitir que, até o momento, as nossas previsões catastrofistas se revelaram erradas: o protecionismo de Donald Trump não feriu gravemente a economia dos Estados Unidos.
Veja o que diz o Wall Street Journal, inimigo figadal das tarifas do presidente americano:
“Quando o presidente Trump impôs tarifas às nações de todo o mundo, na primavera passada, muitos economistas temiam que o aumento dos preços e os cortes das despesas poderiam paralisar a economia. A confiança dos consumidores caiu. O índice acionário S&P 500 desceu 19% entre fevereiro e abril. O mundo prendeu a respiração, à espera do colapso. Mas isso não aconteceu. Hoje, empresas e consumidores estão reencontrado a segurança, e crescem as provas de que aqueles que haviam freado o consumo recomeçam a gastar. O mercado acionário está atingindo níveis recordes. O índice de confiança dos consumidores, que era o mais baixo dos últimos três anos, voltou a subir. As vendas no varejo superaram as previsões dos economistas, e a inflação galopante não se concretizou, ao menos por ora.”
Não é opinião, é constatação. O governo de Donald Trump é um sucesso econômico, e não adianta o Brasil achar que, com esse êxito, ele amolecerá conosco, sem que tenhamos de nos dobrar à força dos Estados Unidos.
Leia também
-
Bolsas da Ásia avançam após acordo entre Trump e Japão por tarifas
-
Tarifaço de Trump: saiba quais países já assinaram acordos com os EUA
-
Tarifaço: Trump anuncia acordo comercial com a Filipinas. Taxa é 19%
Existe mesmo método na loucura de Donald Trump. Depois de ameaçar os diferentes países com tarifas gigantescas, Donald Trump vem obtendo ótimos acordos para os Estados Unidos, e as partes opostas estão aliviadas por terem de pagar a mais do que pagavam, mas muito menos do que estariam obrigadas a fazer, se não houvesse entendimento e quisessem continuar a usufruir do mercado americano.
É o caso do Japão, que fechou ontem um acordo com os Estados Unidos, que reduziu de 25% para 15% tanto as tarifas de importação de automóveis japoneses, como as tarifas recíprocas com as quais o presidente americano ameaçava o país.
Além disso, o Japão se comprometeu a investir US$ 550 bilhões nos Estados Unidos, e será formada uma joint venture para explorar gás natural no Alasca.
A União Europeia examina o acordo entre japoneses e americanos para tentar seguir na mesma direção e dar um final feliz ao impasse com o seu maior parceiro comercial.
Enquanto isso, o governo brasileiro continua sem interlocução com a Casa Branca para negociar o tarifaço doido de 50%.
O descaso com o Brasil dá menos medida da importância que Donald Trump dá ao aliado Jair Bolsonaro do que a dimensão da nossa desimportância econômica e política, conquistada a duras penas ao longo de 500 anos de história. Não, os Estados Unidos não entrarão em decadência irreversível porque o café e o suco de laranja ficarão mais caro para os seus cidadãos.
Depois das provocações de Lula com o Brics, o presidente americano colocou o Brasil no seu devido lugar. Ter princípio de realidade não quer dizer sofrer de complexo de vira-lata. É aceitar apenas que somos um cãozinho que ladra, mas não morde.