Rondas, salves e autorizações para matar. Parte do funcionamento da maior facção brasileira na capital do país foi desmantelada após um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Distrito Federal deixar cair o celular em uma tentativa de homicídio articulada pelo grupo criminoso. O aparelho foi periciado por agentes da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), que identificaram a trama assassina, desde o planejamento inicial até a execução do delito.
Na noite de 5 de fevereiro deste ano, moradores da quadra 604 do Recanto das Emas ouviram ao menos seis disparos. Um homem de 21 anos anos foi alvejado pelo corpo, e o atirador fugiu na garupa de uma motocicleta. Na fuga, contudo, um dos suspeitos deixou cair um smartphone da marca Xiaomi, que estava em pleno funcionamento e com a conta configurada no nome de usuário de Kaio Eduardo Santana da Silva (foto em destaque). Ele é procurado pela Polícia Civil do DF.
A vítima foi transportada ao Hospital Regional (HRG) para equipe de plantão. Após seis horas no centro cirúrgico, o jovem baleado saiu do perigo e já podia ser encaminhado à enfermaria. O nome da vítima não será divulgado.
Investigação
Com a extração da memória do celular, a partir de autorização judicial, a polícia identificou que Kaio é um integrante “batizado” do Primeiro Comando da Capital (PCC), e que obedece orientações de lideranças regionais e nacionais. As conversas são feitas em grupos de WhatsApp, que discutem as diretrizes da facção, monitoramento de rivais, sanções disciplinares e operações criminosas.
Veja o momento do crime:
Kaio é conhecido no grupo como “PL” e ocupa o cargo de “disciplina” do PCC no Recanto das Emas. Na hierarquia da facção, o disciplinador atua como elo direto entre a base e a cúpula da facção, repassando ordens e garantindo sua execução. O posto tem ainda a responsabilidade de fiscalizar e impor as normas do grupo criminoso, tanto a quem descumpre quanto aos de facções rivais, como o Comando Vermelho e o Comboio do Cão – ambos presentes no Distrito Federal. Kaio era responsável pela área do Recanto das Emas.
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A investigação identificou disciplina em outras regiões administrativas, como no Sol Nascente. Os disciplinadores estão subordinados ao Geral, que atua na liderança da facção no DF para repassar as ordens à liderança de São Paulo, onde funciona a matriz da organização criminosa. Em grupos, os “disciplinas” avisam ao geral se está tudo sob controle nas regiões, como uma ronda pelo DF.
Autorização para matar e planejamento
A investigação descobriu que um membro do PCC precisa da autorização de lideranças nacionais para planejar um crime no DF. No caso de fevereiro, Kaio denunciou a vítima ao Geral por supostamente fazer parte do Comando Vermelho no DF. O caso foi levado à alta cúpula da organização de São Paulo, em que Kaio precisou defender as motivações para matar a vítima.
Os líderes paulistas autorizaram o crime ainda em janeiro, e o assassinato do jovem de 21 anos começou a ser planejado. Os faccionados passam a monitorar os passos da vítima nas redes sociais. Eles também compartilham fotos do homem marcado para morrer.
A facção organiza o meio de transporte, o pistoleiro que vai atirar, a arma, a rota de fuga e o esconderijo do crime. O grupo organizou uma emboscada à vítima, surpreendendo o jovem com os disparos.
Apesar do planejamento minucioso, a vítima sobreviveu ao ataque bélico. Após o plano ter sido frustrado, Kaio, que naquela noite pilotava a motocicleta do crime, fugiu e não foi mais encontrado. Denúncias anônimas podem ser feitas pelo número 197. O sigilo é garantido.