A quem interessa um eventual pedido do ministro Luiz Fux por mais tempo para dar seu voto no julgamento de Bolsonaro e dos demais acusados de golpe e de outros crimes, atrasando assim a conclusão do processo ora em curso no Supremo Tribunal Federal?
Dizem nos meios jurídicos de Brasília e no eixo Rio-São Paulo que Fux estaria pronto para fazer isso. O ministro ainda não conversou com ninguém a respeito, e nem irá conversar. Ele sabe que se cometer tal indiscrição, a notícia imediatamente vazará.
A princípio, o julgamento deverá terminar no final de setembro, podendo se estender, contudo, por outubro. Se Fux pedir vista do processo, terá 90 dias para devolvê-lo. E mesmo que seu voto favoreça Bolsonaro, de pouco ou de nada adiantará.
Fuz faz parte da Primeira Turma do Supremo que decidirá a sorte dos golpistas. Ela é formada por cinco ministros: ele, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Cármen Lúcia. O pedido de vista não impedirá que eles anunciem seus votos.
Dá-se como mais do que certa a condenação de Bolsonaro e dos demais acusados. A dúvida é quanto ao placar: 5 x 0 ou 4 x 1? Bolsonaro vive à espera de um milagre que reverta sua situação. Trump não foi capaz de operar o milagre, e nem será.
Pelo contrário: ao vincular o tarifaço à suspensão do julgamento dos golpistas, Trump piorou a condição deles. De todo modo, um pedido de vista garantiria a Bolsonaro mais três meses de prisão domiciliar, algo mais confortável do que prisão em um quartel.
A Bolsonaro e aos seus cúmplices na trama golpista, portanto, interessa o pedido de vista. E a quem não interessaria? Aos que aspiram o apoio de Bolsonaro para se candidatar a presidente nas eleições do próximo ano. Para a direita seria um desastre.
Particularmente, seria um desastre para a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo. Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR), Ronaldo Caiado (GO) e Eduardo Leite (RS) não poderão se reeleger porque governam há dois mandatos.
Mas Tarcísio pode se reeleger governador, e para se candidatar a presidente terá que renunciar ao cargo no início de abril. Quanto mais tempo ganhar Bolsonaro para decidir qual será o seu candidato a presidente, pior para Tarcísio.
Fuz dá-se conta disso? É claro que sim. Mas um juiz não deve julgar de olho na capa do processo. Não é o que se diz e o que nem sempre acontece?