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Dentes de 300 mil anos revelam cruzamento entre humanos e Homo erectus

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Dentes de 300 mil anos revelam cruzamento entre humanos e Homo erectus

Uma coleção de 21 dentes humanos com pelo menos 300 mil anos de idade trouxe novas pistas sobre a evolução dos humanos na Ásia. Os fósseis foram encontrados no sítio arqueológico de Hualongdong, no sul da China, e pertencem a um grupo misterioso de hominídeos que viveu na região durante o período do Pleistoceno Médio.

O que mais chama atenção nos dentes é a mistura incomum de traços primitivos e modernos. Eles combinam, por exemplo, raízes espessas e robustas, típicas do Homo erectus, com a redução do tamanho dos dentes do siso, uma característica associada ao Homo sapiens. Essa mistura fez os pesquisadores levantarem a hipótese de que os dois grupos possam ter cruzado entre si.

“É um mosaico de características nunca vistas antes, quase como se o relógio evolucionário estivesse correndo em velocidades diferentes em diferentes partes do corpo”, afirmou a paleoantropóloga María Martinón-Torres, uma das autoras do estudo, do Centro Nacional de Pesquisa em Evolução Humana da Espanha, em comunicado.

O estudo foi publicado no Journal of Human Evolution e reforça a ideia de que a evolução humana no continente asiático foi mais complexa do que se acreditava.

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Mistura entre espécies pode explicar características

O povo de Hualongdong, como ficaram conhecidos os indivíduos que viveram na região, foi descoberto em 2006. Desde então, restos mortais de ao menos 16 pessoas foram identificados no sítio arqueológico. Inicialmente, os fósseis foram classificados como pertencentes a uma forma asiática do H. erectus, espécie que chegou à China há cerca de 1,7 milhão de anos.

Mas as análises mais recentes revelaram que os ossos e dentes do povo de Hualongdong têm uma mistura de traços que não se encaixam em uma única categoria. As proporções do corpo lembram as do H. erectus, mas os traços do rosto são mais parecidos com os dos humanos modernos.

Para os autores do estudo, uma das hipóteses é que os Hualongdong fossem uma população intimamente relacionada ao H. sapiens, mas distinta dos neandertais e dos denisovanos, que também conviveram com nossos ancestrais. Outra possibilidade é que as características sejam resultado do fluxo genético com uma forma mais arcaica, como o H. erectus.

“O mais provável é que estejamos vendo sinais de cruzamento entre diferentes espécies do gênero Homo, ou talvez até a emergência de um novo ramo a partir dessas misturas”, explicou José María Bermúdez de Castro, paleobiólogo e coautor do estudo, em comunicado.

Ásia abriga diversidade ainda pouco compreendida

Nos últimos anos, novas descobertas de fósseis no continente asiático vêm revelando que a região abrigou uma diversidade de espécies humanas maior do que se imaginava.

Em 2019, a espécie Homo luzonensis foi identificada nas Filipinas. Já na China, surgiram os fósseis do Homo longi e, mais recentemente, do Homo juluensis, ambos com idade estimada entre 150 mil a 300 mil anos.

A complexidade do cenário levou os pesquisadores a questionar a narrativa tradicional da evolução humana, que por muito tempo foi centrada quase exclusivamente na África e na Europa.

“A descoberta de Hualongdong nos lembra que a evolução humana não foi linear nem uniforme, e que a Ásia sediou múltiplos experimentos evolutivos com resultados anatômicos únicos”, destacou Bermúdez de Castro.

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