O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) planeja abrir um novo flanco de negócios envolvendo meio ambiente, financiamento e preservação ambiental ainda em 2025. O plano da entidade federal é abrir um edital de licitação até o fim do ano para o primeiro projeto de restauração de áreas públicas lastreado em créditos de carbono.
A medida é fruto de uma correção de rota do banco. Após tentar em 2022, por meio de duas chamadas públicas, a aquisição de créditos de carbono no mercado voluntário, o BNDES resolveu focar no apoio a projetos de restauração florestal, silvicultura de espécies nativas e implantação de Sistemas Agroflorestais capazes de gerar créditos.
Em 2024, com apoio do banco, um estudo do potencial de receita em pagamento por serviços ambientais (PSA) em florestas públicas e unidades de conversação no Brasil identificou 2,4 milhões de hectares em florestas públicas elegíveis para restauração florestal, com potencial de geração de créditos de cerca de 26 milhões de toneladas de carbono por ano.
A partir do estudo, em maio do ano passado, BNDES e Serviço Florestal Brasileiro (SFB) firmaram o acordo de cooperação para o projeto de restauração da Floresta Nacional do Bom Futuro, em Rondônia, com base em créditos de carbono. O projeto está sendo avaliado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
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“Não estamos falando só de uma agenda ambiental. Temos conversado com as empresas, entendendo as dificuldades do mercado e, como banco de desenvolvimento, atuando para o crescimento do setor. Nossa ambição é que o Brasil se transforme em um dos principais players mundiais da área de restauro florestal”, explica a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello.
Nesse período de correção de rota, o banco abriu crédito para o setor de restauro florestal, já tendo mobilizado R$ 516,9 milhões em operações. E em parceria com a Petrobras, estão montando o Profloresta+, um protocolo de intenções para a contratação de créditos de carbono gerados a partir de restauração florestal na Amazônia, em que o banco vai financiar os projetos e a petrolífera comprar os créditos. O objetivo é promover a restauração de até 50 mil hectares (área equivalente a 50 mil campos de futebol) de áreas degradadas na Amazônia e capturar cerca de 15 milhões de toneladas de carbono (equivalente ao emitido anualmente por quase nove milhões de carros movidos a gasolina).
“O programa contribuirá substancialmente para dar escala à restauração da floresta amazônica e com as estratégias de descarbonização das empresas brasileiras. Com a iniciativa, vamos transformar a restauração e a manutenção da floresta, tornando-os rentáveis para as empresas, para as comunidades locais e, principalmente, para o meio ambiente, combinando as demandas ambientais e climáticas do país”.
Presidente do BNDES, Aloizio Mercadante
A fase inicial da iniciativa prevê a contratação de até 5 milhões de créditos de carbono, com investimentos que devem girar em torno de R$ 450 milhões só na restauração.
Mudanças e definições
O mercado de carbono já existe no país de forma voluntária, permitindo a compensação das emissões de carbono por meio da compra de créditos ligados a ações de preservação ambiental. As negociações são feitas com base em que cada crédito de carbono corresponde a uma tonelada de CO² que deixou de ser emitida na atmosfera ou que foi eliminada, tendo como origem o Protocolo de Kyoto, firmado no Japão em 1997, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa dos países industrializados. A nível mundial, a regulação fica a cargo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.
“O mercado de créditos é uma forma de buscar a emissão zero de carbono. É preciso, no entanto, ter claro que ele é apenas mais um meio, não o único. Precisa de uma integração maior com outros meios, um projeto de larga escala, para funcionar”, aponta Guilherme Lefèvre, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e que já trabalhou como auditor de projetos de créditos de carbono no Brasil e em outros países da América Latina.
De acordo com estudo da consultoria McKinsey, divulgado em 2022, a oferta de créditos de carbono no mercado brasileiro chega a menos de 1% do potencial anual, que chega a 15% de todo o potencial global de captura de carbono por meios naturais.
Enquanto isso, em julho de 2025 completou-se apenas sete meses que o Brasil passou a ter oficialmente um mercado regulado de créditos de carbono. A legislação que foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em meados de dezembro passado instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) ainda engatinha, no entanto.
Ainda nesse estágio inicial, o Governo Federal ainda não apresentou definições sobre o modelo de criação do órgão gestor do SBCE e os detalhes operacionais do sistema para o funcionamento do mercado. “O mercado voluntário de carbono já funciona há muitos anos, mas mesmo assim ainda há um grande desafio e a limitação de quanto pode ser capturado e transformado em crédito. Tem que se pensar no mercado como um instrumento de transição para uma economia que busque a queda de emissões”, ressalta Lefèvre