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    Morte de influenciador é transmitida em tempo real na França

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    O Ministério Público de Nice, no sul da França, anunciou na terça-feira (19/8) a abertura de um inquérito para investigar a causa da morte de Raphaël Graven, de 46 anos. Conhecido como “Jean Pormanove” e “JP”, o streamer morreu durante uma transmissão online na madrugada de segunda-feira (18/8) em Contes, localidade ao norte de Nice.

    Graven era conhecido por participar de vídeos em que ele aparecia sendo submetido à violência e outras humilhações, principalmente por duas parceiras de conteúdo, conhecidas pelos pseudônimos “Naruto” e “Safine”.

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    O MP de Nice abriu um inquérito para apurar a causa da morte de Graven. As investigações começaram a ser feitas por autoridades policiais, que também apuram detalhes do caso de “violência coletiva intencional contra pessoas vulneráveis (…) e pela divulgação de imagens gravadas relacionadas com a prática de crimes de ofensa intencional à integridade pessoal”. O Ministério Público declarou que “a morte de um homem foi confirmada em um espaço alugado para sessões ao vivo de videogame”.

    Milhares de pessoas teriam assistido a estes vídeos na plataforma australiana de transmissão ao vivo Kick, que adota regras de moderação flexíveis. A conta de Jean Pormanove tinha mais de 500 mil inscritos.

    Morte durante uma transmissão

    Na segunda-feira, um vídeo transmitido ao vivo no Kick foi amplamente compartilhado. No conteúdo, segundo internautas, as imagens mostram momentos imediatamente anteriores à morte de Graven ou à descoberta de que ele estava morto.

    As imagens mostram o influenciador inconsciente sob um edredom numa cama. Na sequência, é possível ver dois outros homens. Em um determinado momento, um deles atira uma pequena garrafa de plástico na direção de Graven.

    Responsabilidade das plataformas

    A ministra-delegada para Inteligência Artificial e Tecnologia Digital da França, Clara Chappaz, denunciou “um horror absoluto”. Na rede social X, Chappaz escreveu que apresentou denúncia ao Pharos, que é o serviço de combate à violência online. “Também entrei em contato com os responsáveis pela plataforma para obter explicações. A responsabilidade das plataformas digitais pela disseminação de conteúdo ilegal não é opcional; é lei”, enfatizou.

    A plataforma Kick se limitou a responder que não forneceria informações devido à política de privacidade. Em seus termos de uso, o serviço digital enfatiza que “embora a violência possa ser contextual e ter consequências variáveis, proibimos qualquer conteúdo que retrate ou incite violência hedionda”.

    Polêmicas

    O streamer Jean Pormanove já havia sido alvo de uma acalorada controvérsia no canal “Le Lokal”, na plataforma Kick. Em dezembro de 2024, o site francês Médiapart publicou um artigo investigativo apontando que influenciadores eram responsáveis por um verdadeiro “negócio de abuso online”.

    Na reportagem, “Safine” e “Naruto” eram apresentadas como criminosas digitais, enquanto “Jean Pormanove” e “Coudoux”, uma pessoa com deficiência, eram as vítimas. Os dois sofriam zombarias, além de receberem jatos de água e tinta, tapas, estrangulamentos, entre outros absurdos e abusos. Tudo isso nas telas de inúmeros fãs do canal, permitindo que seus criadores ganhassem muitos euros por mês.

    Outros formatos de conteúdo online que envolviam as quatro pessoas, como “Números e Analfabetos” ou “Pergunta para um Mongol”, visavam zombar das capacidades mentais de seus participantes.

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