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    Fiocruz aponta termelétrica do DF como empreendimento nocivo à saúde

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    A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) incluiu a proposta da Usina Termelétrica Brasília, em Samambaia (DF), como um dos 667 empreendimentos que prejudicam o meio-ambiente e a saúde no Brasil. O projeto consta no Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde.

    A Fiocruz considerou que a implementação da usina vai apresentar efeitos nocivos à saúde, com doenças respiratórias e piora da qualidade de vida no local.

    8 imagensTermelétrica vai puxar 100 mil litros por hora do rio Melchior Escola Guariroba deverá ser realocada pela segunda vez Para funcionar termelétrica, será necessário construir gasoduto de São Paulo para o DFProjeto de termelétrica de SamambaiaFechar modal.1 de 8

    Termelétrica de Samambaia prevê gerar 1,4 mil megawatts de energia

    Rima Termelétrica/Reprodução2 de 8

    Termelétrica vai puxar 100 mil litros por hora do rio Melchior

    Foto: VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto3 de 8

    Escola Guariroba deverá ser realocada pela segunda vez

    Foto: VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto4 de 8

    Para funcionar termelétrica, será necessário construir gasoduto de São Paulo para o DF

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    Projeto de termelétrica de Samambaia

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    Localização da termelétrica

    Rima Termelétrica/Reprodução8 de 8

    Rio Melchior é Classe IV de poluição

    Foto: VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto

    Já em relação ao meio-ambiente, a fundação destacou o assoreamento de recurso hídrico, contaminação ou intoxicação por substâncias nocivas, desmatamento, queimada, irregularidade na autorização ou licenciamento ambiental, mudanças climáticas, poluição atmosférica e poluição de recurso hídrico.

    O projeto para construção da termelétrica tramita no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A audiência pública foi suspensa em junho, após protestos contra a instalação. Até o momento, não foi divulgada uma nova data para a audiência.

    Entenda a usina:

    • A usina de Samambaia prevê gerar sozinha 1.470 megawatts
    • Essa energia entraria para o Sistema Interligado Nacional (SIN) para abastecer o país, e significaria a mudança da matriz energética do Distrito Federal que tem, atualmente, como sua principal fonte de energia o abastecimento por hidrelétricas – Furnas e Itaipu, consideradas energias renováveis.
    • A usina terá três turbinas a gás, três caldeiras de recuperação e uma turbina a vapor
    • A energia gerada ligará a usina à subestação de Samambaia por uma linha de transmissão de 6,29 quilômetros.
    • Uma adutora ligada à usina pretende captar um volume de 110m³/h de água no rio Melchior (foto em destaque), que estará a apenas 500 metros da margem
    • Após usar a água, a usina pretende devolver 104 m³/h ao rio.
    • Como o DF não tem gás natural, projeto prevê a construção de um gasoduto de São Carlos (SP) para Samambaia
    • Esse modelo seria implantado e ficaria sob responsabilidade da Transportadora de Gás Brasil Central (TGBC), que pertence ao mesmo sócio da empresa responsável pela usina: Carlos Suarez, também conhecido como Rei do Gás.

    Com a usina, o Distrito Federal passa a ter cinco pontos incluídos na lista da Fiocruz, sendo dois em Samambaia: a termelétrica e o aterro sanitário.

    Além deles, uma fazenda em Planaltina é apontada pelo uso de agrotóxico, a área do lixão da Estrutural (mesmo desativada desde 2018) e conflito pelo santuário indígena no Noroeste.

    Veja funcionamento

    A usina é movida a gás natural e para seu funcionamento seria necessário construir um gasoduto trazendo a matéria prima de São Carlos (SP) ao Distrito Federal, já que o DF não possui esse recurso. O tema causa conflito por se apresentar como caro e poluente, mas também por garantir uma segurança energética maior para o DF e para o país.

    Pensando nisso, o Metrópoles preparou uma animação mostrando o funcionamento e os efeitos desse tipo de construção.

    Assista:

    Trâmite

    Se aprovada, uma usina que gera energia à base de gás metano será construída em Samambaia pegando até uma faixa do Recanto das Emas. A área de influência, contudo, será ainda maior. Especialistas ainda dizem que os malefícios do empreendimento podem chegar ao Distrito Federal em períodos de seca. Isso por ser uma usina à base de uma energia poluente, o que afeta a qualidade do ar, especialmente, em períodos em que o ar já não está puro, como na estiagem.

    Ainda há dúvidas quanto aos reais impactos da termelétrica. As informações da empresa por si só apresentam contrastes. Para a liberação da licença, a Ambientare preparou o Relatório de Impacto do Meio Ambiente (RIMA) e o Estudo de Impacto Ambiental (EIA). O Rima é um resumo do EIA, pontuando alguns aspectos do estudo. É relatório que fica disponível para a população consultar e tirar as principais dúvidas.

    O EIA, contudo, é um material mais robusto, feito para que uma equipe técnica avalie os dados informados para liberação das licenças. Em relação aos efeitos, chama a atenção que enquanto o Rima aponta que “a qualidade do ar será pouco impactada quando a usina estiver em pleno funcionamento”.

    O estudo mais completo, por sua vez, diz o contrário. “Na fase operacional, a diminuição da qualidade do ar decorrerá da queima de gás natural que tem o potencial de expelir contaminantes para a atmosfera”.  O documento ainda continua a descrever o prognóstico local a partir da implementação da termelétrica.

    “No que se refere aos fatores que afetam os elementos do ambiente físico, a instalação da usina resulta em um aumento significativo nos fatores de pressão ambiental, com impacto notável na qualidade do ar, devido às emissões de poluentes atmosféricos pelas indústrias. Além disso, observam-se elevações nos níveis de poluição sonora”, completa o texto.

    Questionada sobre as diferenças entre o Rima e o EIA em informações, a empresa alegou, em nota, que, como  em qualquer grande obra, a implantação de uma termelétrica pode gerar impactos temporários durante a fase de construção. “Na operação, a usina utilizará gás natural — combustível fóssil de menor emissão, sem enxofre, material particulado e com baixo índice de CO₂”, apresentou.

    Segundo a empresa, as emissões de CO e NOx ficarão abaixo dos limites legais, sem produção de odores ou risco de chuva ácida. “Estudos indicam que não haverá impactos à saúde da população, e o gás natural utilizado está livre de enxofre”, informou sem apresentar a pesquisa.

    A empresa ainda garantiu que a qualidade do ar será monitorada continuamente, com divulgação pública dos dados conforme exigência do IBAMA. “A localização da usina, distante de áreas densamente povoadas, ajudará a minimizar impactos, e o nível de ruído não ultrapassará 40 dBA — equivalente a uma conversa comum”, completou.

    O Metrópoles também questionou sobre a classificação da Fiocruz, mas não obteve resposta até a última atualização deste texto.