As chances de punição aos deputados que se amotinaram no plenário da Câmara na última semana são mínimas.
A coluna apurou que integrantes do comando da Casa, que reúne sete parlamentares, tendem a arrastar o caso ao máximo, de forma que caia no esquecimento — apesar da vontade do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB).
“A maioria das vezes o tempo resolve. Prefiro trabalhar em cima do que nos une do que do que nos afasta. A saída é priorizar pautas que unam o Parlamento”, afirmou à coluna um integrante da Mesa Diretora, reverberando o que a coluna ouviu de outros colegas.
Também não se deve esperar do corregedor da Câmara, Diego Coronel (PSD-BA), algo diferente. Parlamentares que conhecem o deputado disseram à coluna que não é de seu perfil entrar em confusão. O mais provável é que tome uma decisão salomônica.
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Além disso, há questões eleitorais envolvidas. O pai do deputado, senador Angelo Coronel (PSD-BA), foi rifado pelo PT e não terá o apoio do partido para sua candidatura à reeleição em 2026. O PT irá apoiar, desta vez, o ministro Rui Costa. Com isso, o senador busca apoio em outras correntes políticas para renovar o mandato. Em ano pré-eleitoral, qualquer decisão no Congresso passará pelo cálculo político.
Se, mesmo assim, o caso avançar na Corregedoria e na Mesa Diretora, há chance de blindagem pelo Conselho de Ética.
Presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Fabio Schiochet, faz arminha ao convidar Bolsonaro para festa do tiro, em junho de 2021
O presidente do colegiado, deputado Fabio Schiochet (União Brasil-SC), a quem cabe colocar o assunto em pauta, já se vangloriou de ser o deputado “mais alinhado” ao governo Bolsonaro, convidou o ex-presidente para tradicional Festa do Tiro, a Schützenfest em 2021 com o argumento de que “nós gostamos de atirar, né presidente”, e apoiou a proposta de anistia aos presos do 8 de janeiro.
Hugo Motta defende punição
O movimento para punir 14 deputados que participaram do motim partiu do presidente da Câmara. Ele enviou na última semana pedido para a corregedoria se manifestar.
Os deputados bolsonaristas passaram 30 horas na cadeira de Hugo Motta para força-lo a pautar o projeto de anistia. O sequestro ocorreu em retaliação a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro imposta pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo.
Na pauta de exigências para devolverem o plenário está a anistia, o impeachment de Moraes e o fim do foro privilegiado – o que tira do Supremo a prerrogativa de julgar parlamentares.
O PL, em contrapartida, apresentou uma representação sexta-feira (8/8) contra a deputada Camila Jara (PT-MS) por agressão contra o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), mas seu nome não consta na lista enviada por Motta à Corregedoria.
Inicialmente, a Mesa Diretora havia informado que “todas” as representações tinham sido encaminhadas. O Metrópoles questionou o motivo pelo qual a deputada não está na lista, mas não obteve resposta até a publicação dessa reportagem.