Neta mais velha do presidente Lula, a comunicóloga Bia Lula afirmou, em entrevista à coluna, que o avô gostou e a parabenizou pelos vídeos que fez criticando figuras como Donald Trump e Tarcísio de Freitas.
Bia contou ter começado a gravar e a divulgar seus vídeos nas redes sociais por sugestão de um amigo. Ela ressaltou não ter comunicado ao avô ou a nenhum outro integrante do Palácio do Planalto previamente.
“Foi tudo ideia minha. Até porque, quando eu postei o primeiro vídeo, inclusive, fiquei com muito medo, porque eu não tinha comentado com ninguém. Só quem sabia era eu, meu marido e meus amigos que me ajudaram a produzir. Quando eu soltei, falei: ‘Caraca, que que meu avô vai falar? Que que vão pensar?’. Enfim, ninguém sabia. Eu vi matérias falando que provavelmente tinha Sidônio (Palmeira, ministro da Secom) metido e tal. Sidônio não sabia. Eu nem tenho o contato do Sidônio”, contou a neta de Lula em entrevista concedida à coluna na segunda-feira (19/8).
Assista à entrevista:
A comunicóloga disse ter ficado “muito surpresa”, porque o avô gostou dos vídeos. “Estava com medo dele me dar uma bronca, mas ele gostou, me parabenizou. Eu perguntei, obviamente, se poderia continuar, ele falou que poderia. E eu disse sempre que não quero atrapalhar o governo”, afirmou.
Bia Lula contou que decidiu começar a gravar os vídeos porque sempre enxergou uma dificuldade da esquerda de “furar a bola” e falar diretamente com a população em uma linguagem mais popular. Segundo a comunicadora, foi um amigo que sugeriu que ela mesma gravasse os vídeos.
“Sempre encontrei uma dificuldade de enxergar na esquerda, de a gente conseguir falar fora da bolha, falar para as pessoas que realmente querem entender o que está acontecendo, só que só chega para elas a verdade da extrema-direita, da família Bolsonaro. Eu sempre me questionava muito. ‘Poxa, a gente precisa de um nome, a gente precisa de um nome, precisa de nome’. E aí, conversando com um amigo, ele falou: ‘Por que você não faz isso? Por que que você não vai, fala e tenta conscientizar as pessoas de uma maneira mais popular, de uma maneira um pouco mais dinâmica’. Aí eu gravei o primeiro e falei: ‘Seja o que Deus quiser’. Gravei o primeiro. Deu certo. E agora eu estou continuando, porque acho que eu consegui minimamente furar a bolha”, disse.
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Neta de Lula, Bia Lula
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Bia Lula, neta do presidente Lula
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Presidente Lula
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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
BRENO ESAKI/METRÓPOLES
Os vídeos da neta de Lula foram vistos por alguns integrantes do PT como uma sinalização de que ela pretende engrenar uma carreira política. A comunicóloga não descartou a possibilidade de ser candidata, mas ponderou que ainda é cedo para ela falar sobre o tema e que “tudo é uma construção”.
Bia lembrou que, em razão de o avô estar na Presidência da República, ela não poderá disputar as eleições de 2026. Isso porque a legislação eleitoral impede que parentes diretos de chefes do Executivo concorram a eleições enquanto eles estiverem no cargo. A exceção é a reeleição.
“Acho que ainda é muito cedo também para eu falar sobre, mas eu acho que tudo é uma construção, né? Acho que a gente está vendo muito feedback positivo, e acaba que dá um um gás, um ânimo na gente para essas coisas saírem da internet e irem para um outro rumo. Nem ano que vem, mesmo que ele não pudesse (tentar reeleição), eu não poderia (concorrer nas eleições), porque ele ainda vai estar como chefe de estado, ainda iria concorrer. Então, seria só daqui quatro anos de novo”, disse.
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A comunicóloga afirmou que, enquanto não pode ser candidata, seguirá estudando. “É muito muito estudo, é muito diálogo, é entender, é participar, é ler, é pesquisar. Enfim, acho que não quero chegar num Congresso, numa Câmara de Deputados, igual outras famílias que chegam, que não sabem de nada”, disse.
Leia a entrevista na íntegra:
Por que você resolveu começar a gravar esses vídeos com críticas a adversários do seu avô, como o presidente dos EUA, Donald Trump, e o governador Tarcísio de Freitas?
Sempre encontrei uma dificuldade de enxergar na esquerda, de a gente conseguir falar fora da bolha, falar para as pessoas que realmente querem entender o que está acontecendo, só que só chega para elas a versão da extrema-direita, da família Bolsonaro, enfim. Eu sempre me questionava muito: “Poxa, a gente precisa de um nome, precisa de alguém”. E aí, conversando com um amigo, ele falou: “Por que você não faz isso? Por que você não vai, fala e tenta conscientizar as pessoas de uma maneira mais popular, mais dinâmica?”. Aí gravei o primeiro e pensei: “Seja o que Deus quiser”. Gravei, deu certo. E agora estou continuando, porque acho que consegui, minimamente, furar a bolha. E, conforme o tempo vai passando, vou conseguindo chegar a mais pessoas, para elas entenderem a realidade dos fatos.
Você chegou a discutir previamente a ideia de gravar os vídeos com alguém do Palácio do Planalto ou do governo?
Foi tudo ideia minha. Até porque, quando postei o primeiro vídeo, fiquei com muito medo, porque não tinha comentado com ninguém. Só sabiam eu, meu marido e meus amigos que me ajudaram a produzir. Quando soltei, pensei: “Caraca, o que meu avô vai falar? O que vão pensar?”. Enfim, ninguém sabia. Vi matérias dizendo que provavelmente tinha o Sidônio metido e tal. Mas o Sidônio não sabia. Eu nem tenho contato dele. Meu avô viu depois, alguém mostrou para ele, acho que até a Janja. Mas eu não pedi para ninguém do Palácio, não pedi nada. Eu vou pesquisando, vou fazendo. Até porque pedir algo para o Sidônio seria até imoral, antiético. Ele trabalha para o presidente, né? Então, não tem como.
E o que o presidente achou? Ele mandou algum recado, se gostou do vídeo, se você pode continuar ou se deve parar?
Fiquei muito surpresa, porque ele gostou. Estava com medo de levar uma bronca, mas ele me parabenizou. Perguntei, obviamente, se poderia continuar, e ele disse que sim. Eu sempre deixei claro que não quero atrapalhar o governo. Então, em algum momento, se eu atrapalhar, tanto ele quanto qualquer outra pessoa tem a obrigação de me dizer: “Olha só, para, porque você está atrapalhando”. Minha intenção é informar, comunicar as pessoas sobre muitas coisas que acontecem nos bastidores e que não chegam para elas. Quando chegam, vêm de forma muito diplomática, difícil de entender. E a Dona Maria, que mora na comunidade, não vai compreender. Então, a gente tem que falar numa linguagem que todos entendam.
Algumas pessoas viram nessa sua iniciativa dos vídeos uma pretensão política. Você pretende disputar eleições no futuro?
Acho que ainda é muito cedo para falar sobre isso, mas tudo é uma construção, né? A gente tem recebido muito feedback positivo, e isso acaba dando ânimo para pensar além da internet. Não é para agora. Mesmo que ano que vem ele (Lula) não pudesse tentar reeleição, eu não poderia concorrer, porque ele ainda estaria como chefe de Estado. Então, só daqui a quatro anos. Até lá, é tempo de construção: muito estudo, diálogo, participação, leitura, pesquisa. Não quero chegar a um Congresso ou à Câmara como outras famílias que chegam sem saber nada.
Como alguém que trabalha na área, como avalia a comunicação do governo? Acha que precisa melhorar alguma coisa?
Sempre dá para melhorar. Acho que o Sidônio conseguiu, sim, fazer renascer a comunicação do Planalto. Antes, na minha visão, não estava chegando como deveria. Hoje já vejo uma melhora, mas ainda há espaço. Até porque, no ano que vem, teremos eleição, então é importante crescer ainda mais nessa comunicação. Como falei: a informação não chega como deveria. Vem muito burocrática. Teve aquele vídeo dos cachorrinhos, dos gatinhos, que é bacana, mas dá para pensar em outras possibilidades, falar mais olho no olho com as pessoas. Hoje, o corpo a corpo é o celular. Então, é saber usar melhor as redes sociais a nosso favor. Mas, de modo geral, melhorou bastante.
Você já chegou a dar alguma dica de comunicação ao Sidônio ou diretamente ao seu avô?
Para o Sidônio, não. Nem tenho esse papel, nem posso ter. É institucional. Quem sou eu para chegar e dizer o que ele tem que fazer? Já com meu avô, a gente tenta fazer ele entender muita coisa da era digital. Mas é uma pessoa de 80 anos, que vai tentando pegar a linguagem. Inclusive, nos últimos vídeos, achei que ele está mais solto. Mas é difícil. Nosso campo político não sabe usar os algoritmos, não sabe usar a internet a nosso favor. E esse é um grande problema, porque a extrema-direita mostrou como a internet pode ser uma potência. Então, acho que a esquerda precisa assumir a internet para si, fazer do jeito certo e, claro, com todas as regulamentações, para não virar bagunça nem gerar fake news de nenhum lado.
A primeira-dama Janja tem atuado na comunicação pessoal do presidente. Você acha que ela tem ajudado?
A Janja é completamente antenada. Vai pesquisando, sabendo de tudo. Ela grava, sim, meu avô em momentos íntimos, e se dá super bem com tecnologia. Acho que ela traz de volta um olhar mais humano para meu avô, que tinha se perdido com tantos escândalos, prisão, notícias ruins. Os vídeos dela mostram esse lado mais próximo: ele plantando uma árvore, pescando, cuidando dos animais abandonados. Isso aproxima o povo. Ela mostra o presidente humano, não apenas o institucional. Acho que ela tem feito um papel excelente nisso. Senão, ele ficaria só aquele cara burocrático que fala com imprensa e deputados. Esses vídeos mostram o Lula humano.
A Janja costuma ser alvo de críticas, algumas até de integrantes do governo e do PT, que a acusam de limitar acessos ou influenciar demais nas decisões do presidente. Acha que há machismo nisso?
Tenho certeza que o machismo é o grande X da questão. E o fogo amigo é o pior de todos. Isso existe, sim, nos bastidores. É um machismo estrutural enraizado. Fora o ciúme: “Eu queria estar mais perto, mas não consigo”, e jogam a culpa nela. Mas, bem ou mal, ela ajuda a blindar a imagem do meu avô, e isso protege. Acho que ela faz de tudo para ajudá-lo, jamais para prejudicá-lo. Quem ama não quer prejudicar. Ela tem um papel muito importante, mas as pessoas distorcem o que ela fala e sua imagem, muitas vezes até de forma intencional. Compará-la à Michelle Bolsonaro, por exemplo, é desnecessário. Janja não é uma primeira-dama típica: gosta de trabalhar, botar a mão na massa. Sempre trabalhou na área, e muita gente não entende. Ela não ganha salário, faz tudo porque quer, porque acredita. Cumpre bem seu papel, e as pessoas sempre vão falar, porque é mulher, porque é esposa do presidente, porque aparece mais do que o esperado. Mas eu acho que ela faz um ótimo trabalho.
Seu avô vai completar 80 anos em outubro e diz que pretende ser candidato à reeleição em 2026. Você avalia que ele está disposto fisicamente para isso?
Se juntar eu, você e todo mundo aqui, não dá a disposição dele. Ele tem muita vontade de viver e trabalhar. Se depender da saúde, esquece, não tem para ninguém. Ele vai estar super disposto. A gente já teve o exemplo do Biden, que saiu da Presidência com mais de 80 anos. Meu avô se cuida, faz exames regularmente. Para ele, a pior coisa seria ficar parado. Ano Novo, quando estamos juntos, ele sempre fala: “Como é que as pessoas conseguem não trabalhar?”. Para ele, parar é o que faz mal. Então, se tudo estiver certo, com certeza ele vai disputar, com saúde e vontade de continuar fazendo o que sabe de melhor: contribuir para o país e para quem mais precisa.