“Na guerra, o primeiro vitorioso é o superlativo”. Essa frase é repetida pelo experiente jornalista João Bosco Rabello quando sugere cuidado aos analistas políticos.
O que Bosco quer dizer é que é preciso separar o sinal do ruído, parafraseando o famoso livro de predições escrito pelo estatístico Nate Silver. Buscar entender o que os atores estão de fato buscando e o que pode ser obtido é chave para escapar o histerismo e das performances.
Observadores do Congresso dizem que a melhor estratégia hoje, para os interesses do Legislativo, é jogar parado, aguardando que o governo e o STF sofram enquanto buscam suas soluções para as múltiplas crises nas quais estão envolvidos.
Se não fizer nada, o Congresso já sairá ganhando no embate com os outros poderes que contextualiza a cena política atual. Nesse sentido, votar a anistia não é de interesse da maioria, assim como o impeachment de um ministro do STF passa longe dos desejos do senador Davi Alcolumbre por ora.
O que pode entrar na pauta é a recuperação de prerrogativas parlamentares, como o debate sobre as condições para a prisão de deputados e senadores e, talvez, o fim do foro privilegiado, dado que muitos deputados e senadores vêm ministros usando investigações como instrumentos de barganha para manter interesses corporativos do Judiciário.
No caso do governo, há espaço real de negociação no caso da mineração de terras raras. Os EUA precisam muito do insumo e o Brasil poderia aproveitar essa oportunidade para desenvolver uma cadeia produtiva com investimentos americanos. No horizonte estaria um acordo entre governos sobre alguma reserva de exploração para os EUA, algo que seria inédito na nossa história.
A regulamentação e a taxação de big techs também pode entrar na pauta, assim como uma colaboração mais efetiva de combate ao crime organizado, um tema que foi anunciado como “a prioridade” dos EUA para o continente latino-americano. É importante ressaltar que corrupção e crime organizado são apontados por eles como catalizadores do fechamento do regime venezuelano.
Outros atores também vão se cacifando. Destaque para a valorização obtida pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro Fernando Haddad. O primeiro vem fazendo contraponto à retórica de Lula e detém os poucos canais abertos existentes. O segundo tem demonstrado domínio cada vez maior do governo e alimentando impressão de que pode ser efetivado como sucessor presidencial.
Por parte do Judiciário, não se deve esperar nada a não ser as notícias de divisão interna. Vale lembrar que, apesar de ser um dos atores mais poderosos, o STF também é um dos mais engessados.
Qualquer articulação que tenha por objetivo alterar o curso do julgamento de Bolsonaro teria que vir por meio do Congresso. Como diz o consultor João Hummel, um dos mais ouvidos de Brasília, fazendo referência ao ministro Gilmar Mendes, o STF tem a decisão final sobre um fato. Mas quem cria ou modifica o fato é a política.
Mas, de novo, depois de uma maratona de intervenções e ataques do Judiciário e do Executivo contra o Congresso, não se deve esperar dos deputados e senadores que trabalhem ativamente para um acordão agora porque a crise do Executivo e, especialmente, do Judiciário, interessa à maioria dos deputados e senadores que querem manter a força do Legislativo e organizar uma chapa presidencial competitiva em 2026.
Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política (UnB)