Formada em Comunicação Social, a neta mais velha do presidente Lula avaliou, em entrevista exclusiva à coluna, que a comunicação do governo do avô melhorou recentemente, mas ainda “dá para melhorar” mais.
Para Bia Lula, o novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira, fez “renascer” a comunicação do Palácio do Planalto, mas ainda é preciso pensar em “outras possibilidades”, sobretudo por causa das eleições de 2026.
“Sempre dá para melhorar. Acho que, inclusive, o Sidônio conseguiu fazer renascer a comunicação do Planalto, né? Porque, de fato, antes, na minha visão profissional, não estava chegando como tinha que chegar. Hoje já vejo uma melhora, mas acho que sempre dá para melhorar. Acho que, com muito trabalho, ainda mais que ano que vem é ano eleitoral, é importante pensar sempre num crescimento dessa comunicação”, disse a neta mais velha de Lula em entrevista concedida na terça-feira (19/8).
Assista à entrevista:
Bia Lula avalia que as informações do governo ainda têm chegado de maneira “muito burocrática” à população. Para ela, é preciso pensar em outras formas de se comunicar que ajudem a furar a bolha.
“Não chega a informação da forma que ela tem que chegar para as pessoas entenderem ainda. Chega uma informação muito burocrática. Fizeram aquele vídeo dos cachorrinhos, dos gatinhos, que é legal, que é bacana, mas também acho que dá para pensar outras possibilidades. Assim, de falar um pouco mais olho no olho com a pessoa, uma coisa mais corpo a corpo, que, hoje, o corpo a corpo é o celular. Então, acho que dá para a gente saber usar mais as redes sociais a nosso favor. Mas, de maneira geral, melhorou. Dá para melhorar”, declarou.
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Bia Lula e Lula
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Neta de Lula, Bia Lula
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Bia Lula, neta do presidente Lula
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Presidente Lula
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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
BRENO ESAKI/METRÓPOLES
A neta de Lula afirmou não ser papel dela dar dicas a Sidônio. No caso do avô, ela disse que tem tentado fazê-lo entender a era digital, mas ponderou ser algo “mais difícil”, em razão da idade dele.
“Para o meu avô, a gente tenta fazer ele entender muita coisa dessa era digital. Mas é uma pessoa de 80 anos, que vai tentando entender, vai tentando pegar a linguagem, vai tentando ali saber como se comunicar. Inclusive, nos últimos vídeos, eu até achei que ele está mais solto. Mas é mais difícil”, pontuou.
Segundo Bia, a esquerda não sabe como usar a internet a seu favor. “Isso é um grande problema que a gente tem, que a extrema direita veio chutando a porta e mostrando que a internet realmente é uma potência”, declarou.
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Janja ajuda, diz neta de Lula
A neta de Lula também avaliou que a primeira-dama Janja tem ajudado na comunicação pessoal de Lula. Sobretudo a tornar a imagem do presidente mais humana, algo que Bia avalia que a família tinha perdido.
“A Janja é completamente antenada. Ela sabe, ela vai pesquisando, vai sabendo tudo que acontece. Ela grava, sim, meu avô nos momentos mais íntimos deles. Ela se dá superbem com a tecnologia. A minha visão é que ela ajuda a voltar a trazer o olhar do povo mais humano ainda pro meu avô. Porque acho que a gente tinha perdido isso um pouco por conta de tudo o que já aconteceu, né? Todas as notícias ruins, os escândalos, a prisão. Então, acho que os vídeos do meu avô que a Janja faz trazem esse olhar mais humano”, afirmou.
Na entrevista, a comunicadora ainda pontuou que Janja “não é uma primeira-dama típica”. Ela avaliou que a esposa do avô é alvo de “machismo estrutural” e que o “fogo amigo” é “o pior que tem”.
Leia a entrevista na íntegra:
Por que você resolveu começar a gravar esses vídeos com críticas a adversários do seu avô, como o presidente dos EUA, Donald Trump, e o governador Tarcísio de Freitas?
Sempre encontrei uma dificuldade de enxergar na esquerda, de a gente conseguir falar fora da bolha, falar para as pessoas que realmente querem entender o que está acontecendo, só que só chega para elas a versão da extrema direita, da família Bolsonaro, enfim. Eu sempre me questionava muito: “Poxa, a gente precisa de um nome, precisa de alguém”. E aí, conversando com um amigo, ele falou: “Por que você não faz isso? Por que você não vai, fala e tenta conscientizar as pessoas de uma maneira mais popular, mais dinâmica?”. Aí gravei o primeiro e pensei: “Seja o que Deus quiser”. Gravei, deu certo. E agora estou continuando, porque acho que consegui, minimamente, furar a bolha. E, conforme o tempo vai passando, vou conseguindo chegar a mais pessoas, para elas entenderem a realidade dos fatos.
Você chegou a discutir previamente a ideia de gravar os vídeos com alguém do Palácio do Planalto ou do governo?
Foi tudo ideia minha. Até porque, quando postei o primeiro vídeo, fiquei com muito medo, porque não tinha comentado com ninguém. Só sabiam eu, meu marido e meus amigos que me ajudaram a produzir. Quando soltei, pensei: “Caraca, o que meu avô vai falar? O que vão pensar?”. Enfim, ninguém sabia. Vi matérias dizendo que provavelmente tinha o Sidônio metido e tal. Mas o Sidônio não sabia. Eu nem tenho contato dele. Meu avô viu depois, alguém mostrou para ele, acho que até a Janja. Mas eu não pedi para ninguém do Palácio, não pedi nada. Eu vou pesquisando, vou fazendo. Até porque pedir algo para o Sidônio seria até imoral, antiético. Ele trabalha para o presidente, né? Então, não tem como.
E o que o presidente achou? Ele mandou algum recado, se gostou do vídeo, se você pode continuar ou se deve parar?
Fiquei muito surpresa, porque ele gostou. Estava com medo de levar uma bronca, mas ele me parabenizou. Perguntei, obviamente, se poderia continuar, e ele disse que sim. Eu sempre deixei claro que não quero atrapalhar o governo. Então, em algum momento, se eu atrapalhar, tanto ele quanto qualquer outra pessoa tem a obrigação de me dizer: “Olha só, para, porque você está atrapalhando”. Minha intenção é informar, comunicar as pessoas sobre muitas coisas que acontecem nos bastidores e que não chegam para elas. Quando chegam, vêm de forma muito diplomática, difícil de entender. E a Dona Maria, que mora na comunidade, não vai compreender. Então, a gente tem que falar numa linguagem que todos entendam.
Algumas pessoas viram nessa sua iniciativa dos vídeos uma pretensão política. Você pretende disputar eleições no futuro?
Acho que ainda é muito cedo para falar sobre isso, mas tudo é uma construção, né? A gente tem recebido muito feedback positivo, e isso acaba dando ânimo para pensar além da internet. Não é para agora. Mesmo que ano que vem ele (Lula) não pudesse tentar reeleição, eu não poderia concorrer, porque ele ainda estaria como chefe de Estado. Então, só daqui a quatro anos. Até lá, é tempo de construção: muito estudo, diálogo, participação, leitura, pesquisa. Não quero chegar a um Congresso ou à Câmara como outras famílias que chegam sem saber nada.
Como alguém que trabalha na área, como avalia a comunicação do governo? Acha que precisa melhorar alguma coisa?
Sempre dá para melhorar. Acho que o Sidônio conseguiu, sim, fazer renascer a comunicação do Planalto. Antes, na minha visão, não estava chegando como deveria. Hoje já vejo uma melhora, mas ainda há espaço. Até porque, no ano que vem, teremos eleição, então é importante crescer ainda mais nessa comunicação. Como falei: a informação não chega como deveria. Vem muito burocrática. Teve aquele vídeo dos cachorrinhos, dos gatinhos, que é bacana, mas dá para pensar em outras possibilidades, falar mais olho no olho com as pessoas. Hoje, o corpo a corpo é o celular. Então, é saber usar melhor as redes sociais a nosso favor. Mas, de modo geral, melhorou bastante.
Você já chegou a dar alguma dica de comunicação ao Sidônio ou diretamente ao seu avô?
Para o Sidônio, não. Nem tenho esse papel, nem posso ter. É institucional. Quem sou eu para chegar e dizer o que ele tem que fazer? Já com meu avô, a gente tenta fazer ele entender muita coisa da era digital. Mas é uma pessoa de 80 anos, que vai tentando pegar a linguagem. Inclusive, nos últimos vídeos, achei que ele está mais solto. Mas é difícil. Nosso campo político não sabe usar os algoritmos, não sabe usar a internet a nosso favor. E esse é um grande problema, porque a extrema direita mostrou como a internet pode ser uma potência. Então, acho que a esquerda precisa assumir a internet para si, fazer do jeito certo e, claro, com todas as regulamentações, para não virar bagunça nem gerar fake news de nenhum lado.
A primeira-dama Janja tem atuado na comunicação pessoal do presidente. Você acha que ela tem ajudado?
A Janja é completamente antenada. Vai pesquisando, sabendo de tudo. Ela grava, sim, meu avô em momentos íntimos, e se dá superbem com tecnologia. Acho que ela traz de volta um olhar mais humano para meu avô, que tinha se perdido com tantos escândalos, prisão, notícias ruins. Os vídeos dela mostram esse lado mais próximo: ele plantando uma árvore, pescando, cuidando dos animais abandonados. Isso aproxima o povo. Ela mostra o presidente humano, não apenas o institucional. Acho que ela tem feito um papel excelente nisso. Senão, ele ficaria só aquele cara burocrático que fala com imprensa e deputados. Esses vídeos mostram o Lula humano.
A Janja costuma ser alvo de críticas, algumas até de integrantes do governo e do PT, que a acusam de limitar acessos ou influenciar demais nas decisões do presidente. Acha que há machismo nisso?
Tenho certeza de que o machismo é o grande X da questão. E o fogo amigo é o pior de todos. Isso existe, sim, nos bastidores. É um machismo estrutural enraizado. Fora o ciúme. “Eu queria estar mais perto, mas não consigo”, e jogam a culpa nela. Mas, bem ou mal, ela ajuda a blindar a imagem do meu avô, e isso protege. Acho que ela faz de tudo para ajudá-lo, jamais para prejudicá-lo. Quem ama não quer prejudicar. Ela tem um papel muito importante, mas as pessoas distorcem o que ela fala e sua imagem, muitas vezes até de forma intencional. Compará-la à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, por exemplo, é desnecessário. Janja não é uma primeira-dama típica: gosta de trabalhar, botar a mão na massa. Sempre trabalhou na área, e muita gente não entende. Ela não ganha salário, faz tudo porque quer, porque acredita. Cumpre bem seu papel, e as pessoas sempre vão falar, porque é mulher, porque é esposa do presidente, porque aparece mais do que o esperado. Mas eu acho que ela faz um ótimo trabalho.
Seu avô vai completar 80 anos em outubro e diz que pretende ser candidato à reeleição em 2026. Você avalia que ele está disposto fisicamente para isso?
Se juntar eu, você e todo mundo aqui, não dá a disposição dele. Ele tem muita vontade de viver e trabalhar. Se depender da saúde, esquece, não tem para ninguém. Ele vai estar superdisposto. A gente já teve o exemplo do Biden, que saiu da Presidência com mais de 80 anos. Meu avô se cuida, faz exames regularmente. Para ele, a pior coisa seria ficar parado. Ano-Novo, quando estamos juntos, ele sempre fala: “Como é que as pessoas conseguem não trabalhar?”. Para ele, parar é o que faz mal. Então, se tudo estiver certo, com certeza ele vai disputar, com saúde e vontade de continuar fazendo o que sabe de melhor: contribuir para o país e para quem mais precisa.