Vencedor do Prêmio Nobel de Economia, em 2008, o economista norte-americano Paul Krugman fez críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por causa do tarifaço comercial imposto sobre produtos exportados por diversos países – entre os quais o Brasil – aos EUA.
Em artigo publicado nesta sexta-feira (1º/8), intitulado “Trump/Brasil: delírios de grandeza vão para o sul”, o economista trata das tarifas de 50% aplicadas pelo governo norte-americano ao Brasil e ironiza a posição de Trump.
Segundo Krugman, que é alinhado ao Partido Democrata (de oposição a Trump) e tem posições consideradas mais liberais na economia e na política, a Casa Branca vem usando as tarifas comerciais como instrumento de pressão política.
“Quem imagina que os EUA podem usar a ameaça de tarifas para forçar grandes mudanças políticas no exterior está sofrendo de delírios de grandeza”, afirma Krugman. “Na verdade, praticamente tudo o que Trump tem feito em matéria de comércio é ilegal, mas, no caso do Brasil, é escancarado”, criticou o economista.
“Não acho que nem o advogado mais ardiloso e sem escrúpulos conseguiria encontrar algo na legislação dos EUA que dê ao presidente o direito de impor tarifas a um país, não por razões econômicas, mas porque ele não gosta do que o Judiciário desse país está fazendo”, completou Krugman.
Ao taxar grande parte dos produtos brasileiros em 50%, Donald Trump se baseou na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (Ieepa, na sigla em inglês), de 1977, e declarou a instauração de uma nova emergência nacional nos EUA em relação ao Brasil.
O texto da ordem executiva assinada por Trump nesta semana acusou o governo brasileiro de perseguir, intimidar, censurar e supostamente processar politicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, o que, na visão do governo Trump, configuraria violações graves dos direitos humanos e um enfraquecimento do Estado Democrático de Direito.
Segundo o documento, membros do governo brasileiro adotaram “medidas sem precedentes” para coagir empresas norte-americanas de tecnologia a censurar discursos políticos, remover usuários, entregar dados sensíveis ou mudar políticas de moderação sob ameaça de sanções severas, como multas extraordinárias, processos criminais, congelamento de ativos ou exclusão do mercado brasileiro.
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A ordem executiva cita nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de abusar de sua autoridade ao emitir centenas de ordens de censura contra críticos políticos. De acordo com o texto, quando empresas norte-americanas se recusaram a cumprir as determinações, Moraes teria imposto multas elevadas, ameaçado executivos com processos criminais, congelado ativos e até removido empresas do mercado digital brasileiro.
“Trump e seus assessores realmente acham que podem usar tarifas para intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes a abandonar seus esforços de defesa da democracia, quando 88% das exportações brasileiras vão para países que não são os EUA”, indagou Krugman.
Suco de laranja
No artigo, Paul Krugman também aponta o que considera contradições do governo Trump ao incluir quase 700 produtos brasileiros na lista de itens isentos das tarifas. O suco de laranja, por exemplo, foi poupado das taxas, enquanto o café, classificado como “um nutriente essencial”, não teve o mesmo privilégio.
“Isso é uma admissão implícita de que, ao contrário do que Trump afirma constantemente, quem paga as tarifas são os consumidores americanos, não os exportadores estrangeiros”, escreveu Krugman.
“Trump pode achar que pode governar o mundo, mas ele não tem o ‘suco’ – nem de laranja, nem de outra coisa”, ironizou o economista norte-americano. “O que alguns de nós queremos saber é por que o suco de laranja, que dá para viver sem, recebeu isenção, enquanto o café – um nutriente absolutamente essencial –, não.”
Popularidade de Lula aumentou, diz Krugman
Krugman também chama atenção para o fato de que o tarifaço comercial dos EUA sobre o Brasil vem causando, pelo menos por enquanto, um efeito positivo sobre os índices de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – assim como aconteceu em outros países também atingidos.
“Como era de se esperar, as tarifas parecem estar tendo um efeito político contrário. Ecoando o que aconteceu no Canadá, onde a pressão de Trump claramente salvou o governo liberal de perdas eleitorais massivas, as ameaças contra o Brasil fizeram maravilhas pela popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente”, conclui Krugman.