Os adolescentes de 17 anos que planejavam executar um massacre em uma escola pública do Distrito Federal nutriam ódio pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em mais de uma ocasião, dois jovens infratores ofenderam o chefe do Executivo.
Em áudio obtido pelo Metrópoles, um dos estudantes do 2º ano do ensino médio enaltece discursos de Adolf Hitler e critica Lula ao imitá-lo de forma pejorativa e chamá-lo de “filho da puta”. O outro critica a política e cultural do Brasil em uma conversa de WhatsApp, e sugere o regime nazista como uma solução para o país.
Ouça o áudio:
Um dos planos mirabolantes da dupla foi revelado no site criado por eles mesmos, onde detalham que queriam explodir bombas caseiras no centro de Brasília,
Em um dos vídeos divulgados anteriormente, os dois festejaram após queimarem uma bolsa com as cores LGBT e caçoarem do movimento, além de ligá-los ao PT e ao presidente Lula.
Bomba no centro da cidade
A ideia publicada no fórum, usado por eles como uma espécie de diário, era chamada de “bomba anarquista com vodka”. A intenção da dupla era disparar pedras e também uma espécie de bomba caseira com o símbolo do anarquismo.
Os jovens também relatam que foram incentivados por um dos seus seguidores a jogar pedras na casa de um homem que havia tentado denunciar a dupla anteriormente. Utilizando termos homofóbicos, a dupla chama o suposto denunciante de “viado narigudo imaturo” e “bicha histérica”.
No texto, citam que o plano foi frustrado devido à presença de outras pessoas, mas prometem que iriam “pegar” o homem. “Rato sem pele, maldito, quando eu te pegar, você tá fodido”, diz um deles. Através desse mesmo post, o adolescente se refere à uma suposta jovem como “vagabunda enxerida”.
Veja o plano de jogar uma bomba no centro de Brasília:
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Os jovens chamaram o plano de jogar bombas caseiras no centro de Brasília de “bomba anarquista com vodka”
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Uma suástica nazista foi desenhada com poeira
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Um sol negro, símbolo do movimento nazista, foi desenhado por eles em uma praça pública
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Material cedido ao Metrópoles
Em outro relato, os jovens mostram insatisfação com o banimento de contas no Instagram e abrem mão de divulgar seus conteúdos nas redes sociais. “Vai se foder, porra de diretrizes de comunidade! Eu quero ver vocês banirem o que nós vamos publicar aqui no nosso site”, destaca.
Entenda o caso
- Dois adolescentes de 17 anos que estudavam no segundo ano do ensino médio planejavam fazer um massacre em uma escola pública do Distrito Federal.
- O plano dos dois menores de idade teria chegado à direção das escolas onde os alunos estudavam e encaminhado à Polícia Civil (PCDF).
- A dupla propagava discursos de ódio contra mulheres, negros e gays, além de fazer apologia ao nazismo através de um site criado por eles.
- Além de utilizar a plataforma para compartilhar todos os seus planos, os jovens utilizavam o aplicativo do TikTok para impulsionar e fazer o marketing para aumentar o alcance do site. Algumas contas chegaram a ser banidas pela rede social por conter discurso de ódio.
- Entre o fim de 2024 e junho de 2025, os jovens teriam gravado e publicado cerca de 10 fitas para narrar todo os preparativos antes do massacre marcado para o dia 20 de setembro, chamado por eles de “dia zero”. Os arquivos teriam sido apagados ainda em junho deste ano.
- Uma menor de idade que mora na Argentina começou a ter contato com a dupla através de uma comunidade que compartilhava conteúdo de “true” crime, onde pessoas compartilham casos de crimes reais. Por não ter o português como a língua nativa, a jovem não entendia a gravidade das falas.
- A adolescente argentina passou a compreender o idioma brasileiro após um tempo e ao rever os vídeos, passou a entender a gravidade daquilo que era falado por ambos. Depois de tomar conhecimento, ela conseguiu baixar o material criminoso antes da dupla apagar o site, junto todas as provas em documento e enviar para pessoas próximas dos jovens.
- Nos vídeos feitos por eles, os estudantes do ensino médio aparecem manuseando as armas caseiras fabricadas por eles e descrevem os planos de abrir fogo contra pessoas na escola onde estudavam.
- Policiais civis da Divisão de Prevenção e Combate ao Extremismo Violento (DPCEV) detiveram um dos adolescentes suspeitos de planejar fazer um massacre em uma escola pública do Distrito Federal e cumpriram mandados de busca e apreensão.
- Os planos dos adolescentes de 17 anos, que estão no 2º ano do ensino médio, foram divulgados em primeira mão pelo Metrópoles. A região administrativa e o endereço da escola não foram informados para não gerar pânico na população.
Fabricação de armas e explosivos
Os estudantes do ensino médio aparecem manuseando as armas caseiras fabricadas por eles e descrevem os planos de abrir fogo contra pessoas na escola onde estudavam. O outro adolescente chega a falar que pensou em fazer o massacre no dia 20 de setembro, na data do aniversário de 18 anos do amigo. “Que tal fazermos no seu aniversário? O seu presente vai ser atirar em preto e matar gente”, relata.
Ainda no mesmo vídeo, o garoto revela planos de comprar armas. “A gente quer comprar armas no mercado negro, mas não sabemos ainda como entrar nesse meio”.
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No mesmo vídeo, os dois seguem manuseando armas e reafirmam o desejo e ambição por matar outras pessoas. “Só preciso de armamento porque aí eu só vou matar ‘de boa’. Quem invade escola de faca, é imbecil”, dizem os dois jovens.
O Metrópoles teve acesso a vários vídeos e conversas que mostram os jovens fabricando armas e explosivos caseiros com a intenção de atirar e matar pessoas, especialmente pessoas negras e mulheres. O rosto, a voz e a identidade foram preservadas pelo fato dos suspeitos serem menores de idade.
Veja o vídeo dos preparativos:
Caso investigado pela PCDF
Após ser alertada pela Secretaria de Educação, a Polícia Civil (PCDF) iniciou o monitoramento de redes sociais e investigação, constatando inicialmente que não havia risco iminente, pois a mãe de um dos adolescentes havia descoberto e repreendido o filho.
Dentre os materiais apreendidos divulgados pela PCDF, estão uma bandana de caveira e um caderno com desenhos de armas (foto em destaque).
Um dos adolescentes já se encontra em tratamento psiquiátrico. O outro foi encaminhado à Delegacia da Criança e do Adolescente II (DCA II) para as providências cabíveis.
Os aparelhos apreendidos serão submetidos à perícia, e a investigação prossegue com o objetivo de identificar possíveis conexões com grupos e prevenir novos riscos.
A DPCEV orienta os pais e responsáveis a acompanharem os conteúdos acessados por seus filhos na internet e reforça que permanece à disposição para recebimento de alertas e denúncias.
O caso seguirá sendo investigado pela Polícia Civil.