Com o crescimento de podcasts e audiobooks, o consumo de informação por áudio tornou-se comum na rotina de muitas pessoas. Ao mesmo tempo, a leitura segue como uma das principais formas de estudo e lazer.
Embora o objetivo final seja o mesmo — compreender e guardar a informação —, o caminho percorrido pelo conteúdo no cérebro é diferente. Ler e ouvir não só ativam áreas distintas, como também podem favorecer habilidades específicas e influenciar a memória de formas diversas.
O neurocientista André Leão, que atende em São Paulo, explica que ouvir com frequência conteúdos complexos pode gerar mudanças visíveis nas conexões cerebrais ligadas à compreensão oral.
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“Esse fortalecimento decorre da plasticidade cerebral — a capacidade do cérebro de remodelar suas conexões com base na experiência”, afirma.
Diferença entre ler e ouvir na absorção de conteúdo
Na leitura, o cérebro aciona principalmente as áreas occipitotemporais, responsáveis por reconhecer as palavras visualmente, e as regiões pré-frontais, ligadas à interpretação e análise das informações.
Esse processamento visual e analítico costuma dar mais espaço para pausas, releituras e reflexões, favorecendo uma compreensão mais detalhada e criativa.
Já ao ouvir, entram em ação o córtex auditivo e áreas do lobo temporal que integram o significado das palavras. O processamento é mais imediato, guiado pelo ritmo de quem fala, e pode gerar interpretações rápidas e intuitivas.
O neurocirurgião Guilherme Rossoni, que atende no Rio de Janeiro, destaca que, durante a leitura, o cérebro ativa áreas ligadas à visão e interpretação de palavras, enquanto na escuta trabalham mais as regiões responsáveis pela audição e compreensão da fala.
“O cérebro tem uma rota um pouco diferente, mas o objetivo final é o mesmo: entender e armazenar a informação”, diz Rossoni.
Para o especialista, alguns formatos se beneficiam mais de um meio do que de outro. Textos técnicos tendem a ser melhor assimilados na leitura, enquanto histórias e entrevistas costumam fluir melhor no formato de áudio. “O importante é descobrir qual formato funciona melhor para cada pessoa”, afirma.
Como a memória reage em cada formato
Na leitura, o leitor controla o ritmo: pode desacelerar, voltar a um trecho ou reler sempre que necessário. Esse controle ajuda a consolidar a informação na memória, especialmente em conteúdos complexos.
Na escuta, não há essa liberdade de ritmo, mas a entonação e a carga emocional da fala podem facilitar a lembrança de determinados pontos.
“Quando o conteúdo é lido, você tem mais controle e isso ajuda a fixar. Quando você ouve, pode captar mais emoção, o que também ajuda a memorizar”, explica Rossoni.
No aprendizado de idiomas, por exemplo, os dois formatos trabalham juntos, mas por caminhos diferentes. O conteúdo lido reforça a ortografia e a estrutura gramatical. Já o ouvido desenvolve a percepção dos sons, a pronúncia e a entonação.
Efeito emocional e condições neurológicas
De acordo com o neurocientista, ouvir uma narrativa costuma ativar mais intensamente o sistema límbico — região do cérebro ligada às emoções —, principalmente quando a entonação vocal transmite sentimentos como suspense, alegria ou tristeza.
Na leitura, a reação emocional acontece de forma diferente. Como não há voz ou entonação, a experiência depende mais da imaginação do leitor e da capacidade de construir mentalmente cenários, personagens e diálogos.
Aspectos neurológicos também influenciam na preferência entre ler e ouvir. Pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) podem encontrar mais facilidade em conteúdos curtos e estimulantes no formato de áudio, que mantêm a atenção por períodos menores.
Já indivíduos com dislexia, que têm dificuldade no reconhecimento visual das palavras, geralmente se beneficiam mais da escuta, que oferece um acesso mais rápido e confortável à informação.
“Cada pessoa tem um jeito de aprender melhor. O mais importante é respeitar e usar isso a favor da aprendizagem”, reforça o neurocirurgião.
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