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Br-319 -A estrada que nunca chega (por Roberto Caminha Filho)

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Br-319 -A estrada que nunca chega (por Roberto Caminha Filho)

Lá pelos anos de 1964, os brasileiros começaram a sentir a necessidade de juntar o esquecido Norte do Brasil ao resto da pátria, dirigida e pensada por militares, após a Revolução de 31 de março de 1964. Era integrar ou perder tudo. Haviam pensamentos das mais diversas formas sobre a ocupação da Amazônia, tais como: um grande lago ou uma ocupação como os ingleses e franceses sempre fizeram, na África e na Oceania. Aqui no hemisfério sul, bem na frente da Argentina, os ingleses, sem o menor problema, ficaram com as Ilhas Falkland e experimentamos uma guerra com muitas mortes e sem que os ilhéus pudessem opinar pela bandeira a ser abraçada. Após o conflito e as mortes, os habitantes das Malvinas, como nós nos acostumamos a chamá-las, decidiram, quase por unanimidade, serem ingleses.

Vamos trazer este problema para nós, habitantes da Amazônia, este continente tão falado e tão conhecido por amazonólogos da Suécia, do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Rússia, e pouco amado pelos amazonenses nascidos na Av. Paulista, Praia de Ipanema e recentemente por uma Extra-Terrestre, que implicou com os amazonenses, roraimenses, acrianos e rondonienses. Essa autoridade, tem direito a dar pitaco nas orelhas do nosso Presidente, que sempre foi benevolente com os nortistas. A encrenqueira conseguiu, mais uma vez, com que ficássemos isolados dos nossos irmãos brasileiros, por puro diletantismo ou por pura feiura. Este E.T., que nunca fez nada de bom e tudo de ruim, desceu na sua nave, aqui na Amazônia, cresceu no Acre e foi driblar o Estado de São Paulo, onde elegeu-se Deputada Federal e estabeleceu-se nas orelhas do Presidente Lula. Se existe um presidente que nunca negou nada para a Região Norte, esse presidente é o Luiz Inácio Lula da Silva.

Se existe uma rodovia que virou piada pronta, é a BR-319. Nos mapas, ela está lá, ligando Manaus a Porto Velho. Na vida real, ela é como personagem de lenda amazônica: aparece nas promessas de campanha, some no barro das chuvas e reaparece como manchete a cada novo veto. E os trabalhadores continuam usando o barreiro que não agrada nem ao sagrado MST.

Lula sempre se apresentou como amigo do Norte. Distribuiu cargos, recursos e discursos calorosos. Mas quando os caboclos amazonenses e roraimenses acharam que, finalmente poderia rodar até Rondônia sem precisar de avião caro ou barco atolado, veio a caneta vermelha: veto no asfaltamento.

Essa deputada, de fala mansa e jeito doce, carrega em sua voz um peso enorme: cada vez que veta, o Norte regride décadas. Nos jornais, já a chamaram de Joana d’Arc da floresta, armada não com espada, mas com inimagináveis relatórios ambientais. Para ela, estrada soa como motosserra e desenvolvimento é napalm, a substância inflamável à base de gasolina e espessantes, que foi usada em bombas e lança-chamas, na guerra do Vietnam.

Mas quem vive aqui sabe: estrada também pode ser vida. Durante a pandemia, quando o oxigênio não chegou a tempo, milhares morreram. Durante a grande seca de 2023, os barcos encalharam, e o feijão, arroz, tomate e alho, tiveram que vir de avião. Em qualquer outra parte do Brasil, o asfalto salva. Aqui, o veto da E.T., nos condena.

É claro que há risco ambiental. O desmatamento pode vir junto com o asfalto. Mas a pergunta é inevitável: por que só o Norte paga essa conta? O Sudeste, com suas barragens estouradas e canaviais sem fim, não sofreu veto. O Sul, com rodovias duplicadas, nunca foi lembrado como ameaça. A Mata Atlântica foi para o espaço com mutuns e guarás. Por que a região que mais preserva é justamente a que mais sofre pela preservação?

O povo costuma dizer que os rios são as estradas do caboclo e as canoas, seus caminhões. Bonita metáfora, mas cansativa. Enquanto o resto do Brasil circula de carro, ônibus e trem, o nortista rema. É como se o país estivesse em 2025, mas o Norte ainda preso em 1500, disputando espaço com botos, sucuris e jacarés.
A BR-319 poderia ser mais do que asfalto: poderia ser integração, logística, segurança alimentar. Com tecnologia de monitoramento e fiscalização séria, seria possível equilibrar preservação e desenvolvimento. Mas, por comodismo, preferiram a saída fácil: o veto.

Assim seguimos, com a estrada invisível, a estrada negada, a estrada que nunca chega. Enquanto isso, o asfalto continua brilhando no Sul e no Sudeste. O Norte, mais uma vez, segue isolado, remando contra a maré — à espera de que um dia, entre promessas e vetos, chegue de verdade o direito ao asfalto.

A sua implicância com o Norte é por pura maldade ou somente por feiura? O Presidente, este nós conhecemos, só fez o Bem para nós. Saia de perto do Presidente, deixe de ser má, Malévola Curupira. Os meus familiares desejam a esta deputada, que na hora da sua passagem para o outro plano, essa senhora tenha toda a assistência e amor de familiares. Nós mandaremos, apenas, um espelho. Meus primos e amigos, Senhora Autoridade, morreram sem o direito ao oxigênio, por falta de estrada.

 

Roberto Caminha Filho, economista, sempre soube escolher entre a Malévola e o Curupira

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