Um grupo de pesquisadores do Instituto Geológico Nacional da Polônia identificou na região das Montanhas de Santa Cruz, no país, o que pode ser o registro mais antigo de peixes tentando se mover em terra firme.
As marcas fossilizadas, descritas em estudo publicado em 6 de agosto na revista Scientific Reports, datam do período Devoniano Inferior, entre 419 e 393 milhões de anos atrás, e indicam que os animais já ensaiavam movimentos fora da água milhões de anos antes do surgimento dos primeiros tetrápodes terrestres, como anfíbios (como sapos e salamandras) e répteis (como lagartos e tartarugas).
As trilhas foram atribuídas a peixes dipnoicos, parentes distantes dos atuais peixes pulmonados. Esses animais possuem nadadeiras peitoral robustas e capacidade de respirar ar, características que podem ter facilitado as incursões fora do ambiente aquático.
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As marcas preservadas no leito rochoso incluem impressões do focinho, rastro do corpo e da cauda, além do apoio das nadadeiras — evidências de que os animais testavam formas de locomoção apoiando-se sobre o solo.
Segundo os cientistas, trata-se de um achado crucial porque antecipa em cerca de 10 milhões de anos os registros mais antigos conhecidos até então de pegadas de tetrápodes. Isso significa que a transição da vida aquática para a terrestre não ocorreu de forma repentina, mas envolveu etapas intermediárias, em que certos grupos de peixes já se aventuravam parcialmente fora d’água.
Para reforçar a interpretação, os pesquisadores compararam os fósseis com trilhas produzidas por espécies atuais, como o Propterus, um peixe pulmonado africano. Em laboratório, os movimentos do animal deixaram marcas muito semelhantes às do registro devoniano, sugerindo que o comportamento observado no passado se assemelha com o de descendentes vivos.
Varreduras 3D das superfícies encontradas pelos cientistas nas Montanhas da Santa Cruz, Polônia
Jakub Zalewski
Detalhes da seção exposta na pedreira de Kopiec, localizado nas Montanhas da Santa Cruz, Polônia
Além das trilhas de deslocamento, o estudo identificou também uma impressão de repouso — uma marca deixada quando o peixe parava e apoiava as nadadeiras no fundo rochoso.
Esse detalhe acrescenta informações sobre o comportamento dos animais, sugerindo que alternavam movimentos de arrasto com pausas de sustentação, uma estratégia que poderia ter sido usada para sobreviver em ambientes rasos ou sujeitos à seca.
O achado se soma a outros registros fósseis que desafiam a linha do tempo da evolução dos vertebrados terrestes. Até então, um dos marcos mais antigos conhecidos eram as pegadas de Zachelmie, também na Polônia, datadas de cerca de 395 milhões de anos.
Para os cientistas, a importância do estudo está em mostrar que a adaptação à vida em terra foi um processo longo e gradual, iniciado ainda por peixes que não tinham membros verdadeiros.
O registro dessas trilhas reforça a ideia de que a passagem para o ambiente terrestre foi resultado de múltiplas tentativas evolutivas, algumas bem-sucedidas e outras não, até que surgissem os primeiros animais plenamente adaptados a caminhar sobre o solo.
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