A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou, nas primeiras horas desta quarta-feira (20/8), operação para desarticular um grupo criminoso que fingia ser da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e cometia extorsões virtuais contra homens que acessavam sites de prostituição, tanto no DF quanto em outras unidades da Federação.
A operação “Falso Anúncio”, conduzida pela 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro), com o apoio da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), cumpre cinco mandados de prisão temporária e cinco de busca e apreensão expedidos pela Justiça Criminal do DF.
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A investigação teve início em fevereiro deste ano, após a vítima, um homem de 31 anos, ter acessado um site de acompanhantes e ser extorquido pelo bando.
Veja imagens dos anúncios falsos:
Material cedido ao Metrópoles
Material cedido ao Metrópoles
Prostituta fake
Na ocasião, após conversar com uma suposta garota de programa que se apresentava como disponível para os serviços, o cliente acertou o programa pelo valor de R$ 100 em um hotel de Taguatinga.
Ao chegar ao local, o homem foi orientado a realizar o depósito do valor combinado, o que fez imediatamente por meio de transferência via Pix.
Logo após o pagamento, foi surpreendido com uma nova exigência: a suposta acompanhante afirmou que seria necessário um pagamento adicional de mais R$ 100 para que o quarto fosse liberado. Diante disso, a vítima passou a desconfiar do esquema e informou que desistiria do encontro.
Foi então que começou a receber mensagens ameaçadoras por WhatsApp, enviadas por um homem que se identificou como integrante do PCC.
O golpista afirmou ser o cafetão da garota de programa e exigiu o pagamento de mais R$ 500, sob a alegação de que a vítima havia atrapalhado a agenda da prostituta, a qual teria desmarcado outros compromissos e ficado no prejuízo.
Ameaça de morte
As ameaças eram diretas e graves: o criminoso afirmou que mataria a vítima caso o valor não fosse pago.
Para agravar o medo, os criminosos enviaram fotos da família da vítima e de um de seus veículos, imagens que estavam publicadas no Instagram do cliente, demonstrando ter feito um rastreamento detalhado das redes sociais do homem.
Temendo por sua integridade física e a de seus familiares, a vítima realizou o depósito de R$ 500, totalizando R$ 600 pagos aos criminosos. Após o segundo pagamento, os suspeitos não cessaram as exigências.
Passaram a cobrar mais R$ 1,5 mil, alegando que só assim “colocariam uma pedra em cima do assunto”. Diante da impossibilidade e do risco crescente, a vítima recusou-se a pagar o novo valor e, imediatamente, se dirigiu à delegacia para registrar ocorrência e relatar todo o ocorrido.
Valores exigidos da vítima
- R$ 100 – Valor inicial combinado;
- Mais R$ 100 – Valor adicional exigido após o primeiro pagamento, sob falsa justificativa de “liberação do quarto”;
- R$ 500 – Valor pago sob ameaça de morte;
- R$ 1,5 mil – Valor exigido posteriormente para “encerrar o caso”
- Total exigido: R$ 2,1 mil
- Total efetivamente pago pela vítima: R$ 600
Estrutura criminosa
A análise de dados bancários, telefônicos e cadastrais revelou a existência de uma associação criminosa estruturada, com divisão clara de tarefas entre os envolvidos.
Os cinco investigados, sendo três homens e duas mulheres, têm idades entre 21 e 27 anos, e são naturais do município de Montes Claros (MG), onde todos os endereços investigados foram localizados.
Funções dentro do grupo:
- Uma mulher de 23 anos era responsável pela criação dos anúncios falsos, interlocução direta com as vítimas e envio de mensagens ameaçadoras. Utilizava números de telefone e e-mails falsos, operando a partir de aparelhos celulares com múltiplos chips.
- Um homem de 27 anos atuava como operador das contas bancárias e recebedor dos valores ilícitos via Pix, coordenando o fluxo financeiro do esquema.
- Um homem de 21 anos ficava responsável por alterar os números de telefone nos anúncios logo após a consumação dos golpes, com o objetivo de dificultar o rastreamento pelas autoridades.
- Duas pessoas, de 21 e 23 anos, atuavam como “laranjas” ou “conteiros”, fornecendo dados bancários e chaves Pix para receber os valores extorquidos, caracterizando indícios de lavagem de dinheiro.
Ocultação digital
Os criminosos utilizavam técnicas avançadas de ocultação digital, como a troca frequente de números de telefone, o uso de múltiplos chips e e-mails falsos, além de contas bancárias em nomes de terceiros.
Um dos números usados nas ameaças chegou a ser cancelado dias antes do crime e reativado em nome de uma empresa, evidenciando tentativa deliberada de ocultar a autoria.
A investigação revelou que o grupo atua de forma reiterada e em âmbito nacional. Além do caso em apuração, foram identificadas outras três ocorrências no DF com a mesma metodologia criminosa, envolvendo extorsão, ameaça e uso de anúncios falsos.
Anúncios idênticos foram localizados em outros sites de acompanhantes, todos vinculados aos mesmos e-mails e estrutura de pagamento.
Ações deflagradas
A operação ocorre simultaneamente nos cinco endereços identificados em Montes Claros MG), com o objetivo de prender os integrantes do grupo criminoso e preservar provas digitais e materiais que possam comprovar a atuação criminosa e ampliar o raio de investigação.
Além da prisão temporária dos suspeitos, os mandados de busca e apreensão visam a apreensão de celulares, computadores, documentos, mídias digitais, chaves Pix e eventuais valores em espécie, elementos essenciais para a continuidade das investigações e identificação de novas vítimas.