O pen drive apreendido pela Polícia Federal (PF) no banheiro do quarto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) continha documentos e informações de uma empresa de um amigo pessoal do ex-mandatário.
O dispositivo foi apreendido em operação na casa de Bolsonaro em 18 de julho e foi periciado pela PF, que constatou a existência de uma grande quantidade de arquivos — a maioria imagens —, mas que haviam sido apagados e não puderam ser recuperados.
O material localizado no pen drive foi considerado irrelevante pelos investigadores e, por isso, não foi incluído no relatório de indiciamento de Bolsonaro e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Dentro do dispositivo, a PF encontrou apenas catálogos em PDF de uma empresa de Santa Rita do Passa Quatro (SP), especializada na fabricação e comercialização de equipamentos médicos e odontológicos.
Entre os materiais, constavam páginas de apresentação de catálogos de brocas e lâminas cirúrgicas; sistema de fixação rígida Locking Medicalfix 2.0; sistema de fechamento de crânio; sistema crânio-bucomaxilofacial; distrator transpalatal; e sistema de fixação rígida Locking Medicalfix 2.4.
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O PDF encontrado no pen drive também incluía um certificado de boas práticas de fabricação e controle de produtos para saúde, emitido pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O documento atestava que a empresa do colega de Bolsonaro cumpria a legislação sanitária (veja abaixo).
A empresa se chama Medicalfix, e é administrada pelo dentista Mário Roberto Perussi (foto em destaque). Ele, Bolsonaro e Eduardo participaram juntos de um café da manhã em 22 de agosto do ano passado, ocasião em que discutiram a importação de máquinas de outros países.
“Discutimos estratégias para incentivar a competitividade das empresas brasileiras ao enfrentar a concorrência de máquinas estrangeiras e como otimizar a legislação tributária para apoiar essa causa”, registrou Perussi, em uma publicação nas redes sociais.
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Hipótese da investigação
Segundo investigadores ouvidos pelo Metrópoles, os arquivos foram gravados no pen drive em 21 de agosto de 2024, um dia antes do encontro. Para a PF, é possível que o dispositivo tenha sido entregue por Perussi a Bolsonaro no encontro.
A corporação chegou a verificar se a empresa havia firmado contratos com o governo federal ou com governos estaduais, como São Paulo, mas não encontrou registros. No entanto, a Medicalfix celebrou contratos com o município onde está sediada, entre o período de 2019 e 2025.
Como o conteúdo não se enquadra no escopo do inquérito que investiga Bolsonaro e Eduardo, a PF não incluiu o caso no relatório final. O pen drive segue apreendido.
PF acha anotações em porta-luvas
Na mesma operação de buscas, em julho, a PF encontrou, no porta-luvas de um dos carros de Bolsonaro, anotações manuscritas que fazem referência à delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Os papéis, em folhas brancas, não foram incluídos no inquérito no qual Bolsonaro foi indiciado, por não se enquadrarem no escopo da investigação.
O Metrópoles apurou com investigadores que os registros podem ter sido feitos pelo ex-presidente ao longo do interrogatório do ex-braço direito em junho, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo investigadores, as anotações apresentam uma espécie de “linha do tempo”, a partir da colaboração premiada de Cid. O contexto exato não foi identificado, mas os rabiscos sugerem apontamentos relacionados a possíveis estratégias de defesa.
Em uma das anotações, Bolsonaro escreveu: “Não existia grupos, sim indivíduos (…) considerando – 2 ou 3 reuniões. Defesa + sítio + prisão – várias autoridades. Previa: comissão eleitoral nova eleição”.
Em outro trecho, anotou: “Recebi o $ do Braga Netto e repassei p/ o major de Oliveira – pelo volume, menos de 100 mil. Pressão p/PR assinar ‘um decreto’ – defesa ou sítio, mas nada vai acontecer”.
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Entre as anotações, consta ainda a expressão “Min Fux” e, logo abaixo, frases como: “Estava com a filha em Itatiba/SP”; “Preocupação em não parar o Brasil”; “Das 8, fiquei 4 semanas fora da Presidência”.
Em outra parte, Bolsonaro escreveu: “Nem cogitação houve. Decreto de golpe??? Golpe não é legali//, constituição, golpe é conspiração” (sic). Mais adiante, há a marcação da data “29/nov” — riscada — seguida da frase: “Plano de fuga – do GSI caso a Presidência fosse sitiada”.
De acordo com investigadores, os rabiscos parecem reunir observações sobre pontos destacados por Cid em sua delação. Durante o próprio interrogatório, Bolsonaro também fazia anotações em papéis.