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    Playboy 50 anos: histórias por trás das páginas que marcaram época

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    Poucas publicações marcaram mais a história do país do que a Playboy. A revista acompanhou a evolução do Brasil e segue no imaginário popular não apenas pelas belas mulheres que estampavam suas capas e recheavam suas páginas, mas também pelas entrevistas, reportagens e imagens impactantes que continuam marcantes mesmo tantos anos depois.

    Se ainda estivesse em circulação, a Playboy completaria 50 anos de existência no Brasil neste mês de agosto. Para marcar a data, a coluna Fabia Oliveira entrevistou mulheres que fizeram parte das décadas de ouro da publicação e ouviu as histórias por trás de ensaios e fotos que seguem icônicas mesmo após tantos anos.

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    Marcou época

    E quando se fala em foto icônica envolvendo a Playboy, talvez a pessoa mais lembrada seja Adriane Galisteu. A apresentadora de A Fazenda fez seu primeiro ensaio para a revista em 1995 pelas lentes de J.R. Duran. A imagem em que ele aparece se depilando se tornou uma das mais famosas e é lembrada até hoje, mas quase ficou de fora do ensaio.

    “Essa foto, na hora de fazer, eu fiquei um pouco ressabiada”, afirmou Adriane. Na época uma modelo ainda pouco conhecida do grande público, a famosa disse que pensou em cortar a foto, mas que Duran foi taxativo: aquela imagem iria mudar paradigmas.

    E ele estava certo. “O Duran falou: ‘Adriane, faz a foto, você tem o poder de veto’. No dia que eu iria vetar a foto, ele entrou na sala e disse que queria escolher uma foto, e escolheu justamente essa da depilação. Eu quase morro! Eu ia vetar essa foto, ninguém ia ver, e no final das contas foi a foto que fez tudo acontecer”, lembrou.

    O ensaio, comentou Adriane Galisteu, foi feito na Grécia. “A gente mentia e dizia que era pra Vogue para conseguir entrar nos lugares”, riu. “Tenho muito carinho. São muitas lembranças boas. Faria tudo de novo. Lamento não ter mais a Playboy. Não era uma revista de nu só não, era uma revista de conteúdo, de moda, que trazia entrevistas sensacionais. Eu amava”, reforçou.

    Dinheiro

    Ainda na entrevista, a apresentadora afirmou que aceitou fazer seu primeiro ensaio por questões financeiras. “Pensei muito no dinheiro. Precisava muito da grana, depois eu pensei no ensaio, na equipe. Primeiro pensei na minha necessidade, que ia mudar a minha vida, e realmente mudou. Depois veio o orgulho”, explicou.

    A situação foi parecida com a da atriz Cissa Guimarães. Ela posou para a revista em agosto de 1994, aos 34 anos, e também pensou muito no quanto receberia. “Eu tinha sido convidada inúmeras vezes, tinha negado milhões de vezes, e aí chegou uma dada hora em que ou eu comprava o apartamento que eu morava com três filhos ou entregava o imóvel. E aí fiquei desesperada. Por coincidência meu telefone tocou, o Juca Kfouri [diretor da Playboy na época] me fez o convite e eu topei na hora”, comentou.

    Assim como aconteceu com Adriane, a atual apresentadora do Sem Censura, da TV Brasil, foi só elogios para o resultado final – mesmo que não tenha sido nada fácil tirar a roupa para as lentes de Bob Wolfenson, fotógrafo responsável pelo ensaio.

    “Foi muito bonito o ensaio. Eu sou uma atriz que não tenho muito esse estilo sensual. O ensaio foi lindo, mas fiquei muito nervosa. Não foi nada fácil, fiquei extremamente nervosa. O Bob falou que minha cara não estava nada sensual”, brincou.

    “Eu só pensava na minha casa na Gávea”, riu. “Passei o cheque da Abril Cultural pra proprietária direto! Fiz muito insegura, já me achava uma velha com 34 anos, mas foi um sucesso e gostei muito da experiência. Ficou um trabalho digno e muito elegante”, celebrou Cissa.

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    Avisava o pai!

    Se Cissa Guimarães ficou nervosa e insegura ao tirar a roupa, quem tirou de letra os ensaios que fez para a publicação foi a ex-modelo Monique Evans. “O primeiro ensaio eu ainda era modelo, não era conhecida fora do meio da moda. Na época, foi um ensaio super leve, quase não tinha nu. Não fiquei preocupada, porque era comum na época. Não era nada agressivo”, lembrou.

    Monique posou para a Playboy pela primeira vez em 1985, mas acabou estampando capas diversas outras vezes. “Cada vez que eu ia posar, eu tinha que ter um jantar com meu pai, porque os amigos dele ficavam falando que eu era bonita, era gostosa, então eu tinha que preparar ele para o que vinha, era a única preocupação”, brincou a ex-modelo.

    Mas se Adriane Galisteu e Cissa Guimarães faturaram alto com seus respectivos ensaios, Monique afirmou que, com ela, foi um pouco diferente. “Nunca ganhei muito pelos ensaios. Nunca me pagaram uma loucura como falam por aí, sempre foi pouco o cachê, mas fazia porque achava lindo e não me arrependo de nada”, apontou a famosa.

    “Mais do que capa da Playboy”

    Quem também passou pelas páginas da publicação foi a atriz Magda Cotrofe. Sucesso na televisão nos anos 1980, ela estampou três edições da Playboy ao longo dos anos, sendo a primeira delas em 1985. “Foi a primeira capa fotografada pelo J.R. Duran”, lembrou a artista.

    Magda ficou meio reticente ao aceitar fazer seu primeiro ensaio. “Foi no início da minha carreira e não queria rótulos”, disse. Ela negou uma primeira sondagem, mas aceitou num segundo convite. “Pensei bastante, afinal, as capas eram só com pessoas muito famosas, atrizes renomadas”, comentou.

    A famosa lembrou que precisou superar algumas dificuldades na hora de tirar a roupa. “As fotos que foram feitas na natureza ficaram maravilhosas, mas quando me colocaram em um quarto, com várias pessoas da equipe, eu deitada na cama e nua, nossa, passou milhões de coisas na minha cabeça, queria sair correndo, sumir, mas sempre fui muito profissional”, declarou Magda.

    A atriz não se arrependeu do ensaio, mas reforçou que não gosta de ser lembrada apenas por isso. “Não me arrependo porque faz parte da minha trajetória e sucesso. O que não gosto é o lugar que a mídia insiste em querer me manter. Sou muito mais do que capa de Playboy, não procuram saber um pouco mais da Magda Cotrofe”, desabafou.

    Os bastidores que quase ninguém conhece

    Se a Playboy completaria 50 anos no Brasil agora em agosto, é impossível deixar essa data passar em branco — especialmente por quem cresceu, trabalhou e se apaixonou por tudo o que essa revista representou: estética, liberdade, ousadia e, claro, histórias inesquecíveis.

    E por falar em histórias… que tal algumas curiosidades daquelas que quase ninguém sabe, mas que ajudam a entender o tamanho e a influência da revista na cultura pop brasileira?

    1. A Playboy que fez nascer a Xuxa apresentadora infantil

    Parece improvável, mas é verdade: foi a capa da Playboy que abriu o caminho para Xuxa se tornar a Rainha dos Baixinhos. Em dezembro de 1982, ela foi a estrela da edição — e como parte da divulgação, participou de programas de TV. Em uma dessas visitas, encontrou Maurício Shermann, que ficou encantado e a convidou, ali mesmo, para apresentar um programa infantil. No ano seguinte, Xuxa estreava na Manchete com o “Clube da Criança”.

    A ironia? O ensaio que abriu portas acabou virando tabu quando ela se consolidou como apresentadora infantil. O resultado: a revista virou raridade absoluta e, até hoje, é um dos exemplares mais disputados por colecionadores, com valores que podem ultrapassar os R$ 15 mil. E apesar da polêmica, a própria Xuxa cogitou voltar à revista em 2001 após receber um convite— ideia barrada por Marlene Mattos.

    2. Antes de ser Playboy, era “Homem”

    Por conta da censura da época, a revista não chegou ao Brasil com o título original. Durante um tempo, circulou com o nome “Homem”. Mas quando finalmente conseguiu os direitos para usar “Playboy” oficialmente, precisava de uma capa à altura. E quem faria? Betty Faria. Ela entrou para a história como a primeira mulher brasileira a estampar a capa da Playboy com o nome original.

    3. A capa que Susana Vieira jura que teve (mas não teve)

    Susana Vieira costuma dizer que já foi capa da Playboy. Mas a verdade é mais complexa: ela fez, sim, um ensaio com o fotógrafo Tripolli, que foi publicado como recheio na edição de março de 1985 — cuja capa era de Vera Lúcia, a Pantera daquele ano. Muita gente ainda se pergunta por que a revista nunca deu uma capa oficial para Susana, considerando o prestígio da atriz e o sucesso do ensaio. E como é que ela não bateu o pé para estampar a capa? Vai ver naquela época Susana tinha mais paciência com a revista que estava começando e não era tão amada pelos 130 milhões de brasileiros como hoje. O fato é que, atualmente, olhar o tamanho de Susana faz mesmo parecer uma injustiça essa capa não ter acontecido.

    4. A edição 200 que quase foi com Patrícia Pillar

    Em 1992, a Playboy preparava uma bomba para sua 200ª edição. A estrela escolhida? Patrícia Pillar. Tudo pronto, contrato assinado. Mas de última hora, ela desistiu de posar nua. A produção foi pega de surpresa e, às pressas, escalou a modelo Dulce Neves para a capa, que estava longe de ter o mesmo impacto que a atriz. O mistério sobre o motivo da desistência permanece até hoje — mas o fato é que Patrícia sempre esteve no topo das listas de desejos dos leitores.

    5. A capa da Mylla Christie que foi barrada por um vereador escocês

    Pouca gente sabe, mas a Playboy já enfrentou censura até fora do Brasil. Em 1997, a edição de novembro teria um ensaio fotografado em Edimburgo, na Escócia, com a atriz Mylla Christie. Tudo pronto: equipe, locações, cronograma. Mas o boato de que um ensaio nu aconteceria na cidade incomodou um vereador local, que iniciou um protesto formal contra a realização das fotos. O movimento ganhou os jornais e a produção foi obrigada a desistir da Escócia. O ensaio, então, foi remarcado para a Inglaterra, onde finalmente foi realizado e é um dos ensaios mais bonitos de toda a história da revista.

    A Playboy é feita de mulheres incríveis, imagens memoráveis e bastidores tão intensos quanto as páginas que estampava. Contar essas histórias é também celebrar a liberdade, a arte e o impacto cultural que a revista teve (e ainda tem!) em tantas gerações. (Colaborou Franklin David)