Somente no ano de 2025, a Polícia Federal (PF) já instaurou 60 inquéritos para apurar incêndios criminosos no Brasil, de acordo com Humberto Freire de Barros, diretor de Amazônia e Meio Ambiente da corporação.
Em entrevista ao Acorda Metrópoles, ele tratou sobre a criação da área específica dentro da PF direcionada à região amazônica, em 2023, e sobre estratégias de prevenção adotas pelos agentes neste ano para coibir crimes ambientais no Brasil.
Ele também explicou as técnicas de apuração utilizadas pelos agentes na Amazônia- que incluem cooperação entre estados e até outros países, e o uso de uma “constelação de satélites” que monitoram as área de floresta na região.
Em 2024, o número de inquéritos abertos para apurar incêndios criminosos também foi alto. Embora Humberto faça uma ressalva de que naquele ano houve uma “situação diferenciada” de muitas queimadas por causa do clima, foram aberto 141 investigações para apurar possíveis incêndios criminosos.
“No ano de 2024, a gente realmente teve uma situação diferenciada de muitos incêndios por questões do clima, né, de um clima muito seco, baixa umidade. Então, [foi] uma junção de fatores e também a atuação criminosa de pessoas incendiando, até de forma concomitante muitas vezes, vários pontos do país”, afirmou.
A PF, diz ele, passou a adotar uma estratégia nova de prevenção: a criação de polos dedicados à investigação com o objetivo de coibir esse tipo de incêndio. Humberto avalia que a iniciativa foi positiva, ajudando inclusive nos flagrantes.
“Já no mês de junho, a gente instalou esses seis polos, que são nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, em quatro estados da Amazônia: Acre, Rondônia, Amazonas e Pará. E já temos equipes dedicadas da Polícia Federal atuando desde junho e que articulam com as forças estaduais a realização de ações e de desencadeamento de investigações integradas”, declarou no Acorda Metrópoles.
Constelação de Satélites
Outra tática adotada pela Polícia Federal no combate a crimes ambientais, especificamente na Amazônia, é o uso de uma “constelação de satélites” voltada à captura de imagens da região para posterior análise.
Segundo o delegado, a atividade se deu por meio de uma empresa contratada que possui a tal “constelação de satélites”. As ferramentas capturam imagens diárias da Amazônia em alta resolução, que permitem uma análise fidedigna do território e possíveis intervenções nele.
“De acordo com a característica das imagens, ela identifica locais de desmatamento, corte raso, quando se tira a madeira por completo, desmatamento corte seletivo, quando se tira apenas aquelas árvores mais nobres, desmatamento em razão de garimpo, quando há aquela atividade garimpeira que também devasta a área. Até dragas garimpeiras são identificadas por essas imagens de satélites e focos de incêndio também”, explica.
As imagens são analisadas, em um primeiro momento, pela Inteligência Artificial que, a partir de características das imagens, pode identificar locais de desmatamento, presença de garimpo ilegal e eventuais focos de incêndio.
Com a análise, a IA cria alertas diários que mostram a todos aos agentes onde é preciso concentrar seus esforços.
“Vários órgãos já utilizam essa ferramenta e também e fazem o seu trabalho específico com base nessas imagens do projeto Brasil Mais. Então, há uma integração em torno desses alertas para que a gente possa coibir o que está acontecendo em maior quantidade”, afirma.