Você já ouviu falar que o intestino é o “segundo cérebro”? A afirmação vai além da metáfora e tem base científica. Segundo a neurocirurgiã vascular Marcelle Rehem, especialista em neurorradiologia intervencionista pelo Hôpital Bicêtre, em Paris, existe um verdadeiro sistema de comunicação entre os dois órgãos, chamado de eixo intestino-cérebro.
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De acordo com a especialista, esse diálogo acontece por quatro sistemas principais: sistema nervoso central, sistema nervoso autônomo, sistema nervoso entérico e o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. “Estes sistemas trocam sinais e informações através de vias neurais, hormonais, imunológicas e celulares, e essa interação promove o funcionamento fisiológico destas estruturas e influencia o funcionamento do organismo do indivíduo”, explica a médica.
O sistema nervoso autônomo, por exemplo, controla as funções do intestino por meio das vias simpática e parassimpática, regulando motilidade, secreções e permeabilidade intestinal. A médica cita como exemplo as situações de “luta e fuga”, nas quais o sistema simpático reduz a atividade digestiva e redireciona o sangue para órgãos prioritários para a sobrevivência.
Segundo Marcelle, outro componente importante dessa interação é o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
Ele aciona a liberação de substâncias como o cortisol — conhecido como hormônio do estresse — que, além de tornar o intestino mais permeável a toxinas e bactérias, também reduz a atuação das células de defesa na região. “A exposição crônica ao cortisol, com estresse persistente, por exemplo, leva à redução da motilidade intestinal, algo semelhante ao que acontece na Síndrome do Intestino Irritável”, complementa.
Uma via de mão dupla
A saúde intestinal, segunda a médica, também impacta diretamente o funcionamento do cérebro. Marcelle exemplifica que pessoas diagnosticadas com ansiedade e depressão, por exemplo, podem apresentar maior presença de bactérias pró-inflamatórias no intestino e menor quantidade daquelas que produzem substâncias anti-inflamatórias, como os ácidos graxos de cadeia curta.
“Os distúrbios da microbiota alteram os níveis de serotonina, GABA e dopamina, fundamentais na regulação do humor”, diz a médica.
Esses neurotransmissores, apesar de associados ao cérebro, também são produzidos no intestino.
“Existem células próprias do intestino, como as células enterochromaffins, mas também a própria microbiota, que produzem neurotransmissores como serotonina, dopamina, noradrenalina, adrenalina e GABA. Localmente, irão atuar influenciando a motilidade intestinal e a absorção de nutrientes, e atuam também estimulando vias que sobem até o cérebro e modulando as atividades centrais”, emenda.
Alimentação e emoções: papel decisivo no eixo intestino-cérebro
Intervenções alimentares adequadas também podem impactar diretamente o bem-estar mental. A médica cita um importante estudo que comprovou essa relação: “O ensaio clínico randomizado SMILES foi o primeiro a demonstrar que melhorar a qualidade da dieta pode reduzir de forma significativa os sintomas de depressão maior”, relata.
No estudo citado pela especialista, um dos grupos de pacientes com depressão foi orientado a manter uma dieta rica em vegetais, frutas, cereais integrais, leguminosas, peixes, carnes magras e laticínios sem açúcar. Após 12 semanas, esse grupo apresentou uma taxa de remissão dos sintomas de 32%, contra apenas 8% do grupo que não recebeu intervenção alimentar.
Além da qualidade da alimentação, alguns nutrientes ganham destaque: “O ômega 3 presente em peixes integra membranas neuronais, afetando o funcionamento da serotonina e da dopamina. O triptofano, presente em carnes magras, oleaginosas, cereais integrais e no chocolate com mais de 70% cacau, associado a carboidratos de fontes integrais, favorece a produção da serotonina”, exemplifica.
Alimentos fermentados como kefir e kimchi são apontados como benéficos para a diversidade da microbiota e o controle da inflamação.
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Vilões silenciosos
Marcelle alerta que a saúde mental é outro fator que pode impactar negativamente o intestino, especialmente em um estilo de vida acelerado e com alimentação baseada em ultraprocessados. “Os efeitos do estresse e a necessidade de reduzir a alimentação a ultraprocessados para tentar encaixar praticidade à vida cada vez mais corrida estimulam os mecanismos presentes na fisiologia normal a atuar de forma nociva em todo o organismo e em especial, no eixo cérebro-intestino”, defende.
A médica conclui com uma recomendação essencial para o equilíbrio dessa conexão: “É crucial, para ter uma melhor saúde cerebral e intestinal, o foco na vida saudável pautada em exercícios físicos, hidratação e alimentação balanceada e sem excessos, favorecendo o funcionamento fisiológico do eixo e promovendo maior qualidade e longevidade.”