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    Amazonas tem cerca de 200 pistas de pouso usadas pelo crime organizado

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    A seca histórica dos anos de 2023 e 2024 fez as facções, principalmente o Primeiro Comando da Capital (PCC), buscarem em aviões e helicópteros uma alternativa aos barcos para o transporte de droga, armas e ouro extraído de garimpos ilegais. Como resultado, só no estado do Amazonas, as autoridades de segurança pública já identificaram cerca de 200 pistas usadas pelo crime organizado para pousos e decolagens.

    A logística das drogas e de outros produtos obtidos ilegalmente por organizações criminosas obedece ao regime de cheias e vazantes dos rios da região amazônica. Quando o volume de água é maior, as embarcações conseguem driblar mais facilmente a precária fiscalização, passando por locais distantes das bases ou usando os “furos” (atalhos) para se deslocar sem serem percebidas. Na seca, os caminhos se “estreitam”.

    51 imagensPM pilotando barco no Rio Solimões, em Tabatinga (AM)Militares em Benjamin Constant (AM), no Rio JavariPichações em área de atuação do Comando Vermelho, em Letícia, na ColômbiaEmbarcação no Rio Javari, no AmazonasPorto de Benjamin Constant, no AmazonasFechar modal.1 de 51

    Barco cruza o Rio Javari, no Amazonas

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    PM pilotando barco no Rio Solimões, em Tabatinga (AM)

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    Militares em Benjamin Constant (AM), no Rio Javari

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    Pichações em área de atuação do Comando Vermelho, em Letícia, na Colômbia

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    Embarcação no Rio Javari, no Amazonas

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    Porto de Benjamin Constant, no Amazonas

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    Embarcação em rio da Amazônia

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    Porto de Benjamin Constant, no Amazonas

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    Embarcação no Rio Javari, em Benjamin Constant

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    Porto de Benjamin Constant, no Amazonas

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    Embarcação em rio amazônico

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    Imagem mostra embarcação em Tabatinga (AM)

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    Embarcação no Rio Javari

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    Serraria na margem peruana do Rio Javari

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    orto de Benjamin Constant, no Amazonas

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    Porto de Benjamin Constant, no Amazonas

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    Barco no Rio Javari, no Amazonas

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    Barco ambulância no Rio Javari, no Amazonas

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    Tenente-coronel Castro Alves, em embarcação no Rio Javari

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    Pistola de policial no Rio Javari, no Amazonas

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    Arco-íris sobre o Rio Javari, em Atalaia do Norte

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    Embarcação no Rio Javari, em Atalaia do Norte (AM)

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    Indígena ferido por ferrão de arraia em Atalaia do Norte (AM)

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    Índigena sendo socorrido em Atalaia do Norte (AM)

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    Rua do porto em Atalaia do Norte (AM)

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    Pescador mostra piranha no mercado municipal, em Atalaia do Norte (AM)

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    Quadro de distâncias e tempo de viagem em barco rápido na Prefeitura de Atalaia do Norte (AM)

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    Garrafas com gasolina à venda, em Atalaia do Norte (AM)

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    Barco da PM no Rio Javari, no Amazonas

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    Cemitério em Atalaia do Norte (AM)

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    Fachada de igreja em Atalaia do Norte, no Amazonas

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    Esculturas de peixes em Atalaia do Norte, no Amazonas

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    Letreiro em Atalaia do Norte, no Amazonas

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    Garrafas com gasolina à venda, em Atalaia do Norte (AM)

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    Família em moto em Atalaia do Norte (AM)

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    Casa de apostas em Atalaia do Norte (AM)

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    Tuc-tuc em Letícia, na Colômbia

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    Fronteira entre Brasil e Colômbia

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    Fronteira entre Brasil e Colômbia

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    Pichações em área de atuação do Comando Vermelho, em Letícia, na Colômbia

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    Policial colombiano diante de porto em Letícia, na Colômbia, com vista para a ilha de Santa Rosa, no Peru

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    Pichações em área de atuação do Comando Vermelho, em Letícia, na Colômbia

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    Fronteira entre Tabatinga (BRA) e Letícia (COL)

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    Policiais militares e cães farejadores em Tabatinga (AM)

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    Presídio em Tabatinga, no Amazonas

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    Divisa entre Tabatinga (BRA) e Letícia (COL)

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    Humberto Freire, da PF, em Manaus

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    Teatro Amazonas, em Manaus

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    Mario Sarrubo

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    Porto em Manaus, no Amazonas

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    Pichação do Comando Vermelho em Manaus, no Amazonas

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    Depois do pioneirismo do PCC e passada a grande seca, o Comando Vermelho (CV) também demonstrou interesse em usar com mais frequência as rotas aéreas para fazer o transporte de drogas e armas.

    A maior parte das pistas identificadas pelas autoridades é de terra, com algumas delas gramadas e outras de asfalto. Segundo relatório encaminhado às autoridades de segurança em 2024, há algumas tão bem providas que contam “com infraestrutura para pousos noturnos e servem como pontos de apoio para aeronaves pequenas, como monomotores, que transportam cargas ilegais (drogas, armas, equipamentos para garimpo) ou pessoas envolvidas em atividades criminosas”.

    O levantamento mostra ainda que não são apenas as pistas clandestinas que servem para pouso e decolagem das facções que atuam no Amazonas.

    Há também aeródromos regulares que exercem essa função, como é o caso de um em Novo Aripuanã, no meio do caminho entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO), às margens do Rio Madeira. Em fevereiro, o Greenpeace encontrou 130 balsas usadas no garimpo ilegal, parte delas entre o município e a cidade de Humaitá.

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    Entre tantos indícios e investigações que levam à mesma conclusão, as pistas de pouso são um forte indicativo de que, na Amazônia, as rotas logísticas usadas pelo tráfico de drogas e armas são compartilhadas com o descaminho do ouro obtido em garimpos ilegais. As facções atuam em todas as frentes criminosas, com impacto também no meio ambiente.

    “Muitas pistas são usadas para abastecer garimpos ilegais, transportando combustível, maquinários e suprimentos, além de escoar ouro e outros minérios extraídos ilegalmente. Em alguns casos, as pistas são abertas para facilitar o acesso a áreas de desmatamento ilegal ou para a ocupação de terras públicas (grilagem)”, diz relatório ao qual as autoridades tiveram acesso.

    Localização

    Além da calha do Rio Madeira, também há concentração de pistas clandestinas nas bordas do Amazonas, principalmente nas proximidades das divisas com Rondônia, Acre, Pará e Roraima.

    O relatório que traz as cerca de 200 pistas mostra que apenas três delas estão na região do Alto Solimões, na fronteira com Peru e Colômbia, onde existe presença ostensiva de integrantes de facções criminosas, em particular do Comando Vermelho (CV), hegemônico na rota fluvial usada pelo tráfico entre Tabatinga e o Atlântico.

    Segundo as autoridades, criminosos acabam cooptando ou obrigando a população de locais distantes, no meio da floresta, a colaborar com suas iniciativas.

    Combate

    Apesar das dificuldades em lidar com as rotas aéreas usadas pelas facções, com aviões e helicópteros voando muito baixo, próximos às árvores, fora da cobertura dos radares, algumas ações têm sido bem-sucedidas.

    Entre fevereiro e março, por exemplo, na cidade de Careiro, por onde passa a BR-319, a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Amazonas (FICCO/AM), que reúne membros de diversas entidades, descobriu três pistas e inutilizou dois helicópteros e um avião. Também foram destruídos 4.000 litros de combustíveis.

    Em muitos casos, os helicópteros e aviões localizados pelas forças de segurança estão em condições tão precárias que muitos policiais se questionam sobre como são capazes de se manter no ar.