O Instituto Sivis, um think tank sediado em Curitiba, divulgou uma pesquisa que mostra que metade dos alunos da universidade brasileira não quer saber de discussões que possam causar problemas para eles próprios.
Como não poderia deixar de ser, os temas políticos são os mais evitados por quem teme ser hostilizado por colegas, linchado nas redes sociais e sabotado nos seus estudos.
Em editorial, o Estadão comenta a pesquisa e lamenta o que chama de “o silêncio dos universitários”. Critica a “a esquerda iliberal hegemônica nas humanidades” e diz que “uma academia sem dissenso não forma lideranças democráticas: fabrica inquisidores de toga acadêmica, adestrados para silenciar o adversário em vez de refutá-lo. A retórica do respeito a grupos marginalizados virou desculpa para marginalizar dissidentes”.
O jornal continua:
“A depauperação do debate interno repercute na sociedade: onde a discordância vira ofensa, a política degenera em polarização tóxica. Ao abdicar da liberdade acadêmica, a universidade legitima o populismo que diz combater, abrindo espaço para que demagogos de direita se apresentem como paladinos da ‘verdade proibida’.”
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Como não concordar com o Estadão? O fato não é de hoje. Já faz décadas que existem só duas coisas boas na universidade brasileira: quando você entra nela e quando você sai dela. O interregno costuma ser uma tortura.
O ambiente é ruinzinho, principalmente no ensino superior público, com prédios caindo aos pedaços, pichação para todo lado e aquele cheirinho de erva permanente.
O pior, no entanto, é aguentar a doutrinação de um monte de professores petistas, psolistas, comunistas e o que mais for, visto que a universidade funciona como centro abastecedor de militantes para a esquerda.
O pretexto é o de “estimular o pensamento crítico” e coisa e tal, mas o pensamento crítico é de mão única: só pode ser em relação ao capitalismo ou você pega dependência.
O pobre do estudante resolve, então, olhar um pouco para o lado e se depara com bolsonaristas proliferando nesse vácuo de ideias, como seres alienígenas anaeróbicos, e conclui que o melhor mesmo é ficar quieto.
Não sejamos injustos, porém. A intolerância ideológica, diante da qual a maioria dos alunos resolve se calar, está longe de ser originalidade brasileira — é decalque da universidade francesa, principalmente, que desandou de vez depois de 1968, aquele ano que já deveria ter terminado há quase meio século.
A universidade americana parecia razoavelmente imune à contaminação europeia, mas a reação à guerra de Israel contra o Hamas revelou ao mundo como a esquerda também atuou nas grandes instituições de ensino dos Estados Unidos para torná-las um celeiro de gente cretina, movida a ideologias ultrapassadas pela história e a antissemitismo reciclado como “antissionismo”. Surgiu, então, a desgraça do trumpismo como grande antagonista.
Não vejo no horizonte nenhuma chance de mudança, aqui ou alhures. Só posso desejar a quem entrou na fria universitária que faça de tudo para cair fora dela o mais rápido possível. De preferência, de boca bem fechada.