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    Oscar Magrini ironiza e diz que O Rei do Gado seria gay hoje

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    Após quase quatro anos longe das novelas, o ator Oscar Magrini, afirmou que não perdeu a vontade de voltar às telinhas, mas observa mudanças que o incomodam no cenário televisivo.

    Em entrevista, o intérprete de personagens marcantes criticou a rigidez do chamado politicamente correto e questionou a presença cada vez maior de influenciadores digitais nos elencos.

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    Destacou carreira

    “Eu tenho vontade de voltar às novelas. Todo mundo já sabe disso. Sempre falo. Essa profissão é difícil. Difícil chegar, mas mais difícil ainda é permanecer. Eu não tenho parado, graças a Deus estou trabalhando. Em julho, completei 35 anos de carreira. Foram 40 novelas. Trabalho desde 1990, quando comecei no teatro, com Uma Ilha para Três. Foi nessa peça que conheci minha mulher, Matilde Mastrangi. No ano seguinte, fiz meu primeiro filme, Perfume de Gardênia, do Guilherme de Almeida Prado. E depois, minha primeira novela, Deus nos Acuda, em 1992”, contou em entrevista ao site de Heloisa Tolipan.

    O ator avalia que a pouca familiaridade de produtores mais jovens com artistas de outras gerações e questões logísticas podem afastá-lo das produções.

    “Acho que os produtores de elenco hoje são muito jovens. Talvez nem saibam quem foi Carlos Zara (1930-2002), quem foi Eloísa Mafalda (1924-2018), quem foi Raul Cortez (1932-2006). Além disso, pesa o fato de eu ser de Atibaia, e não de São Paulo ou do Rio. O SBT é em São Paulo, mas a Record e a Globo são no Rio. Então, talvez seja caro me levar, ou não estejam dispostos, a não ser que queiram muito a mim no elenco”, analisou.

    O Rei do Gado “gay”

    Magrini também recordou seu personagem Ralf, de O Rei do Gado (1996), apontando que hoje não poderia interpretá-lo da mesma forma.

    “Se eu pudesse, faria de novo o Ralf, mas hoje isso esbarraria na questão da violência contra a mulher, no feminicídio. O Ralf marcou muito. Ele era um cafetão. Hoje em dia não poderia. Ele batia em mulher em troca de presentinhos. Essa novela não poderia ser exibida ainda que tenha sido reprisada quatro vezes na Globo”, disse.

    Ele considera que, em uma versão atualizada da trama, o papel seria adaptado com personagens gays.

    “Hoje, para fazerem um remake dessa novela, o Ralf talvez fosse gay, teria um caso com o Rei do Gado, não com a mulher. Porque, tendo um caso com o homem, talvez se resolvessem na briga sem que isso recaísse numa agressão à mulher. O que, claro, seria impossível. O tempo do politicamente correto, da ideologia, do ‘não pode isso, não pode aquilo’, tornou a vida muito chata. As pessoas deixaram de compreender que novela é ficção e é feita para provocar reflexão. O Brasil tem inúmeros casos de feminicídio, assalto, latrocínio, roubo, corrupção. Nós estamos à frente de muitos países nesse sentido”, opinou.

    Criticou politicamente correto

    O artista diz que a televisão perdeu leveza e espontaneidade. “A televisão ficou quadrada. Eu sou uma pessoa pública, tenho que pensar três vezes antes de contar uma piada, de falar alguma coisa. Senão, me xingam, me lacram. É o pessoal da lacração, do mimimi, do cancelamento. É assim que funciona. A internet virou terra de ninguém. Cada um fala o que quer. E quem não tem coragem de mostrar a cara, põe fake. São os haters, essas coisas todas. Então, tudo ficou chato pra caramba”, afirmou.

    Sobre política, Magrini prefere se manter neutro. “Eu não falo de política, porque isso é muito relativo. Eu sou pessoa pública, e as pessoas julgam o que é ou não ser de direita ou esquerda. Não. Eu sou pelo Brasil. Eu quero o Brasil certo. Eu não tenho plano B. Moro no Brasil. Moro aqui e é aqui que quero que tudo dê certo”, declarou.

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    Oscar Magrini

    Reprodução/Instagram

    Críticas aos influenciadores

    Na entrevista, o ator também lamentou o espaço ocupado por criadores de conteúdo na dramaturgia.

    “A novela está deixando de ser o que era. Estão colocando influencers para trabalhar e por quê? Porque vendem bolo, vendem moda, e aí acreditam que são atores. Hoje, se você tem um pouco de celebridade, um pouco de holofote, vira ator. Então banalizaram a profissão. Um ator estuda para ser ator. Influencer não é ator”, criticou.

    Segundo ele, números altos de seguidores não garantem público fiel para as tramas.

    “Os que têm 5, 6, 10 milhões de seguidores… Com certeza esses seguidores não vão seguir a novela que a pessoa está fazendo. Isso é muito efêmero, isso é fugaz. Acontece e depois acaba. O ator, não. O ator está aí, faz faculdade, faz canto, dança, fonoaudiologia, estuda texto, biografia, interpretação. Tem que estudar. Isso é ser ator, não ser influencer”, reforçou.

    Falta de atores experientes

    Ao comparar o cenário atual com o de décadas passadas, Magrini aponta que a falta de atores experientes prejudica a qualidade das produções.

    “Antigamente, numa novela das nove com vários núcleos, você tinha de 40 a 45 atores. Dos 45, você conhecia 44, 43. Hoje, de um elenco com 45, você conhece 8, 10. Todo mundo tem que começar, claro. Se tem talento, sim. A gente também começou um dia. Mas o que a gente vê hoje é que muitos desses que chegam não são atores. Isso tirou o trabalho de quem estudou, de quem se preparou. A culpa não é deles é de quem contrata. É um tiro no pé. E está aí o resultado nas audiências”, concluiu.