MAIS

    Voltas que o mundo precisa dar (Eduardo Fernandez Silva)

    Por

    Nosso planeta gira em seu eixo, em torno do sol e executa vários outros movimentos, menos conhecidos. Mas a história da espécie que hoje destrói seu habitat também dá voltas, algumas lentas, outras bem rápidas, súbitas. Estas últimas ocorrem após acúmulo de pressões, como uma panela pressurizada sem válvula adequada acaba por explodir.

    Hoje, crescem as pressões. Uma delas é a cada dia maior desigualdade de renda, associada à infundada crença de que mais crescimento da economia trará conforto e abundância para todos. Crescer a economia sem mudar suas características nos levará a pontos de inflexão no sistema Terra que provocarão rupturas súbitas. Bem mais graves e amplas que a recém ocorrida no Texas, onde as águas do rio Guadalupe subiram nove metros em 120 minutos. Tempo insuficiente para qualquer “adaptação”, mesmo a fuga, que impeça muitas mortes.

    A espécie autodeclarada sapiens já ultrapassou muitos dos limites que a biosfera apresenta, mas os poderosos não reconhecem este fato e continuam, aceleradamente, a nos conduzir ao abismo. Lutam pelo idiótico objetivo de serem os últimos a morrer… de fome, afogados ou queimados em secas, enchentes, incêndios e ondas de calor cada vez mais fortes e outros eventos súbitos. Vale lembrar que, embora 13% dos texanos vivam abaixo da sempre baixinha linha oficial de pobreza, o que lhes impede desfrutar de muitos dos confortos da “modernidade”, a “riqueza” de alguns texanos decorre de provocarem as mudanças climáticas, enchentes, incêndios, ondas de calor e outras pressões que nos aproximam do abismo. Riqueza assassina?

    Sim, mesmo quando reconhecemos que o petróleo e os demais combustíveis fósseis trouxeram muitos benefícios para muitos humanos. Assim como as drogas letais trazem prazer ao iniciante e o destrói em seguida.

    “Como viver sem petróleo”, é pergunta que muitos se fazem, e os poderosos nela se baseiam para seguir rumo a desastres crescentes. A pergunta adequada, hoje, é: como sobreviver usando o petróleo, o aço, o concreto e outros produtos e serviços como temos feito?

    Cientistas e a Agência Internacional de Energia já declararam que nenhum novo campo de petróleo deve ser explorado, se quisermos evitar as mudanças ambientais descontroladas, decorrentes da ultrapassagem dos pontos de inflexão que revolucionarão o clima, as correntes marítimas e outros fundamentos da vida.

    Ignorando completamente essa realidade, congressistas brasileiros e lobistas estão de olho na exploração da droga fóssil na foz do Amazonas. Argumentam que isso é essencial para melhorar a qualidade de vida da população local, e omitem o fato de que, por exemplo no Rio de Janeiro, onde se extrai tanto dessa droga a tantos anos, a miséria persiste.

    Como dito acima, não é o eventual crescimento da economia que trará melhorias para a maioria; o que necessitamos é reconhecer que somos 99% e legislar para distribuir boa parte da riqueza do 1%, forçando nossos congressistas a aprovar a taxação dos super ricos e a desoneração completa dos impostos sobre os mais pobres.