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    Pegada zero de carbono ainda depende de esforços de informação

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    O cidadão acorda, toma seu café-da-manhã, sai para trabalhar de carro, moto ou transporte público. Passa todo o dia, almoça no trabalho e em casa, na volta, ainda para um momento para assistir algo na TV ou no celular. Cada movimento desse deixa uma pegada, a tal pegada de carbono, que é um tipo de diagnóstico para medir o impacto do consumo de produtos e serviços no meio ambiente através da produção de gases de efeito estufa.

    O Brasil tem a meta de, até 2050, ser uma economia de baixo carbono, neutralizando todas as suas emissões, equilibrando o que é jogado na atmosfera com o que é removido. Para isso, no entanto, há um longo caminho, que envolve uma busca ativa tanto das empresas como dos próprios cidadãos, seja em busca da ideia de pegada de carbono zero, que trata do desafio de não emitir carbono, ou da neutralização da emissão por meio da compensação.

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    “O tema do clima está ganhando mais importância a cada dia. Dentro disso, discutir a pegada de carbono é importante do ponto de vista das empresas e dos próprios consumidores direcionarem para onde vão investir seus recursos. No entanto, ainda temos um longo caminho a percorrer. Há uma dificuldade de informações e de diagnósticos propriamente de quanto cada produto representa em emissão de carbono na atmosfera”, destaca Guilherme Levèfre, pesquisador e coordenador do Programa Brasileiro GHG Protocol do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

    O GHG Protocol é uma iniciativa, lançada ainda no fim dos anos 1990, para a padronização das emissões de gases de efeito estufa, visando que as empresas meçam seus níveis de emissão e que as emissões globais sejam gerenciáveis.

    O diagnóstico, explica Levèfre, precisa ser ainda mais impulsionado, com o objetivo de dar ao cidadão a informação e, principalmente, o poder de escolha do seu modo de vida e como ele vai impactar diariamente no meio ambiente. “Dentro do Centro de Estudos em Sustentabilidade fazemos todo um trabalho junto às empresas para que façam levantamento e diagnóstico de suas emissões. E estamos avançando. Em 2019, eram 150 empresas participando e hoje já são mais de 600 de grande porte das mais variadas áreas”, pontua o pesquisador.

    A ideia é de que cada vez mais tendo posse desse tipo de informação, o cidadão consciente possa decidir passo-a-passo do seu tipo de consumo, o tipo de energia que pretende usar, os projetos sustentáveis a apoiar, além de cobrar as empresas que ainda não tenham uma política de emissão neutra ou zero e também o poder público por mais políticas voltadas à uma economia de carbono zero, como está previsto para acontecer dentro dos próximos 25 anos.

    Empreendedorismo verde

    E, como é de se esperar, tal necessidade abre caminho para um tipo de “empreendedorismo verde”. “Nosso trabalho começa com o cálculo preciso da pegada de carbono e passa por recomendações técnicas para redução e culmina na neutralização inteligente das emissões residuais. Além disso, desenvolvemos tecnologia própria para automatizar inventários e gerar relatórios customizados, permitindo que nossos clientes monitorem sua jornada net zero em tempo real. Já ajudamos centenas de empresas de diferentes setores — como logística, alimentos, construção civil e tecnologia — a estruturarem planos de descarbonização, reduzirem emissões e a se comunicarem com mais clareza sobre seu compromisso climático”, conta Renan Vargas, sócio da Planton.

    Para Vargas, é preciso ter a clareza de que a pegada zero de carbono é um processo permanente. “Sim, é possível alcançar a pegada zero, mas é importante entender que chegar à pegada zero é uma jornada contínua, não um evento isolado. Atingir o net zero exige uma estratégia clara, mensuração consistente, metas de redução e compensação responsável das emissões residuais. Isso vale tanto para indivíduos quanto para empresas. Para as pessoas físicas, pequenas mudanças de hábito — como repensar deslocamentos, economizar energia e apoiar projetos ambientais — somadas à compensação das emissões, também permitem alcançar uma vida carbono neutro”, explica ele.