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PCC na Faria Lima: cuidadora assalariada tinha 18 empresas de fachada

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PCC na Faria Lima: cuidadora assalariada tinha 18 empresas de fachada

Uma cuidadora, de 31 anos, que ganha R$ 1.428 por mês, é apontada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) como uma provável laranja no esquema bilionário no setor dos combustíveis, que foi alvo da Operação Carbono Oculto, deflagrada nessa quinta-feira (28/8).

Ellen Bianca de Franca Santana Resende é moradora de Santo Amaro de Brotas, em Sergipe. Segundo os promotores, o município de 11 mil habitantes teria pelo menos cinco pessoas com diversas empresas de fachada registradas em seus nomes.

A cuidadora foi sócia de 18 empresas. Dezessete delas foram transferidas, a partir de julho de 2023, para Maria Edenize Gomes, sua vizinha. Atualmente, Ellen é apenas sócia da Auto Serviços Vila Fátima, um posto de combustível da Rede Boxter, inativa na Receita Federal (RF) desde 2024.

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Operação Carbono Oculto

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Operação Carbono Oculto

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Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

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Megaoperação cumpre mandados contra esquema em postos de combustíveis e fintechs controlados pelo PCC

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Cerca de 1 mil postos movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024

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A megaoperação descobriu que pelo menos 40 fundos de investimentos foram utilizados como estruturas para ocultação de patrimônio

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São cumpridos cerca de 350 mandados de busca e apreensão a pessoas físicas e jurídicas em oito estados pelo país

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Operações financeiras por meio de fintechs dificultavam o rastreamento dos valores que eram transacionados

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Foram sonegados mais de R$ 7,6 bilhões em impostos, segundo a megaoperação

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Proprietários dos postos de combustíveis venderam seus estabelecimentos ao grupo criminoso e eram ameaçados de morte caso fizessem alguma cobrança

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Há indícios de que lojas de conveniência e padarias também parcipavam do esquema

Divulgação/Polícia Federal

Entre as empresas das quais a cuidadora esteve no quadro societário, está a Dubai Administração de Bens, que pertencia a Tarik Ahmad Mourad, sobrinho de Mohamad Hussein Mourad, apontado como o principal articulador do esquema.

“Não restam dúvidas de que Ellen foi utilizada como pessoa interposta por Mohamad para a composição do quadro societário da empresa”, disseram os promotores do Gaeco.

A mulher também foi sócia da BR Offices, um coworking localizado no condomínio Nasa Business, em Goiânia, a mais de 1,8 mil quilômetros de Santo Amaro de Brotas. Ellen ainda participou da sociedade de 10 postos de gasolina: cinco da Rodoil, quatro da Rede Petromina e um de marca não identificada.

A vizinha de Ellen, Maria Edenize, chegou a ser sócia de 70 empresas. Atualmente, 33 constam em seu nome.

Além das empresas Dubai Administração de Bens e a Usina Goias, transmitidas por Ellen, ela foi sócia de 59 companhias em que o nome contém “suporte administrativo” ou “serviços administrativos”, estando todas cadastradas em endereços de postos de combustíveis, conforme alguns exemplos mostrados abaixo.

Mohamad, o primo

Mohamad Hussein Mourad, o “primo” ou “João”, ligado ao grupo Aster/Copape, foi descrito pelo MPSP como o “epicentro das operações”. As investigações apontam que ele chefiava a organização que utilizava empresas do setor para fraudes fiscais, ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. Ele teria formado uma rede criminosa com parentes, sócios e profissionais cooptados.

Em junho, ele foi denunciado por sonegação de impostos e adulteração de bombas nos postos para obter lucros milionários. Segundo os promotores, o grupo comandado por ele expandiu sua atuação e passou a atuar em toda a cadeia produtiva desse setor, inclusive na compra de usinas de etanol, com intimidação de fazendeiros para venderam suas propriedades.

“Mohamad é tido como uma pessoa centralizadora, que fica à frente de seus negócios e não tem habito de delegar funções estratégicas, Mohamad tanto negocia operações de alto valor financeiro como também é quem efetiva muitas das tarefas do dia a dia da produção
do açúcar e álcool nas Usinas”, afirmam os promotores.

Empresas de fachada

De acordo com o promotor João Paulo Gabriel, do Gaeco de Ribeirão Preto, um único morador da cidade de Santo Amaro de Brotas teria 100 empresas de fachada em seu nome.

“Estamos falando de uma investigação que fez um levantamento de mais de 700 empresas. Fizemos um pente fino, porque a rede é muito grande. Numa pequena cidade de Sergipe, município de 10 mil habitantes, temos cinco pessoas dessa cidade, que têm trabalhos, atividades, inclusive sociais, que são gestoras de empresas com fundos bilionários. Uma delas, inclusive, tem uma centena de empresas no nome”, disse João Paulo Gabriel.

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“Então, é um grupo que usa amplamente a constituição de empresas, shell companies, para a blindagem. Então é difícil quantificar. Só com o mapeamento que fizemos nessa vertente levantamos mais de 700 empresas”, acrescentou.

De acordo com a Promotoria, pelo menos 40 fundos seriam administrados pelo crime organizado para ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. Entre as administradoras citadas na investigação estão gigantes, como a Reag, a Genial, a Trustee e a Buriti. A lista inclui ainda nomes como Altinvest, Banvox, BFL, Monetar, Finaxis e Positiva.

Foram alvos da operação três tipos de fundo: imobiliários, multimercados e de investimento. Todos fechados, ou seja, com número fixo de cotas, que não aceitam o ingresso de investidores depois do período inicial de captação.

As investigações apontam que a organização criminosa utilizava uma cadeia de fundos de investimentos com acionista único para blindar o patrimônio. A primeira etapa da operação seria realizada por fintechs, abreviação do termo em inglês “financial technology”. Elas eram responsáveis pela “bancarização” do dinheiro de origem ilegal.

Porta de entrada

Nesse caso, recursos obtidos de forma fraudulenta eram depositados em bancos comerciais, que serviram de porta de entrada para o estratagema montado. O dinheiro, entretanto, ia para contas das fintechs, nas quais os bancos e nem sequer a Receita Federal conseguem identificar quem são seus usuários.

Uma vez dentro do sistema, relata Marcia Meng, esse dinheiro ilegal era transferido para uma gestora, que fazia a aplicação nos fundos. Estes também eram usados para a ocultação do patrimônio dos envolvidos no suposto grupo criminoso e para garantir a rentabilidade das quantias acumuladas.

Veja a lista completa de fundos citados na investigação:

Gerenciados pela Reag

Gerenciados pela AltInvest

Gerenciados pela Trustee/Banvox

Ligados à BFL Administradora de Recursos

Ligados à Portos

Outros fundos mencionados

O que dizem as gestoras citadas na investigação

A Reag, que foi alvo de busca e apreensão, divulgou fato relevante ao mercado, no qual afirmou que “está colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados”. Ela disse ainda que permanecerá à “disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários”.

O Banco Genial disse que “sempre conduziu suas atividades com base nos mais elevados padrões de governança corporativa, ética e compliance regulatório, em estrita observância à legislação e regulamentação aplicáveis”. E acrescentou: “Reiteramos que estamos inteiramente à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários. Ao mesmo tempo, repudiamos de forma veemente qualquer ilação infundada que possa macular a reputação da instituição e seus colaboradores.”

A Trustee DTVM disse que renunciou à administração de todos os fundos citados na investigação antes de a operação desta quinta-feira ter sido deflagrada. Segundo a gestora isso ocorreu “por decisão da área de compliance, por desconformidade de atualização cadastral identificada há alguns meses”.

A Buriti afirmou que não foi notificada, convocada para depoimento e nem sequer alvo de nenhum mandado de busca e apreensão da Operação Carbono Oculto. “A empresa tomou conhecimento do tema por meio da imprensa e não tem conhecimento sobre qualquer procedimento investigativo que a envolva, direta ou indiretamente. A Buriti reforça seu compromisso com a ética, a governança corporativa e o compliance e reitera que está inteiramente à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos necessários.”

A Finaxis, em nota, afirmou que manifestava “indignação diante das ilações veiculadas em notícias relacionadas à operação. Ela acrescentou que tomou conhecimento do caso por meio da imprensa e não havia sido “citada em qualquer procedimento investigativo, tampouco recebeu qualquer notificação oficial que a envolva, direta ou indiretamente”. Disse também que questiona “com veemência qualquer tentativa de vincular indevidamente o nome da Finaxis a fatos que não dizem respeito à atuação” da empresa. “Temos uma trajetória pautada pela ética, pela legalidade e pela transparência, e seguimos firmes em nosso compromisso com esses valores”, citou, acrescentando que “permanece à disposição das autoridades competentes para colaborar com quaisquer esclarecimentos”.

Este espaço permanece aberto a eventuais manifestações das demais gestoras e instituições financeiras mencionadas na Operação Carbono Oculto, realizada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e pela Receita Federal.

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