Mulheres heterossexuais vivem uma crise silenciosa sobre se relacionar com homens da mesma orientação sexual. Muitas delas perceberam que, embora possam namorar, amar, casar e ter filhos com eles, nem sempre gostam tanto assim das atitudes e comportamentos dos parceiros. Não à toa, o sentimento ganhou até um nome: heteropessimismo.
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Cunhado pela escritora americana Asa Seresin em um artigo de 2019 para site The New Inquiry, o heteropessimismo “consiste em desfiliações performativas com a heterossexualidade, geralmente expressas na forma de arrependimento, constrangimento ou desesperança em relação à experiência heterossexual”.
A psicóloga Luciana Bricci aponta que o heteropessimismo é um termo que se refere ao sentimento de desilusão, ceticismo ou desconfiança generalizada em relação aos homens, especialmente no contexto de relacionamentos afetivos.
O heteropessimismo, de acordo com a expert, pode ser compreendido como resultado de crenças centrais negativas e esquemas cognitivos disfuncionais, que se formam a partir de experiências de rejeição, abandono, traição ou violência emocional.
É possível reverter o heteropessismo?
A psicóloga especialista em relacionamentos Gabriela Medeiros comenta que o heteropessimismo vem de um cansaço coletivo, bem como da repetição de histórias e narrativas frustrantes ao lado de homens — seja pela forma como eles lidam com a relação, seja pela maneira como tratam as mulheres ou, ainda, como interpretam as diferenças de gênero. Não sobram razões para que o heteropessimismo encontre terreno e força no imaginário e nas vivências femininas.
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“Não acredito que o heteropessimismo deva ser ‘revertido’, pois o enxergo como um avanço cultural. Ele é um sinal de que as mulheres estão questionando seu papel social e rejeitando dinâmicas que, antes, aceitavam por pressão ou convenção”, pontua a Gabriela.
Luciana, por sua vez, acrescenta que o heteropessimismo não é algo a ser revertido com otimismo ingênuo ou pensamento positivo superficial. “Ele precisa ser acolhido, compreendido e integrado — como defesa legítima de alguém que aprendeu a se proteger do amor por ter sido ferida por ele.”
O heteropessimismo, defendem as especialistas, não é frescura, exagero ou drama. “Ele é um reflexo de vivências dolorosas que, quando não elaboradas, tornam-se muros emocionais. Também pode ser o ponto de partida para um processo de cura”, reforça Luciana.
Gabriela também comenta que a romantização do amor heterossexual tradicional tem contribuído para o sofrimento psíquico de mulheres, resultando em ansiedade, depressão e baixa autoestima.
Historicamente, espera-se das parceiras um conjunto de comportamentos e sacrifícios que raramente são exigidos dos homens. Se a ideia é entender esse sentimento e quiçá superá-lo, o ideal é sempre investir no diálogo, ser transparente com os próprios desejos e, se possível, fazer análise ou terapia.